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Cinema

- Publicada em 08 de Março de 2018 às 22:53

Penoso reencontro

Hélio Nascimento
Nos dias atuais, quando as coproduções se tornaram quase uma norma, fica cada vez mais difícil classificar um filme por sua nacionalidade, tão diversas são as fontes originárias de recursos e grande o número de artistas e técnicos de vários países envolvidos na realização. Talvez, já que cabe ao diretor, pelo menos no que se refere à construção final da imagem, as decisões definitivas, o melhor caminho para encontrar a nacionalidade de um filme seria destacar o nome de seu realizador. No caso de O filho uruguaio, apesar da revelação presente no título da obra, não seria um erro classificá-lo como filme francês, já que ele vem assinado por Olivier Peyon, que, a se julgar por este trabalho, não possui aquelas virtudes necessárias para sua inclusão entre o grupo dos que têm a capacidade de desenvolver um tema de forma a aproximá-lo de situações reveladoras, aquelas que transformam a realidade registrada em síntese necessária à compreensão de determinados acontecimentos. O filme, que tem locações em Montevidéu e Florida, é mais um a tratar do tema da reconstrução da família desfeita, mas basta apenas a citação de um filme recente, o russo Sem amor, que também trata da busca de uma criança, para que seja percebida a distância que existe entre um criador e um narrador. Peyon sabe contar uma história, mas parece ter esquecido que a família humana não está separada da realidade exterior, pois, além de fazer parte dela, é a sua origem.
Nos dias atuais, quando as coproduções se tornaram quase uma norma, fica cada vez mais difícil classificar um filme por sua nacionalidade, tão diversas são as fontes originárias de recursos e grande o número de artistas e técnicos de vários países envolvidos na realização. Talvez, já que cabe ao diretor, pelo menos no que se refere à construção final da imagem, as decisões definitivas, o melhor caminho para encontrar a nacionalidade de um filme seria destacar o nome de seu realizador. No caso de O filho uruguaio, apesar da revelação presente no título da obra, não seria um erro classificá-lo como filme francês, já que ele vem assinado por Olivier Peyon, que, a se julgar por este trabalho, não possui aquelas virtudes necessárias para sua inclusão entre o grupo dos que têm a capacidade de desenvolver um tema de forma a aproximá-lo de situações reveladoras, aquelas que transformam a realidade registrada em síntese necessária à compreensão de determinados acontecimentos. O filme, que tem locações em Montevidéu e Florida, é mais um a tratar do tema da reconstrução da família desfeita, mas basta apenas a citação de um filme recente, o russo Sem amor, que também trata da busca de uma criança, para que seja percebida a distância que existe entre um criador e um narrador. Peyon sabe contar uma história, mas parece ter esquecido que a família humana não está separada da realidade exterior, pois, além de fazer parte dela, é a sua origem.
Foi em 1985 que o diretor argentino Luiz Puenzo realizou A história oficial, no qual tal tema era desenvolvido de forma a transformar o drama vivido pela protagonista, uma professora que termina se deparando de forma dolorosa com a realidade de seu país, ao desconfiar que a criança por ela criada era filha de vítimas da ditadura. No caso de O filho uruguaio, tudo se concentra no universo familiar. Nada se relaciona ao mundo exterior. O drama vivido pela personagem vivida por Isabelle Carré tem origem na atitude do pai do menino que sequestrou o filho e o levou para o Uruguai, onde a criança cresce acreditando que a mãe francesa está morta. O empenho da protagonista em encontrar o filho se mescla a um drama ainda maior: recuperar um afeto que se encontra limitado a visitas ao cemitério, onde o menino orna com flores um túmulo simbólico. Um drama como este merecia muito mais do que Peyon oferece ao espectador. Ele, sem dúvida, deixa escapar inúmeras sugestões e prefere se expressar através de superficialidades, como aquele relacionamento entre o menino e o assistente social. A aproximação entre os dois, numa cena precariamente encenada e difícil de ser aceita, é bastante artificial e mesmo constrangedora. De um momento para outro, o estranho se torna íntimo das crianças e, a seguir, se apresentando como turista, ganha imediata simpatia da avó e da tia do garoto.
Certamente, um cineasta de imaginação superior saberia ver em certas cenas sugestões que, desenvolvidas com criatividade, dariam força ao filme. Uma dessas sugestões desperdiçadas é a do encontro no cemitério, o ressurgimento da mãe do mundo dos mortos, cena construída de forma a praticamente ignorar suas potencialidades. Mas seria injusto esquecer o veículo utilizado pelo assistente social em suas andanças pela cidade. O carro se move, mas seu aspecto e sua precariedade parecem simbolizar um mundo em crise e decadência, em busca de recuperação. No epílogo, o cineasta não consegue escapar da superficialidade. A figura materna é vista em todo o filme como uma personalidade agressiva e mesmo emocionalmente descontrolada. Assim, o toque de compreensão e humanismo que surge nas cenas finais é difícil de ser aceito. É algo, por sinal, que o menino parece perceber, através de um olhar e de uma atitude que evidenciam resistência diante da nova situação. O filme de Peyon é mais um a excluir das imagens aqueles elementos que o tornariam peça relevante e também essencial. Assim como está, é mais um limitado pelo desinteresse de olhar para o mundo e pela incapacidade de captar em cada indivíduo as dores e os ressentimentos causados pelas distorções e as impiedades.
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