Em meio a apelos por um maior controle de armas nos EUA após o ataque a tiros que deixou 17 mortos em uma escola da Flórida, o presidente Donald Trump decidiu pedir a criação de regras para proibir a venda de dispositivos que "turbinam" armas comuns. Esses equipamentos, chamados de "bump stocks", foram usados pelo atirador de Las Vegas, que matou 58 pessoas no maior massacre a tiros da história dos EUA, em outubro passado. O dispositivo permite o disparo mais rápido de balas, emulando um artefato automático.
Nenhum "bump stock", porém, foi usado no massacre da Flórida, em que um adolescente de 19 anos invadiu a escola com um rifle semiautomático AR-15, comprado de forma legal. Ainda assim, Trump afirmou que está tomando medidas "que funcionam de verdade" e que não se limitam a "clichês do passado".
A iniciativa foi anunciada no rastro de uma pesquisa nacional, a qual apontou que mais da metade dos norte-americanos (58%) acredita que o massacre no colégio poderia ter sido evitado com maior controle de armas - ecoando os apelos diários desde então de centenas de alunos e sobreviventes.
Trump afirmou ter pedido uma análise sobre a legalidade dos "bump stocks" ao Departamento de Justiça ainda no ano passado. Na terça-feira, por meio de um memorando, ordenou ao secretário de Justiça, Jeff Sessions, que proponha regulações para banir o uso dos dispositivos. As novas regras devem ficar prontas "muito em breve", segundo o presidente.
Apesar desse alarde em relação aos turbinadores, o republicano não mencionou a possibilidade de aumentar a idade mínima para a compra de rifles semiautomáticos, como pedem alguns manifestantes, nem detalhou como tornaria mais rígida a checagem de antecedentes de potenciais compradores - ação à qual se mostrou favorável na véspera.
Na terça-feira, estudantes de Ensino Médio de Parkland, onde ocorreu o massacre, viajaram à capital da Flórida, Tallahassee, para pressionar a Assembleia Legislativa a aprovar leis que restrinjam a venda de armas de fogo. Emma Gonzales, estudante da Marjory Soneman Douglas High School, estava no auditório da escola e pensou que o barulho dos tiros fosse de alguma reforma até os responsáveis mandarem todos correrem. Emma tem feito os discursos e está sendo saudada como ícone e líder na luta pelo controle de armas.
Os estudantes também planejam uma outra manifestação, desta vez em Washington, para o dia 24 de março, e que é chamada de "Marcha por Nossas Vidas". Celebridades como Justin Bieber, Lady Gaga e Cher têm demonstrado apoio. O ator George Clooney e sua esposa, Amal, anunciaram que, em nome de seus filhos gêmeos, vão doar US$ 500 mil à marcha e que caminharão ao lado dos estudantes.
Controle sobre armamentos é alvo de grande divisão no país, mostra pesquisa
Nos Estados Unidos, a posse de armas é garantida pela Segunda Emenda da Constituição. No entanto, pouco menos da metade dos norte-americanos possui uma arma em casa, segundo pesquisas dos institutos Gallup e Pew Research Center de 2017. A maioria diz ter comprado o armamento para proteção pessoal, enquanto outros a usam para caça, e um terço como esporte.
Um levantamento feito nos dias seguintes ao massacre na Flórida demonstrou um pequeno aumento no número de norte-americanos que consideram que o controle mais estrito de armas pode impedir grandes ataques a tiros: o percentual passou de 23%, em 2015, para 28% neste ano. Mas a maioria dos entrevistados afirma que questões de saúde mental são a principal causa dos massacres: 57%. E 42% deles defendem que os professores carreguem armas para responder a incidentes nas salas de aula.
A opinião do público sobre armas semiautomáticas, como a que foi usada na escola, também não parece ter sido afetada pelos sucessivos massacres. Apenas 50% defendem o banimento desse tipo de armamento no país - em 1994, esse percentual era de 80%.
Para a pesquisa - feita pelo jornal The Washington Post e pela rede NBC News -, foram entrevistados 808 adultos entre 15 e 18 de fevereiro - o massacre na Flórida ocorreu no dia 14. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.