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Cultura popular

- Publicada em 25 de Fevereiro de 2018 às 21:39

Carnaval de Porto Alegre nunca havia sido cancelado

Celebração envolve questões culturais e étnicas, segundo antropóloga

Celebração envolve questões culturais e étnicas, segundo antropóloga


ACERVO MUSEU JOAQUIM FELIZARDO/DIVULGAÇÃO/JC
Mesmo com poucos recursos, o Carnaval de Porto Alegre sempre foi feito. Essa é a constatação de Ulisses Correa Duarte, antropólogo e pesquisador de cultura popular, que relata que, até 2011, a festa recebeu investimentos, através de leis de incentivo, mas, depois, ingressou em um momento de enfraquecimento, que vive seu auge hoje em dia. "No ano passado, (o desfile) já aconteceu fora de época, pela primeira vez na história da festa em Porto Alegre, mas, com o esforço das escolas e de alguns investidores, acabou ocorrendo", recorda.
Mesmo com poucos recursos, o Carnaval de Porto Alegre sempre foi feito. Essa é a constatação de Ulisses Correa Duarte, antropólogo e pesquisador de cultura popular, que relata que, até 2011, a festa recebeu investimentos, através de leis de incentivo, mas, depois, ingressou em um momento de enfraquecimento, que vive seu auge hoje em dia. "No ano passado, (o desfile) já aconteceu fora de época, pela primeira vez na história da festa em Porto Alegre, mas, com o esforço das escolas e de alguns investidores, acabou ocorrendo", recorda.
Segundo Duarte, esta é a primeira vez na história, desde o início dos desfiles competitivos, que o Carnaval porto-alegrense é cancelado. "Os desfiles competitivos começaram em torno da década de 1960 e, a partir disso, sempre aconteceram na data do feriado carnavalesco", conta.
No ano passado, a mudança de data dos desfiles na cidade se deu como uma tentativa de atrair mão de obra do Centro do País, para fazer as alegorias e as fantasias, como já acontece, por exemplo, em Uruguaiana. "Infelizmente, não conseguimos avaliar se funcionou para Porto Alegre, porque não houve continuidade", lamenta o pesquisador. Para ele, o cancelamento demonstra que o Carnaval vive um período de crise e de conflito muito grande, especialmente entre dirigentes das escolas de samba e prefeitura municipal.
Em Porto Alegre, mais do que no restante do Brasil, o Carnaval é representativo para as comunidades negras e periféricas, conforme Duarte. "No Brasil, representa mais a miscigenação e a cultura nacional. Aqui, representa um nicho da população, para o qual o Carnaval é de extrema importância, apesar de a festa não ser tão visível para o resto da população", afirma.
O pesquisador considera que boa parte da cidade - em geral, a classe média - pouco valoriza a celebração. Os motivos são "uma certa rivalidade entre a cultura regional do Rio Grande do Sul com o Carnaval" - na qual os símbolos regionais se sobrepõem aos nacionais - e a invisibilidade do negro no Estado. De acordo com as pesquisas de Duarte, os desfiles de escolas de samba, em todo o Brasil, sempre ocorreram atrelados ao poder público. "Não existe experiência de espetáculo carnavalesco que sobreviva só de verba privada, mesmo no Rio de Janeiro", ressalta.

Apoio municipal existia desde os anos 1970

Entre blocos e as escolas de samba, desde os anos 1970, Porto Alegre conta com apoio municipal em seu Carnaval. O poder público abraçou a festa popular pela primeira vez durante o governo de Guilherme Socias Villela (1975-1983), que, na época, normatizou o Carnaval, acabando com alguns blocos humorísticos e fortalecendo os desfiles de escolas de samba.
Segundo a antropóloga e fundadora do bloco Não mexe comigo que eu não ando só, Luciana de Mello, o não acontecimento de Carnaval competitivo em 2018 na Capital envolve questões culturais e étnicas, uma vez que se trata de uma festa de tradição negra. "A história do Carnaval e sua localização geográfica têm a ver com a noção de uma cidade para poucos. A colônia africana e o pessoal da Ilhota já haviam sido removidos para o meio do nada, e o deslocamento dos desfiles para a Zona Norte, no Complexo Cultural Porto Seco, repetiu a mesma coisa", avalia, lembrando que, além de uma festa, o Carnaval virou uma fonte de trabalho e renda para muitas famílias.
Veridiana Silva, presidente da Mocidade Independente da Lomba do Pinheiro, considera que a interrupção faz com que as escolas percam o ânimo de seguir com suas atividades. "Trabalhamos dentro da comunidade o ano todo, com pouco recurso, então é muito triste que o Carnaval não saia. Temos oficinas que duram o ano inteiro, e, se o desfile não acontece, não conseguimos trabalhar, porque as pessoas se desmobilizam", explica. Na opinião da carnavalesca, falta organização na Liga das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa), no sentido de promover projetos sociais e culturais e ir em busca de patrocínios. A expectativa é que a gestão da entidade seja trocada em breve. "Os blocos estão bem mais organizados do que o Carnaval das escolas", opina Veridiana.