Porto Alegre está ficando mais distante de outras capitais no que se refere ao tamanho da malha aérea que liga a capital do Rio Grande do Sul a outras grandes metrópoles. Em cinco anos, entre 2013 e 2017, segundo dados Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram realizados cerca de 4 mil voos a menos tendo como origem o aeroporto Salgado Filho. Foram 34 mil voos regulares domésticos e internacionais partindo da cidade, ante cerca de 30 mil em 2017, uma redução de cerca de 10%.
A desaceleração não é um caso isolado de Porto Alegre e ocorreu também em cidades como Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG). De acordo com a Anac, em 2016, o setor apresentou sua primeira redução em 10 anos, com queda de 5,7% no número de passageiros/quilômetros pagos transportados. E, ao que tudo indica, a redução deve aparecer também nos dados de 2017, que ainda estão sendo compilados.
Mas, de acordo com a Fraport, que hoje gerencia o aeroporto Salgado Filho, estão previstos, para este ano, dois novos voos. A Copa Airlines deverá iniciar, no dia 20 de fevereiro, quatro frequências adicionais internacionais por semana para a Cidade do Panamá, com conexão para América do Norte, América Central e Caribe. E a Aerolíneas Argentinas inicia, a partir de 3 abril, novo voo diário para o aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires.
Em Porto Alegre, empresários do setor de hotelaria, turismo e eventos, no entanto, lamentam o fim de operações ocorridas nos últimos anos, especialmente no caso de ligações diretas que partiam da capital gaúcha para diferentes destinos. O mais recente exemplo desse "descolamento" aéreo da cidade foi o cancelamento do rota direta entre a capital gaúcha e Florianópolis, pela Gol, a partir do dia 24 de março. O fim da operação trouxe à tona o fato de que a conexão sem paradas, que já chegou a ser oferecida por quatro companhias, agora passará a ser feita apenas pela Azul. A Latam, por exemplo, já havia encerrado o voo direto entre as duas cidades em 2013.
João Augusto Machado, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS), lamenta as limitações aéreas na cidade, e avalia que o cenário pode desestimular viagens. "Claro que isso afeta bastante o mercado, tanto para sairmos de Porto Alegre quanto para recebermos pessoas de fora. Hoje, por exemplo, temos apenas um voo diário para a Argentina. Em feriados e datas especiais, isso é um problema, como foi no jogo do Grêmio na Argentina, no ano passado", exemplifica Machado.
O executivo pondera que a questão depende de um delicado equilíbrio financeiro. "Passagens mais baratas estimulam viagens, mas podem não ser viáveis para a companhia. E passagens mais caras afastam os interessados", diz o executivo da Abav.
O caso da conexão direta entre Porto Alegre e Florianópolis, lembra Machado, tem impacto, por exemplo, no turismo de lazer e de negócios. Presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky diz que as reduções são pontuais e podem ser revistas pelas companhias futuramente.
A boa notícia é que a Azul, que segue na rota direta, afirma que, com a retirada da concorrente desse mercado, poderá ampliar a oferta colocando aviões maiores para voar neste trecho. "Poderemos promover uma troca de aeronave, para um modelo maior, com capacidade para 174 clientes. Hoje, a capacidade é de 118 passageiros", antecipa Daniel Tkacz, diretor de planejamento de malha da Azul.
O executivo ressalta, ainda, que a companhia tem inclusive ampliado a aposta no Estado, com voos regionais. Recentemente a empresa começou a operar a rota Porto Alegre-Santo Ângelo. Além disso, a companhia tem ligações históricas com a cidade. "Porto Alegre foi, junto com Campinas, a cidade onde a Azul fez sua estreia, e estamos muito satisfeitos com o retorno", ressalta Tkacz.
Sobre rumores e temores de que a empresa pudesse parar de operar a rota entre Porto Alegre e Montevidéu, o executivo garante que não há essa possibilidade. Inclusive, diz Tkacz, a companhia opera com voos específicos para além da capital uruguaia no período de verão, com ligação direta do Rio Grande do Sul a Punta del Este.
Voos na Capital gaúcha
Atualmente, em Porto Alegre, estão vigentes em média 200 voos regulares diários e 1.400 voos semanais. Desse total, 74 frequências semanais em média são internacionais.
Ao todo, em média, 25 destinos são atendidos, sendo 6 internacionais regulares.
Rotas da Capital para cidades do Interior devem 'decolar' em 2018
Santo Ângelo já recebe aviões da Azul, assim como Uruguaiana
/DANI BARCELLOS/PALÁCIO PIRATINI/JC
Na contramão dos voos domésticos nacionais, que vêm sofrendo reduções nas saídas, os voos regionais no Rio Grande do Sul têm avançado, mas ainda precisam se consolidar. Para o presidente do Porto Alegre e Região Metropolitana Convention&Visitors Bureau, Maurício Cavichion, Porto Alegre é uma capital que está bem servida com voos diretos para as principais cidades, como São Paulo, Brasília e Campinas, e também com ligações internacionais para a Europa, Estados Unidos, Argentina e Paraguai, que recentemente recebeu um voo direto da companhia Amaszonas.
"O que precisa melhorar são os voos do interior do Estado. Temos duas companhias que estão pleiteando a ampliação de sua malha aérea nesse sentido. A própria Gol está em tratativas com a Anac para novas linhas no interior do Estado, e isso é muito bom", diz Cavichion.
Na semana passada, o governo do Estado divulgou que a Gol estaria para iniciar cinco novas rotas para o interior do Rio Grande do Sul ainda em março (Bagé, Passo Fundo, Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Rivera/Santana do Livramento). A companhia, porém, divulga que apenas está estudando a possibilidade de, em parceria com a empresa de táxi aéreo Two Flex, implantar voos saindo de Porto Alegre para algumas cidades do Estado. Seguiria, assim, o caminho já traçado pela Azul, que opera voos para cidades como Uruguaiana e Santo Ângelo.
Mas o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS), João Augusto Machado, se diz reticente quanto à viabilidade desses voos, pelo custo e pela demanda. "No Carnaval, tivemos um voo de Caxias do Sul para Campinas partindo com apenas cerca de 25 pessoas. Imagina o custo de um avião levantar quase vazio", ressalta Machado.