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Cinema

- Publicada em 25 de Fevereiro de 2018 às 15:49

Em busca da perfeição

As referências que compõem parte expressiva da narrativa de Trama fantasma, o novo filme de Paul Thomas Anderson, não chegam a se constituir no ponto principal da obra, outro trabalho formalmente sólido do cineasta. O filme, que tem como protagonista um figurinista famoso, que nos anos cinquenta do século passado atua em Londres e tem imenso prestígio junto à aristocracia e mesmo entre integrantes da família real, é mais um título vigoroso numa filmografia que se destaca por buscar um caminho distante da vulgaridade e das concessões. O filme, talvez ambicioso em demasia e correndo o risco de ser definido como pretensioso, não deixa de possuir certa originalidade. O mundo da moda já foi observado antes por outros cineastas, mas agora ele serve de cenário para um drama no qual temas como o da tentativa de criar algo tão belo como perfeito e o da luta por manter a integridade artística, num universo dominado por um processo destinado a tudo diluir e deformar, são desenvolvidos de forma a ultrapassar os limites impostos pelas leis da aparência. O cineasta, também o autor do roteiro, procura realçar no comportamento de seus personagens diversas linhas de ação que formam um quadro revelador de conflitos, agressividades nem sempre contidas, choques com um passado por vezes transformado em tirania e desejos não concretizados. Para compor tal painel, o realizador recorre a uma memória cinematográfica na qual a fonte principal são filmes de Alfred Hitchcock.
As referências que compõem parte expressiva da narrativa de Trama fantasma, o novo filme de Paul Thomas Anderson, não chegam a se constituir no ponto principal da obra, outro trabalho formalmente sólido do cineasta. O filme, que tem como protagonista um figurinista famoso, que nos anos cinquenta do século passado atua em Londres e tem imenso prestígio junto à aristocracia e mesmo entre integrantes da família real, é mais um título vigoroso numa filmografia que se destaca por buscar um caminho distante da vulgaridade e das concessões. O filme, talvez ambicioso em demasia e correndo o risco de ser definido como pretensioso, não deixa de possuir certa originalidade. O mundo da moda já foi observado antes por outros cineastas, mas agora ele serve de cenário para um drama no qual temas como o da tentativa de criar algo tão belo como perfeito e o da luta por manter a integridade artística, num universo dominado por um processo destinado a tudo diluir e deformar, são desenvolvidos de forma a ultrapassar os limites impostos pelas leis da aparência. O cineasta, também o autor do roteiro, procura realçar no comportamento de seus personagens diversas linhas de ação que formam um quadro revelador de conflitos, agressividades nem sempre contidas, choques com um passado por vezes transformado em tirania e desejos não concretizados. Para compor tal painel, o realizador recorre a uma memória cinematográfica na qual a fonte principal são filmes de Alfred Hitchcock.
Em primeiro lugar não há como deixar de ver no desenrolar da ação as citações a Rebeca, o primeiro filme que o mestre lembrado realizou nos Estados Unidos. A personagem da irmã do protagonista, vivida por Lesley Manville, é claramente inspirada pela governanta interpretada por Judith Anderson naquele clássico. No filme de Anderson a irmã é a substituta da figura materna em cena. É ela que representa a mãe morta e também o autoritarismo que comanda as ações de Reynolds Woodcock. De alguma maneira, esta irmã responsável pela disciplina na casa e no atelier do protagonista também descende de outra mãe célebre, a de Os pássaros, interpretada por Jessica Tandy. A jovem que fascina o protagonista, chama-se Alma, o mesmo nome de uma personagem que em A tortura do silêncio permitiu a Hitchcock a criação de uma de suas grandes cenas, aquela da igreja vazia. Não se trata de um nome comum em países de língua inglesa e certamente sua utilização não facilitará a compreensão do papel de tal figura para espectadores americanos e britânicos. Mas é este o papel representado pela garçonete que fascina o personagem principal. Ela é a força que deflagra a ação de resistência diante do abastardamento da arte. Este tema é exposto de forma bastante clara na sequência em que uma das clientes do protagonista é retirada de uma cerimônia, antes de Reynolds recuperar sua obra.
Na personagem vivida pela atriz Vicky Krieps, o cineasta concentra os principais focos de resistência. No conflito com a irmã-mãe do protagonista ela representa a estranha que abala o relacionamento edipiano. Mas ela também atua como alguém em busca do domínio, como está expresso na fala que antecede os minutos finais do filme. O epílogo é surpreendente ao trocar o caminho previsto por um trecho muito bem narrado e que parece antecipar o destino do personagem de Daniel Day-Lewis, antes que numa espécie de sonho concretizado, no qual os fantasmas são expulsos, o equilíbrio é alcançado. Mas são muitos os temas tratados, assim como o número de compositores utilizados na faixa sonora, um painel de épocas e estilos. Anderson se aproxima de situações reveladoras de angústias, empregando de forma correta imagem e som, mas o filme parece acumular dados de forma a fazer a ação perder força. E o trecho marcado pela ironia - não faltando mesmo o carrinho do bebê - faz com que a última imagem adquira um significado no mínimo dúbio. Mas o quadro geral, que expõe de forma latente o dilema de um artista oprimido pelo cotidiano e por elementos deformadores, não deixa de ser merecedor de atenção, até para que alguns exageros sejam apontados e certos méritos ressaltados.
 
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