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Cinema

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2018 às 22:26

Momento de decisão

O britânico Martin McDonagh abre a narrativa deste admirável Três anúncios para um crime utilizando, na faixa sonora, a canção irlandesa A última rosa do verão, de Thomas More - e a versão, interpretada por Renee Fleming, valoriza ainda mais a peça utilizada para expor a temática central da obra. A referência não se relaciona à protagonista do filme, vivida com o vigor e a classe de sempre por Frances McDormand, pois procura expressar, desde o início, a busca que o filme faz dos derradeiros, mas ainda visíveis, sinais de humanismo num mundo tumultuado pela irracionalidade e pelo ódio. McDonagh, que também é homem de teatro e, em tal atividade, acumula prestígio e prêmios no Reino Unido, já salientou ele próprio a presença em seus filmes e peças de "um desejo de humanidade". É esta a temática central de seu filme, que não esconde a brutalidade e a violência, mas organiza uma espécie de contraponto, no qual tal desejo é visível na figura da personagem central e também no xerife acusado de negligência nos cartazes expostos pela mãe movida pelo ódio, depois do assassinato da filha. O realizador, que também é o autor do roteiro, teve a inspiração para o filme ao ficar impressionado com a violência verbal de cartazes que ele havia visto, durante uma viagem pelos Estados Unidos, contra a polícia norte-americana. Há oito anos, então, ele começou a escrever a história que depois se transformou em filme.
O britânico Martin McDonagh abre a narrativa deste admirável Três anúncios para um crime utilizando, na faixa sonora, a canção irlandesa A última rosa do verão, de Thomas More - e a versão, interpretada por Renee Fleming, valoriza ainda mais a peça utilizada para expor a temática central da obra. A referência não se relaciona à protagonista do filme, vivida com o vigor e a classe de sempre por Frances McDormand, pois procura expressar, desde o início, a busca que o filme faz dos derradeiros, mas ainda visíveis, sinais de humanismo num mundo tumultuado pela irracionalidade e pelo ódio. McDonagh, que também é homem de teatro e, em tal atividade, acumula prestígio e prêmios no Reino Unido, já salientou ele próprio a presença em seus filmes e peças de "um desejo de humanidade". É esta a temática central de seu filme, que não esconde a brutalidade e a violência, mas organiza uma espécie de contraponto, no qual tal desejo é visível na figura da personagem central e também no xerife acusado de negligência nos cartazes expostos pela mãe movida pelo ódio, depois do assassinato da filha. O realizador, que também é o autor do roteiro, teve a inspiração para o filme ao ficar impressionado com a violência verbal de cartazes que ele havia visto, durante uma viagem pelos Estados Unidos, contra a polícia norte-americana. Há oito anos, então, ele começou a escrever a história que depois se transformou em filme.
Nos últimos anos, o horror contemplado por alguns realizadores os tem levado a conclusões apressadas e quase sempre ingênuas. Esta variação do politicamente correto é resultado e um desejo de harmonia, e costuma resultar numa visão superficial da realidade. McDonagh não cai em tal armadilha. A protagonista de seu filme não é propriamente uma heroína empunhando a bandeira da justiça. Há uma cena bastante reveladora e que coloca em cena a questão básica. A luta de Mildred Hayes não é apenas contra todo um sistema legal que impede a ação policial depois que a mais terrível das brutalidades é cometida contra uma jovem. A luta da protagonista também é uma tentativa de reparação de seus próprios erros. Trata-se de um conflito que não é limitado por uma ira justificável diante do horror. A cena em questão é da discussão familiar que antecede o crime, a primeira no filme a mostrar um quadro familiar tumultuado. Tal temática será depois ampliada pelos conflitos com o filho e pelo surgimento em cena do marido e sua nova companheira, quando então o realizador permite que o clima tenso da narrativa seja tangenciado pelo humor, algo que acentua, através de outros meios, as imperfeições do mundo no qual vivem os personagens.
A sequência em que a personagem principal é interrogada pelo xerife se conclui com uma espécie de ligação entre as duas figuras, algo que depois será confirmado numa das mensagens que formam um ponto do qual o filme parece partir para um novo rumo, aquele que o levará para um final que escapa do previsível e parece chamar a atenção do público para os perigos das simplificações e das precipitações. Uma das virtudes do filme é esta maneira como ele surpreende o espectador. Sem alterar a realidade que a câmera mecanicamente registra, ele, por vezes, causa um impacto raro e ousa em seu epílogo transferir a solução para o espectador, que terá a tarefa de colocar o ponto final na história. Mas o mais importante de tudo é que o filme - que por vezes parece uma mescla de Peckinpah e Eastwood - não desiste de preservar esta rosa agonizante. O cineasta não tem receio de acompanhar a evolução de um personagem desde a truculência até uma forma de comportamento no qual a dúvida exerce papel relevante e as cicatrizes são o símbolo dos danos do extremismo. E, ao colocar essas duas figuras juntas na mesma estrada e no mesmo rumo, McDonagh está falando ao público sobre a dualidade que compõe o humano. As opções estão colocadas: cabe a quem está no cinema como espectador escolher o caminho certo. Várias vezes, o filme focaliza o local do crime. É para que não seja esquecido o cenário no qual o desumano se impôs, causando depois o ódio, que a lucidez terá o dever de controlar e combater.
 
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