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Cinema

- Publicada em 11 de Fevereiro de 2018 às 15:20

Desaparecido

O russo Andrei Zvyagintsev, o mesmo realizador de Leviathan, volta a concorrer ao Oscar de filme estrangeiro com este impressionante Sem amor, um filme dotado de rara dramaticidade e, sem exagero algum, um dos maiores dos últimos anos. Numa fase de infantilização de grande parte da produção cinematográfica, num período em que, não apenas no cinema, o público adulto tem sido tratado como se estivesse estacionado numa fase em que a compreensão do mundo se torna difícil, devido a informações ainda incompletas, um filme como este não deixa de ser uma raridade. Obras dedicadas a crianças e jovens sempre foram armas utilizadas pela indústria cinematográfica na saudável e indispensável tarefa de criar novas plateias. O que assusta são as simplificações e as superficialidades atualmente colocadas em prática na tentativa de afastar as plateias adultas de temas essenciais. O claro objetivo de esconder causas e valorizar efeitos não se limita ao cinema. Tal empenho é bastante visível em outras artes e nos meios de comunicação. Salvo as honrosas exceções de sempre. Tais exceções, cada vez mais raras, são focos de resistência diante do avanço de uma mediocridade que parece aumentar a cada dia. A argumentação diante de tal avalanche é quase impossível, pois o que costuma acontecer é o surgimento de agressões que desconhecem o essencial: o verdadeiramente novo não é contaminado pela diluição e pelas concessões ao já construído, e sim pela procura do inédito e pela busca de propostas que exigem atitudes movidas pela curiosidade diante das inovações. Permanecer no passado, em vez de admirá-lo, será sempre uma atitude reacionária. Avançar é participar de inovações. Mas estas derivam, necessariamente, da coragem e da ousadia. Sem amor é um filme inovador por propor um olhar para a crise afastado das superficialidades e buscar as causas de uma crise no cenário principal, aquele da família humana.
O russo Andrei Zvyagintsev, o mesmo realizador de Leviathan, volta a concorrer ao Oscar de filme estrangeiro com este impressionante Sem amor, um filme dotado de rara dramaticidade e, sem exagero algum, um dos maiores dos últimos anos. Numa fase de infantilização de grande parte da produção cinematográfica, num período em que, não apenas no cinema, o público adulto tem sido tratado como se estivesse estacionado numa fase em que a compreensão do mundo se torna difícil, devido a informações ainda incompletas, um filme como este não deixa de ser uma raridade. Obras dedicadas a crianças e jovens sempre foram armas utilizadas pela indústria cinematográfica na saudável e indispensável tarefa de criar novas plateias. O que assusta são as simplificações e as superficialidades atualmente colocadas em prática na tentativa de afastar as plateias adultas de temas essenciais. O claro objetivo de esconder causas e valorizar efeitos não se limita ao cinema. Tal empenho é bastante visível em outras artes e nos meios de comunicação. Salvo as honrosas exceções de sempre. Tais exceções, cada vez mais raras, são focos de resistência diante do avanço de uma mediocridade que parece aumentar a cada dia. A argumentação diante de tal avalanche é quase impossível, pois o que costuma acontecer é o surgimento de agressões que desconhecem o essencial: o verdadeiramente novo não é contaminado pela diluição e pelas concessões ao já construído, e sim pela procura do inédito e pela busca de propostas que exigem atitudes movidas pela curiosidade diante das inovações. Permanecer no passado, em vez de admirá-lo, será sempre uma atitude reacionária. Avançar é participar de inovações. Mas estas derivam, necessariamente, da coragem e da ousadia. Sem amor é um filme inovador por propor um olhar para a crise afastado das superficialidades e buscar as causas de uma crise no cenário principal, aquele da família humana.
O real é o elemento principal para Zvyagintsev. Na cena final, por exemplo, as letras formam, na camisa da protagonista, o nome do país, um dos sobreviventes da união política desfeita. E surgem de maneira a serem claramente percebidas pelo público externo, como se o cineasta estivesse procurando uma comunicação mais ampla do que aquela que lhe permitiria falar apenas para a plateia russa. Fica claro, então, que os personagens representam dilemas não resolvidos por propostas que ambicionavam um mundo regido pela racionalidade, um processo que culminou com a reinstalação de uma ordem afastada. É neste mundo restabelecido que transcorre a ação do filme, que, além do sofrimento e do esforço, também registra uma espécie de pedido de socorro, uma mensagem sem resposta que surge numa das primeiras cenas e reaparece no epílogo da narrativa. Os sinais de infelicidade e desespero estão presentes em toda a ação, representados pela dependência dos celulares e pela fria e distante comunicação entre seres humanos, como no diálogo entre pai e filha pela internet.
Aqueles que procuram no filme apenas uma crítica à atualidade russa esquecem uma cena fundamental: aquela da visita à velha mãe, símbolo evidente de um passado comandado pelo autoritarismo e a opressão. A personagem chega mesmo a ser definida como uma caricatura de Stalin e assim aparece no filme, num cenário revelador de seu papel na história. O cenário, aliás, é utilizado com precisão reveladora. Algumas cenas, como a da procura do menino em um prédio abandonado, são bastante eloquentes. E há, também, o ódio sentido pelo casal desfeito. Alguns trechos chegam a lembrar momentos da filmografia de Ingmar Bergman. E aquele movimento de câmera que se conclui na prisão da criança que implora por uma presença humana, depois de praticamente jogada numa jaula, de certa forma, resume a temática da obra. Talvez o cineasta tenha visto Rastros de ódio, de John Ford, filme que também trata de uma procura por um ser humano desaparecido. Mas aqui não há a rendição da desumanidade diante da família. Não existe um abraço fraterno e sim um grito de desespero, num mundo em que o indivíduo parece ter se tornado peça sem importância.
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