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Cinema

- Publicada em 04 de Fevereiro de 2018 às 18:39

Filme B valorizado

Hélio Nascimento
Nas décadas de 1940 e 1950, o cinema norte-americano trouxe para as telas e fascinou, assim, um grande número de espectadores - sobretudo os de pouca idade e reduzido interesse por aqueles aspectos relacionados à linguagem cinematográfica e à sua relevância cultural, como criaturas fantásticas vindas do espaço exterior, das entranhas da terra e também dos mares, rios e lagoas. A grande maioria da crítica da época viu em tais filmes a redução simbólica dos conflitos da assim chamada Guerra Fria. Mas tais filmes não eram apenas reflexos de medos de um ataque praticado por uma potência inimiga. Eram, também, a exteriorização de receios e fantasias não devidamente elaborados, respostas assustadoras para perguntas que tentavam lançar luzes sobre espaços escuros e desconhecidos. Eram filmes maltratados pelos críticos, com algumas exceções, como A guerra dos mundos, dirigido por Byron Haskin em 1953, e Mundo em perigo, realizado por Gordon Douglas em 1954. Essas duas produções foram realizadas com amplos recursos, mas havia também os chamados filmes B, produzidos com orçamento pequeno e com efeitos especiais bastante precários. Nesse último espaço se destacou o diretor Jack Arnold, que, em 1957, conseguiu ultrapassar os limites impostos pela falta de meios, para realizar um filme fascinante, adaptado de um romance de Richard Matheson, O incrível homem que encolheu. Antes disso, em 1954, Arnold teve de suportar ironias quando chegou às telas O monstro da lagoa negra, filme que, quando criança, Guillermo Del Toro assistiu fascinado. A forma da água, vencedor do Festival de Veneza e sério candidato ao Oscar, é o resultado desse entusiasmo infantil pelo cinema.
Nas décadas de 1940 e 1950, o cinema norte-americano trouxe para as telas e fascinou, assim, um grande número de espectadores - sobretudo os de pouca idade e reduzido interesse por aqueles aspectos relacionados à linguagem cinematográfica e à sua relevância cultural, como criaturas fantásticas vindas do espaço exterior, das entranhas da terra e também dos mares, rios e lagoas. A grande maioria da crítica da época viu em tais filmes a redução simbólica dos conflitos da assim chamada Guerra Fria. Mas tais filmes não eram apenas reflexos de medos de um ataque praticado por uma potência inimiga. Eram, também, a exteriorização de receios e fantasias não devidamente elaborados, respostas assustadoras para perguntas que tentavam lançar luzes sobre espaços escuros e desconhecidos. Eram filmes maltratados pelos críticos, com algumas exceções, como A guerra dos mundos, dirigido por Byron Haskin em 1953, e Mundo em perigo, realizado por Gordon Douglas em 1954. Essas duas produções foram realizadas com amplos recursos, mas havia também os chamados filmes B, produzidos com orçamento pequeno e com efeitos especiais bastante precários. Nesse último espaço se destacou o diretor Jack Arnold, que, em 1957, conseguiu ultrapassar os limites impostos pela falta de meios, para realizar um filme fascinante, adaptado de um romance de Richard Matheson, O incrível homem que encolheu. Antes disso, em 1954, Arnold teve de suportar ironias quando chegou às telas O monstro da lagoa negra, filme que, quando criança, Guillermo Del Toro assistiu fascinado. A forma da água, vencedor do Festival de Veneza e sério candidato ao Oscar, é o resultado desse entusiasmo infantil pelo cinema.
O fato de um filme como este ter vencido um festival que é uma das três mostras cinematográficas mais importantes e estar presente numa festa que, apesar de trapalhadas, injustiças e omissões, tem seu valor como instrumento de divulgação do cinema é uma evidência de que as alterações nos critérios de avaliação sofreram modificações reveladoras de um processo no qual a diluição exerceu papel importante. Aqui não se trata da valorização de trabalhos de alguns mestres antes desprezados, e sim da colocação em destaque de outros métodos de contemplar a realidade. Del Toro, um dos três mexicanos que conseguiram espaço no cinema norte-americano - os outros dois são Alejandro González Iñárritu e Alfonso Cuarón - é aquele que escolheu o gênero da fantasia para expressar sua visão de mundo. Nesta espécie de parte dois do filme de Arnold, ele procura, antes de mais nada, alterar o relacionamento entre a protagonista e a criatura, que, agora, é prisioneira e padece nas mãos de um sádico. O personagem que habita o mundo aquático não é mais uma ameaça: transforma-se numa espécie de símbolo daqueles que são prisioneiros do sistema. A atração sexual é mais do que algo físico. Estamos diante de uma identificação com o prisioneiro e a vítima de uma engrenagem desumana e cruel, na qual o sexo é algo mecânico, e o valor mais alto é o do culto e da submissão diante dos rituais de consumo, algo colocado de forma clara na cena do automóvel.
Para escapar das acusações de maniqueísmo, Del Toro coloca em cena um delator e procura fazer do espião não apenas um agente secreto. E também lembra que uma criatura como aquela nem sempre terá um comportamento adequado. Mas não há dúvida que é vencido pela força do estereótipo, principalmente na figura do vilão, uma caricatura que, por vezes, se aproxima do ridículo. O amigo e a colega da protagonista são figuras superficiais e rendições ao politicamente correto. Porém, seria injusto ignorar o conflito entre as leis do mundo organizado com o instinto acorrentado. No caso, o confinamento num recipiente do qual ele é libertado pela ação de uma personagem de certa forma prisioneira como ele. Focalizar os amantes de mundos distintos que se unem não coloca, no entanto, o filme nas proximidades de clássicos de outras épocas. Del Toro termina por revelar que é pequeno o valor dos que pretendem ser críticos, mas não têm a coragem da rebelião diante da ditadura das simplificações.
 
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