Na semana do julgamento de Lula, houve quem só se preocupasse com o jogo

O mundo à parte do pôquer em Porto Alegre


Na semana do julgamento de Lula, houve quem só se preocupasse com o jogo

Porto Alegre, segunda-feira, 22 de janeiro. Dois dias antes do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade. As ruas próximas ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) estão em polvorosa, com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros grupos de militância. Em um salão de eventos do Novotel, no bairro Três Figueiras, dezenas de pessoas ocupam mesas com cartas e fichas, pensando em estratégias. De pôquer. Como o esporte exige concentração, é só isso que importa para os participantes do campeonato gaúcho, o CGP. Um universo particular – desconhecido de grande parte do público – se constitui a par de qualquer outro acontecimento e vira fonte de ganhos para muitos. E muitas.
Porto Alegre, segunda-feira, 22 de janeiro. Dois dias antes do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade. As ruas próximas ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) estão em polvorosa, com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros grupos de militância. Em um salão de eventos do Novotel, no bairro Três Figueiras, dezenas de pessoas ocupam mesas com cartas e fichas, pensando em estratégias. De pôquer. Como o esporte exige concentração, é só isso que importa para os participantes do campeonato gaúcho, o CGP. Um universo particular – desconhecido de grande parte do público – se constitui a par de qualquer outro acontecimento e vira fonte de ganhos para muitos. E muitas.
Tayna Eduarda dos Santos, de Cachoeirinha, tem 20 anos e é uma exceção entre jovens de sua idade. A menina já chegou a ganhar mais de R$ 1 mil em um único dia, na função de dealer, responsável por distribuir as cartas. “Virou minha profissão, é uma forma de ganhar dinheiro”, diz ela, que também é jogadora há três anos.
MARCO QUINTANA/JC
Trabalho não falta. Tayna se envolve com a atividade diariamente. “Começa às 20h e não tem hora para acabar”, avisa. Ela estuda regras, se especializa, mas ainda assim quer terminar a faculdade de Direito.
E a mania vem de família. A mãe, Cristina dos Santos, 40, comerciante, não falha: joga pôquer de terça-feira a domingo. Também pudera, o clube é ao lado de casa. A prática é tanta que Cristina representou a seleção feminina em âmbito estadual. Para ficar cada vez mais afiada, fez um coach com um bam-bam-bam da modalidade, Bruno Foster, referência no ensino de técnicas. O cearense ministrou cursos para mais de 300 alunos, ajudando-os a realizar seus sonhos no game. Vive disso.
Em quatro anos, Cristina calcula que tenha ganho cerca de R$ 60 mil. O desejo, para 2018, é ir a Las Vegas, nos Estados Unidos. “A gente se sente que nem criança num parque de diversões, quer passar por todas as mesas”, diverte-se ela, que afirma ser conhecida como “mãe do pôquer”.
MARCO QUINTANA/JC
Esta edição do CGP contabilizou 995 entradas, com valores entre R$ 200,00 e R$ 1 mil, e premiações que se aproximaram de meio milhão de reais, no total. O campeonato ocorre seis vezes ao ano, em diversas cidades do Estado.
Há tanta gente envolvida que um mercado se cria em torno do tema. A marca Bluff Poker, de Bom Princípio, é especializada em roupas e acessórios alusivos ao jogo. No Novotel, a empresa teve um estande na entrada da competição, que durou de quarta a segunda.
Em alguns casos, uma única partida chega a se prolongar por 14 horas. A tensão gera demanda para a massoterapeuta Aline Gaston Garighan, 36. Sem que os jogadores tenham de sair de seus lugares, ela encosta sua cadeira de massagem e alivia os músculos das costas de quem se dispõe a pagar R$ 2,00 por minuto. A profissional conta que, num torneio em Camboriú, Santa Catarina, chegou a faturar R$ 1,8 mil num dia só. “Mas foi das 22h às 10h”, afirma, cansada só de lembrar.
Aline iniciou na atividade porque um funcionário do Ypiranga Texas Club, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, frequentava a estética onde ela trabalhava e sugeriu que oferecesse o serviço no local. Acabou gostando e, agora, divide a rotina entre o Ypiranga e os eventos externos. “Já entendo do jogo, que língua eles falam, mas me preservo, não participo”, avisa.
MARCO QUINTANA/JC
Da massagem aos dealers, da alimentação às vendas de camisetas, o pôquer gera um filão de negócios daqueles. O Novotel, por exemplo, acertou na aposta de abrir as portas ao CGP, uma vez que aumentou em 30% a ocupação das habitações no período. Enquanto as disputas rolam, (quase) todo mundo em volta sai ganhando.   
MARCO QUINTANA/JC

Números

O Novotel gerou várias frentes de receita com o Campeonato Gaúcho de Pôquer. Foram vendidas mais de 1 mil cervejas, 800 águas, 450 refrigerantes, 210 Red Bulls, 190 chocolates, 450 lanches e 480 buffets.