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Contas Externas

- Publicada em 21 de Janeiro de 2018 às 22:53

Multinacionais aceleram envio de lucro ao exterior

Para Giacobbo, não há perspectiva de manter recursos para investir

Para Giacobbo, não há perspectiva de manter recursos para investir


FREDY VIEIRA/PWC BRASIL/DIVULGAÇÃO/JC
As multinacionais aproveitaram o fim da recessão econômica e a melhora das margens de lucro para, pela primeira vez em quatro anos, aumentar o envio de lucros e dividendos do Brasil para suas matrizes no exterior. A remessa de lucros e dividendos cresceu 34% de janeiro a novembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2016, para US$ 13,8 bilhões, segundo o Banco Central (BC).
As multinacionais aproveitaram o fim da recessão econômica e a melhora das margens de lucro para, pela primeira vez em quatro anos, aumentar o envio de lucros e dividendos do Brasil para suas matrizes no exterior. A remessa de lucros e dividendos cresceu 34% de janeiro a novembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2016, para US$ 13,8 bilhões, segundo o Banco Central (BC).
O valor está distante do recorde para o período (US$ 25,1 bilhões em 2011), mas interrompe uma sequência de três quedas seguidas. Giovanni Cordeiro, economista da Deloitte, aponta, com base em dados divulgados pela consultoria Economatica, que a margem líquida das empresas, que desceu ao patamar de 1,85% na mediana no terceiro trimestre de 2015, se recuperou para 3,7% em 2017 - distante, porém, dos 4,8% em 2012.
Além da melhora do cenário econômico, com a volta do crescimento do PIB, as incertezas sobre a eleição presidencial deste ano também estão entre as razões que ajudaram nesse movimento de repatriação de resultados. "O risco do País é realidade. As empresas vão esperar a coisa ficar mais clara em 2019 em relação ao novo governo. A alta das remessas ainda sofre influência das expectativas sobre o que vai ocorrer com o real. Se você acha que a moeda vai se desvalorizar, tem um incentivo para mandar para fora", diz Carlos Primo Braga, professor da Fundação Dom Cabral.
A trajetória de queda na taxa de juros (a Selic caiu 6,75 pontos percentuais em 2017, para 7% ao ano) é outro aspecto que pode ter reduzido o interesse das múltis em manter o dinheiro no Brasil, de acordo com Fernando
Giacobbo, sócio da PwC. "Quando uma empresa está com caixa disponível, ela avalia se é bom manter o recurso em aplicações financeiras aqui. Mas ela já não tem mais a remuneração que tinha no ano anterior", diz.
Somado a tudo isso, o parque industrial ainda opera com ociosidade (apesar da melhora recente, a capacidade instalada ainda está distante do patamar de 2014) e não tem urgência de investir em aumentar a capacidade por enquanto, a despeito dos sinais de retomada. "Além da queda na taxa de juros, também não existe perspectiva de manter esses recursos aqui como fonte de financiamento para investir em aumento de capacidade produtiva", diz Giacobbo.
Os Estados Unidos lideraram o envio de dinheiro das múltis, respondendo por 31,1% do total remetido em 2017 até novembro, ou US$ 4,3 bilhões. Em 2016, as norte-americanas estavam praticamente empatadas com as empresas holandesas: 25,4% e 25,3%, respectivamente.
O resultado antecipa uma onda que pode se fortalecer neste ano, quando passa a ser aplicada a reforma tributária norte-americana aprovada pelo governo Donald Trump, com a redução da alíquota de Imposto de Renda para as empresas, de 35% para 21%. "Enquanto isso, no Brasil, estamos na ordem de 34%. A menos que o governo brasileiro faça também uma reforma tributária, haverá mais incentivo para repatriar o dinheiro para os Estados Unidos", afirma Braga.

Esperança com retomada do Brasil volta a ganhar força nas matrizes globais

A retomada na confiança no Brasil pelas multinacionais não é notada só pelo aumento no envio do lucro às matrizes. Executivos das matrizes de dezenas de empresas mudaram o tom reticente e agora manifestam esperança com a situação no País.
Levantamento feito a partir de teleconferências com analistas de 130 multinacionais no terceiro trimestre identificou avaliações positivas por parte dos executivos em relação ao Brasil em quase 80% dos casos. Outros 9% ainda fazem ressalvas, e cerca de 13% continuam pessimistas com o País.
Há pouco mais de um ano, pesquisa semelhante identificou comentários otimistas por parte dos executivos em 52% dos casos. O País era uma preocupação demonstrada pelas chefias das multinacionais no início de 2015, quando apenas 22% das empresas viam boas oportunidades por aqui.
A constatação de que está em curso uma retomada é quase unânime, como nas palavras de Héctor Gutiérrez, diretor financeiro da Coca-Cola Femsa, que se diz "motivado" pelos sinais de recuperação do consumo no País. Os sinais de melhora no cenário macroeconômico e no desempenho das operações brasileiras foram pontuados por diretores de gigantes como MasterCard, Dufry, Allergan, Sanofi e Western Union.
"Pela primeira vez em mais de um ano, vemos o crescimento da indústria em linha com as nossas expectativas", disse James Peters, diretor da
Whirlpool, dona de marcas como Brastemp e Consul. O otimismo, porém, tem tom moderado - como diz James Zallie, da norte-americana Ingredion (de refino de alimentos), a melhora da economia "está só no começo" - e ainda está cercado de ressalvas.
"A economia dá sinais claros de que atingiu o fundo do poço. O desemprego está recuando, mas a economia ainda está no modo frugal. Isso deve mudar no próximo ano", diz Soren Schroder, presidente executivo da Bunge. "O Brasil ainda está bem complicado. A indústria teve uma queda tremenda", diz Rob Charter, presidente da Caterpillar, de veículos pesados.