O cineasta italiano Sergio Leone, em seu clássico faroeste, buscou em Fellini, contemporâneo e compatriota - e também mestre da sétima arte -, a sutileza da forma divina de contar a vida.
No filme de Leone, onde pouco importa o nome dos três protagonistas, bastaria dizer que ficamos presos a sua trama silenciosa e inflamável, de semblantes e olhares, e é difícil decifrar quem é herói ou vilão. Como naquele tempo de poeira e feno - com a devida licença poética -, também vivemos momentos inquietantes: enquanto alguns cortam na carne, passando por períodos de maior estiagem, outros se preocupam com reajustes e benefícios, e há ainda quem prefira ficar com suas negociações e conchavos. A cobrança vem a galope, ao passo que os coldres estão cheios e, desta vez, os cofres vazios. Caneta ou microfone, processo ou tribuna não resolvem senão fomentar a dicotomia da pedra e a vidraça. Complicado, então, é decifrar para que lado correr no meio desse bangue-bangue. Mesmo dividindo igual território, conseguimos encontrar três distintas realidades. Personalidades mais independentes do que harmônicas. Semelhanças e diferenças com a obra dos anos 1960 que poderiam gerar interessantes analogias, muito bem ilustradas, talvez, pela célebre frase dita por Clint Eastwood: você pode correr os riscos, mas eu que corto a corda. Entre feitos e efeitos, esperamos que 2018 não continue sendo apenas essa arena muda entre o bom, o mau e o feio.
Presidente do Instituto de Estudos Políticos Ildo Meneghetti