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Direitos humanos

- Publicada em 20 de Novembro de 2017 às 22:38

Semana da Consciência Negra é descentralizada

Tradicionalmente, a Semana da Consciência Negra é comemorada em Porto Alegre no Largo Zumbi dos Palmares. Neste ano, porém, como a prefeitura não autorizou o uso de recursos para a montagem e a manutenção da estrutura, as atividades foram descentralizadas - lá, ocorreram apenas a Feira de Afroempreendedores e dois shows.
Tradicionalmente, a Semana da Consciência Negra é comemorada em Porto Alegre no Largo Zumbi dos Palmares. Neste ano, porém, como a prefeitura não autorizou o uso de recursos para a montagem e a manutenção da estrutura, as atividades foram descentralizadas - lá, ocorreram apenas a Feira de Afroempreendedores e dois shows.
Segundo a coordenadora do Povo Negro, Elisete Moretto, foram vários meses de trabalho junto ao Conselho Municipal do Negro para organizar a programação. "Não tínhamos recursos financeiros, então não contamos com a estrutura no largo, mas, mesmo assim, montamos uma programação belíssima, com apoio dos movimentos sociais. Foi preciso muita criatividade. Por isso, promovemos eventos na Restinga e no Rubem Berta", explica. Ontem, aconteceu a celebração da 1ª Semana da Consciência Negra da Restinga.
O momento mais especial da agenda, para Elisete, foi uma celebração inter-religiosa promovida na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no Centro, que reuniu representantes das religiões católica, islâmica, judaica, luterana, espírita e as de matriz africana. Atrações culturais foram realizadas em espaços públicos, como Teatro Renascença, a Cinemateca Capitólio e o Theatro São Pedro. Palestras e rodas de conversa ocorreram no Centro de Referência do Negro, na avenida Ipiranga.
Outra atividade que vem ganhando fôlego desde 2014, quando ocorreu pela primeira vez, é a Feira de Afroempreendedores. "Na época, tivemos um projeto-piloto pequeno, com dez feirantes. Em 2015, já eram quase 50, e o então vereador Kevin Krieger (PP) fez um projeto de lei para tornar essa feira fixa", relata a coordenadora do Povo Negro. Aprovada, a lei, que prevê a realização do evento no primeiro domingo de cada mês, no Largo Zumbi, só foi sancionada no último dia 13 de junho e lançada na semana passada. Em dezembro, deve começar a funcionar regularmente no local, mas também em outros espaços que recebam feiras, como o Largo Glênio Peres e o Mercado Público.
Na opinião de Elisete, as principais demandas atualmente são expressadas no tema escolhido pela prefeitura para a edição da Semana da Consciência Negra deste ano - "Década dos afrodescendentes: que liberdade sem igualdade é essa?". "Os negros não podem ser vistos pela sua pele, e sim pela sua competência. Infelizmente, ainda hoje somos vistos por algumas pessoas como se não tivéssemos capacidade", critica.
A coordenadora do Povo Negro recorda que os africanos ajudaram a construir o País como ele é, contribuindo com ferramentas usadas até hoje na agricultura, por exemplo, e com muitos quesitos da culinária. "O negro segue firme e forte contribuindo, mas, quando chega no momento de dar oportunidade, ainda se escolhe outra pessoa. Queremos negros sendo médicos, engenheiros, políticos, comunicadores, em todos os espaços, porque são muito qualificados e ainda, infelizmente, seguem tendo os piores cargos", lamenta. Elisete destaca, ainda, que as mulheres negras sofrem mais com a violência doméstica do que as brancas.
 

Negros da Ufrgs fazem foto coletiva em frente à reitoria

Com auxílio de drone, centenas de alunos, professores e funcionários participaram de registro

Com auxílio de drone, centenas de alunos, professores e funcionários participaram de registro


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado ontem, alunos, professores e funcionários negros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) fizeram uma foto coletiva em frente à reitoria, no Centro de Porto Alegre, com o auxílio de um drone. Conforme uma das organizadoras, a aluna de Ciências Sociais Morghana Benevenutto Almeida, de 19 anos, a ideia foi mostrar para toda a sociedade a importância da representatividade.
"Queremos que os negros que ainda não estão na universidade percebam que é importante ocupar esse espaço, e que o cenário mudou. Há menos de uma década, só víamos brancos circulando pela Ufrgs, e, agora, pelo menos de seis a sete negros entram em cada semestre, em cada curso", ressalta.
Mesmo com avanços, ainda há críticas em relação à atuação da universidade junto aos alunos negros, como a fiscalização da concessão de cotas raciais e a oferta de bolsas e outros tipos de assistência, a fim de evitar a evasão dos cotistas. "É importante que a Ufrgs crie meios e políticas públicas que mantenham as pessoas mais vulneráveis dentro da universidade, porque esse espaço também é delas", afirma Morghana. Entre as maneiras de evitar a evasão, ela aponta a oferta de mais bolsas, e com valores mais altos.
Em relatório de 2016 do Programa de Ações Afirmativas, a universidade federal cita a elevada taxa de evasão dos cotistas como errônea. "Estabelecendo um estudo que abarca a Ufrgs desde 1977, apontamos que os índices de diplomação já indicavam que o cenário após as reservas de vagas não se alterou substancialmente frente ao que era o padrão vigente", salienta a estudante.

Suspeitos de fraude terão sua aparência avaliada por comissão

Após denúncias, na semana passada, a Ufrgs convocou 334 estudantes que ingressaram na instituição através de cotas raciais a se apresentaram a uma comissão especial, por suspeita de fraude, a fim de terem sua aparência avaliada. "Agora, é o processo para identificar as pessoas que fraudaram e procurar expulsar ou tomar alguma medida contra elas, para que a comissão de fato gerencie as cotas na universidade", observa a estudante Morghana.
A coordenadora do Povo Negro, Elisete Moretto, considera muito triste o fato de ainda haver fraudes nas cotas. "Tem que ser fiscalizado, porque o que acaba acontecendo é que há pessoas que burlam o sistema e a vaga acaba não indo para quem tem direito. É nesses momentos que percebemos que não há igualdade, e que não é vitimização do negro quando ele diz que não está ocupando os lugares", defende.
Entre 2008 e 2015, 3.359 pessoas entraram na Ufrgs através da reserva de cotas para autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. A fim de evitar fraudes, em setembro a universidade anunciou mudanças na política de ações afirmativas, com a criação de uma comissão de verificação das autodeclarações. A composição da comissão levará em consideração critérios como diversidade de gênero, de cor, de naturalidade, de aderência às ações afirmativas, expertise na área das relações étnico-raciais e representatividade nos movimentos sociais. A candidatura para participar da comissão aconteceu em outubro.