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Mercado financeiro

- Publicada em 05 de Novembro de 2017 às 21:56

Lucro de fundo de renda fixa cai e taxa cresce

A queda da taxa básica de juros, que de 2015 para cá despencou de 14,25% para 7,5% ao ano, corroeu o retorno de boa parte dos fundos de investimento em renda fixa, como já era de se esperar. Essa desvantagem não foi, porém, suficiente para reduzir as taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras por essas aplicações. Segundo levantamento com base no banco de dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o efeito foi contrário ao esperado: houve uma alta nas taxas dos fundos que mais perderam rentabilidade.
A queda da taxa básica de juros, que de 2015 para cá despencou de 14,25% para 7,5% ao ano, corroeu o retorno de boa parte dos fundos de investimento em renda fixa, como já era de se esperar. Essa desvantagem não foi, porém, suficiente para reduzir as taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras por essas aplicações. Segundo levantamento com base no banco de dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o efeito foi contrário ao esperado: houve uma alta nas taxas dos fundos que mais perderam rentabilidade.
No confronto de janeiro de 2016 com setembro deste ano, a taxa média de retorno de um fundo de renda fixa simples caiu de 12,5% para 7,06% ao ano. Já a taxa de administração cobrada pela empresa que faz a gestão do investimento subiu de 0,71% para 0,83% no período. Os fundos de renda fixa simples são os que têm, no mínimo, 95% de seu patrimônio líquido em títulos da dívida pública federal, títulos de renda fixa ou operações compromissadas lastreadas em títulos do tesouro.
O mesmo descompasso entre taxas e retorno financeiro foi observado nos fundos de renda fixa indexados, que acompanham a variação de indicadores de referência do mercado de renda fixa. Para o presidente da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Ancord), Caio Vilares, esse descompasso entre a rentabilidade e o preço cobrado pelas instituições por parte dos fundos é reflexo da falta de conhecimento do investidor brasileiro sobre a dinâmica do setor.
"Enquanto existir investidor que tope pagar caro por um produto com pouco valor agregado, o mercado continuará cobrando alto", diz ele. "Na verdade, investir em um fundo de administração passiva em renda fixa não é diferente de ir ao site do Tesouro Direto e fazer a aplicação sem essa taxa de administração", destaca.
Já o sócio da Vokin Investimentos, Guilherme Macêdo, destaca que, na maioria dos países, as taxas de administração tendem a acompanhar os juros. Logo, como o Brasil tem, historicamente, juros altos, as taxas de administração são consequentemente mais elevadas e podem demorar mais a baixar. "A questão é: como a indústria de fundos fica com essa taxa de juros em torno de 7%?", questiona.
Com a disputa com outros produtos, como fundos de renda variável, aumentando, os gestores de renda fixa, mesmo os que não têm trabalho constante de administração da carteira de ativos, terão de se movimentar para entregar mais resultado ou poderão sofrer com a fuga de investidores. Nem a inflação menor, que aumenta a sobra no bolso do investidor, deve garantir a atratividade.
A possível restrição do percentual de taxas de administração é citada por Guilherme Macêdo como outra mudança que pode elevar a competição entre os fundos. Se aprovado, o Projeto de Lei nº 3648/15 vai limitar a 1% a taxa de administração cobrada pelos fundos de investimentos. "A tendência é que o custo por performance aumente, com os fundos cobrando menos de taxa de administração, mas aplicando um percentual sobre a rentabilidade que eles entregarem. Com isso, os gestores vão buscar melhores resultados", afirmou.

Modalidade para gerenciar aplicações de investidores mais ricos perde atratividade

Os fundos criados para gerenciar os recursos dos mais ricos podem perder parte do brilho após a publicação da Medida Provisória (MP) nº 806, que iguala a tributação deles com a cobrada de outros produtos do setor. A MP, se aprovada pelo Congresso e sancionada até o fim do ano, como quer o governo, vai instituir a cobrança semestral de imposto de renda sobre esses fundos, acessíveis apenas para famílias com patrimônio acima de R$ 10 milhões.
Na prática, sem a vantagem da tributação, especialistas avaliam que os gestores das grandes fortunas serão pressionados a garantir retornos que façam herdeiros, matriarcas e patriarcas esquecerem do imposto. Caso contrário, avaliam, esses fundos exclusivos perdem sua funcionalidade.
Para Alamy Candido, sócio do Martins Candido Advogados, ainda é cedo para traçar novas estratégias dentro do fundo ou pensar em um produto que una as regras específicas que essa modalidade tem com a vantagem da tributação. No entanto, o especialista afirma que os investidores terão de redobrar a atenção e passar a calcular os resultados na ponta do lápis.
"É muito provável que (esses fundos) deixem de existir, porque têm um custo (taxa de administração) relevante, colocando na mesma vala investimentos de R$ 10 mil e R$ 10 milhões. O natural é que o investidor vá para o que tem rentabilidade melhor."
Apesar do baque com a tributação, Alexandre Gottlieb Lindenbojm, presidente da gestora Wright Capital, acredita que o fundo exclusivo ainda é fundamental para planejamento sucessório de famílias ricas. Em fundos abertos, não é possível restringir o resgate do dinheiro, enquanto no fundo fechado é possível controlar a amortização. "Se quiser que o herdeiro tenha acesso à sua parcela do patrimônio, essa é a melhor forma."
Na avaliação da especialista em finanças e sócia da BSG DuoPrata, Betty Grobman, os gestores precisarão adotar estratégias para convencer seus clientes de que vale a pena manter seus fundos exclusivos. "Essa MP está matando um produto. A partir de agora, o investidor terá de ser convencido de que deve mantê-lo. Reduzir taxas de performance ou de administração podem ser soluções interessantes", comenta.
De olho nas oportunidades do planejamento sucessório, a advogada Márcia Setti, sócia do escritório PLKC Advogados, estruturou o chamado fundo "conta-gotas". O produto é um fundo exclusivo em que há um valor pré-fixado a ser entregue aos herdeiros de um milionário.
Qualquer mudança apenas pode ser feita com autorização do guardião do fundo, que controla a preservação do patrimônio. "Quem opta por esse tipo de fundo não o faz por questões fiscais, mas para salvaguardar os recursos. É uma opção atraente para a sucessão, garantindo controle e manutenção do patrimônio para as próximas gerações", define. Desde 2010, o escritório já criou quatro desses fundos. "Ainda vejo bom cenário para esse tipo de fundo nos próximos anos, justamente pela diversificação", diz Márcia.