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Teatro

- Publicada em 16 de Novembro de 2017 às 22:56

A proposta é boa, mas precisa mais foco

Uma estreia surpresa, sem grandes avisos, mas que abriu as primeiras capas dos suplementos de cultura dos jornais da cidade movimentou o Theatro São Pedro, na semana retrasada. Renato Farias, ator gaúcho radicado no Rio de Janeiro, a partir de um conjunto de mais de duas centenas de cartas trocadas entre seus pais, quando namorados e noivos, produziu a dramaturgia de 220 cartas de amor, que ele mesmo interpreta, ao lado de Gaby Haviaras, sua esposa, com direção de Rafael Sieg.
Uma estreia surpresa, sem grandes avisos, mas que abriu as primeiras capas dos suplementos de cultura dos jornais da cidade movimentou o Theatro São Pedro, na semana retrasada. Renato Farias, ator gaúcho radicado no Rio de Janeiro, a partir de um conjunto de mais de duas centenas de cartas trocadas entre seus pais, quando namorados e noivos, produziu a dramaturgia de 220 cartas de amor, que ele mesmo interpreta, ao lado de Gaby Haviaras, sua esposa, com direção de Rafael Sieg.
Biografias, correspondências de amor, diários: todo este material sempre suscita interesse e permite um sem número de reflexões mais ou menos produtivas, dependendo do material primário compilado e do modo como ele é transformado. Neste caso, sinteticamente, temos um texto com altos e baixos, mercê talvez de uma dificuldade de Farias, filho e ao mesmo dramaturgo, conseguir distanciar-se do material e de sua relação direta com este material, de modo crítico. Quando o consegue, resulta em excelente texto. Para início de conversa, cortar. O espetáculo tem mais de hora e meia: por mais interessante que seja, precisa ser condensado, cortado. Por quê? Para gerar um foco narrativo com densidade dramática. Assim como está, fica demasiadamente esparramado e perde força.
Segunda questão: pedir que uma terceira pessoa revise o texto para distanciar-se dum certo tom de festinha familiar que às vezes o invade. Há observações e registros magníficos, produto das próprias cartas em si. A pesquisa de imagens da direção, por outro lado, enriquece o espetáculo. Mas ele não pode se tornar um álbum de fotografias de família ou de amigos, como era evidente na noite de estreia, em que praticamente toda a plateia deveria ter algum vínculo mais ou menos direto com os personagens. Se os personagens forem bons (e são, as cartas em si são maravilhosas, criativas, poéticas, cômicas, traduzem à perfeitas as variações de emoção e temperamento dos personagens), eles têm de se tornar interessantes para qualquer pessoa, independentemente de eles terem sido ou não conhecidos, como eu, por exemplo. Jamais soube desses personagens até a noite do espetáculo e, no entanto, adorei a narrativa e uma história (namoro e noivado de quase 10 anos...).
Por outro lado, há que concentrar, dar saltos, sintetizar, objetivar o enredo que em si mesmo, já se apresenta com dramaticidade: dois jovens que se conhecem, namoram, noivam e casam. Aliás, quando o dramaturgo Renato Farias se intromete para comentar e atualizar ou traçar paralelos entre a história em cena e sua própria experiência, ou quando conta como isso ou aquilo aconteceu, com detalhes que não aparecem nas cartas, o espetáculo engrena. Mas depois, cai, e às vezes se arrasta.
Gaby Haviaras vive Maria de Lourdes com garra, comicidade, ironia, naturalidade, sobretudo. Renato Farias, enquanto ator, também é uma excelente presença em cena. O cenário de Gigi Barreto, embora tenha a boa ideia das faixas de tecido dispostas no fundo do palco é prejudicado por sua disposição. As faixas precisariam ficar mais paralelas, e não sobrepostas, porque acaba prejudicando a projeção das imagens, às vezes, quase impossíveis de serem distinguidas. Os figurinos de Tuca Sodré ficaram excelentes, marcando bem as passagens de tempo. A seleção musical, do próprio diretor Rafael Sieg também está bem organizada, provocando reações do público.
Em síntese, 220 cartas de amor é uma excelente ideia, mas que precisa ser aprimorada. Como Porto Alegre e Santa Maria foram as cidades escolhidas para a estreia do espetáculo, que depois deve seguir carreira no Rio de Janeiro, é um bom momento para a equipe revisar o projeto, que pode ser melhorado e terá um excelente resultado.
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