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Cinema

- Publicada em 30 de Novembro de 2017 às 22:20

Cenário revelador

Rodado na Noruega, Boneco de neve é o terceiro longa do sueco Tomas Alfredson

Rodado na Noruega, Boneco de neve é o terceiro longa do sueco Tomas Alfredson


UNIVERSAL PICTURES/DIVULGAÇÃO/JC
O terceiro longa-metragem para cinema realizado pelo sueco Tomas Alfredson não deixa dúvida alguma sobre sua capacidade de narrador e criador de atmosfera apropriada para a história a ser desenvolvida em imagens. O primeiro, Deixa ela entrar, acrescentava dados novos ao tema do vampirismo e mostrava que o cinema de horror não necessita utilizar métodos demagógicos, tão empregados nos últimos tempos por realizadores desprovidos de talento, enquanto também era um belo ensaio sobre carências e infortúnios. O segundo, O espião que sabia demais, além de formalmente fascinante, revelava que o realizador também é um fascinado por histórias erguidas sobre bases complexas e difíceis de serem desvendadas numa primeira visão. Boneco de neve, assim como os outros, é uma produção internacional, filmada na Noruega, nas cidades de Oslo e Bergen, e que tem entre seus produtores executivos o norte-americano Martin Scorsese, cuja influência deve ter sido grande, pois certamente foi indicação sua a participação na montagem de Thelma Schoonmaker, colaboradora do cineasta em muitos filmes. A outra editora, Claire Simpson, é também do primeiro escalão, tendo sido a montadora de Platoon e de O jardineiro fiel, este dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Alfredson, portanto, estava bem assessorado para exercitar suas virtudes de narrador. O filme formalmente é obra marcada pela competência. É sempre seguido com atenção, até porque seu diretor volta a exercitar seu gosto por indicações que não se completam ou que só são esclarecidas muitas cenas depois.
O terceiro longa-metragem para cinema realizado pelo sueco Tomas Alfredson não deixa dúvida alguma sobre sua capacidade de narrador e criador de atmosfera apropriada para a história a ser desenvolvida em imagens. O primeiro, Deixa ela entrar, acrescentava dados novos ao tema do vampirismo e mostrava que o cinema de horror não necessita utilizar métodos demagógicos, tão empregados nos últimos tempos por realizadores desprovidos de talento, enquanto também era um belo ensaio sobre carências e infortúnios. O segundo, O espião que sabia demais, além de formalmente fascinante, revelava que o realizador também é um fascinado por histórias erguidas sobre bases complexas e difíceis de serem desvendadas numa primeira visão. Boneco de neve, assim como os outros, é uma produção internacional, filmada na Noruega, nas cidades de Oslo e Bergen, e que tem entre seus produtores executivos o norte-americano Martin Scorsese, cuja influência deve ter sido grande, pois certamente foi indicação sua a participação na montagem de Thelma Schoonmaker, colaboradora do cineasta em muitos filmes. A outra editora, Claire Simpson, é também do primeiro escalão, tendo sido a montadora de Platoon e de O jardineiro fiel, este dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Alfredson, portanto, estava bem assessorado para exercitar suas virtudes de narrador. O filme formalmente é obra marcada pela competência. É sempre seguido com atenção, até porque seu diretor volta a exercitar seu gosto por indicações que não se completam ou que só são esclarecidas muitas cenas depois.
A abertura promete mais do que o filme depois irá cumprir. Numa espécie de reunião familiar, temos em cena o pai, a mãe e o filho. O primeiro é também um policial e, portanto, homem da lei. Mais do que isso, ele também é professor, pois trata o filho como se fosse um mestre severo e repressor, que utiliza a agressão física quando o menino revela não saber datas precisas sobre o passado da Noruega. Esta caricatura dramática do processo civilizador, mostrando um cenário familiar deformado, coloca em cena os elementos básicos, aqui adulterados pela ameaça da repressão. O prólogo, portanto, nos apresenta não apenas a infância dolorosa de um dos personagens principais da narrativa, pois também coloca em cena o motivo principal do filme: o passado, que sempre está a interferir no comportamento das figuras em cena. Esta ideia, no entanto, é prejudicada por tramas paralelas, que nem sempre são devidamente esclarecidas, e por atitudes das figuras em cena por vezes não clarificadas. O filme, baseado em livro de Jo Nesbo, parece perdido em alguns momentos, e certas cenas terminam dominadas por um artificialismo que colabora para diluir a proposta original, que era a de colocar em cena, através de uma narrativa policial, as deformações resultantes de um processo no qual valores humanos são desprezados em nome de aparências e do culto a submissões.
Sem dúvida, o personagem daquele milionário interessado em que Oslo seja a cidade escolhida para sede dos Jogos de Inverno é o ponto mais alto do cenário em que vivem os personagens, a figura mais poderosa do universo de gelo em que a história se desenvolve. Mas são tantas as tramas que o filme pretende acompanhar que sua participação termina se transformando numa caricatura, quase um desenho ridículo proposto por filmes panfletários que se julgam profundos. Alfredson é bem melhor quando sintetiza em imagens um mundo gelado, desprovido de calor humano e no qual adultos estão sempre tentando compensar dramas passados através de gestos e ações que acreditam ter o poder de correção. Auxiliado pelo diretor de fotografia Dion Beebe, o diretor consegue transformar o cenário em símbolo poderoso. O filme pode ter seus problemas, mas inegavelmente é exemplo de como a imagem é, em cinema, o elemento mais importante. A neve, o frio intenso, o gelo que domina o cenário, tudo faz com que os personagens sejam novamente agredidos, num retorno simbólico à cena inicial, algo revelador e de compreensão indispensável, não apenas para o espectador de um filme.
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