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- Publicada em 13 de Novembro de 2017 às 14:52

Lugar de criança é na escola

Pagno destaca que arrecadação começa em novembro e vai até fevereiro

Pagno destaca que arrecadação começa em novembro e vai até fevereiro


/Projeto Vó Chica/Divulgação/JC
Samuel Lima
Claudio Roberto Pagno da Costa, 54 anos, ficava intrigado com uma cena recorrente ao andar pelas ruas da Vila Safira, no bairro Mário Quintana, em Porto Alegre. O ano letivo começava na rede pública de ensino, mas algumas crianças continuavam, por uma ou duas semanas, brincando por lá no turno da manhã e também à tarde. "Era porque a mãe não tinha comprado o material escolar, o pai não tinha dinheiro, o cartão de crédito estava sem limite", afirma ele, pintor de paredes e empreendedor social.
Claudio Roberto Pagno da Costa, 54 anos, ficava intrigado com uma cena recorrente ao andar pelas ruas da Vila Safira, no bairro Mário Quintana, em Porto Alegre. O ano letivo começava na rede pública de ensino, mas algumas crianças continuavam, por uma ou duas semanas, brincando por lá no turno da manhã e também à tarde. "Era porque a mãe não tinha comprado o material escolar, o pai não tinha dinheiro, o cartão de crédito estava sem limite", afirma ele, pintor de paredes e empreendedor social.
O Mário Quintana é um dos bairros de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital gaúcha. De acordo com o censo demográfico mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, ele abrigava 37,2 mil moradores, cerca de 2,6% da população total do município, em uma área de 6,78 quilômetros quadrados. A renda média dos responsáveis pelos domicílios era de 1,68 salários-mínimos na época (R$ 1.020,00), o que explica as dificuldades enfrentadas pelos pais em dar condições mínimas de aprendizado aos filhos.
Da Costa deu início, então, a uma campanha de doação de material escolar na região, dentro do Projeto Vó Chica - que vem trabalhando pela cultura, desenvolvimento e autoestima local desde 2001, quando o morador venceu a luta para transformar um lixão em praça, ação que se arrastava desde 1962 na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams). Virou uma espécie de trabalho referência de voluntariado na Capital. Na edição mais recente, foram arrecadados mais de 3 mil kits, que foram entregues, em março, a famílias das cinco escolas locais, além de parceiros de outros bairros porto-alegrenses, como Restinga e Lami, e até de outros municípios. São Francisco de Paula, por exemplo, recebeu material escolar no começo deste ano, quando a cidade fora recém-atingida por temporal que deixou mais de 500 pessoas desabrigadas.
As pessoas que doam também são convidadas a acompanhar o dia de entrega. "Vem muita gente, às vezes dá a volta em três quadras. É lindo de ver, parece um carnaval", conta da Costa. A ação teria, inclusive, ajudado a alavancar o número de doações ao longo dos anos, por estimular ainda mais a ação social ao observar de que maneira ele muda a vida de quem é beneficiado. No primeiro ano, foram 140 kits, número que praticamente dobrou a cada ano. "Se fosse uma empresa, estaria superbem", brinca.
A arrecadação tem início em novembro e vai até às vésperas do início das aulas na rede pública. Materiais como canetas, lápis de escrever e de cor, borrachas, folhas de ofício, estojos, mochilas e cadernos, entre outros, são aceitos na sede do projeto (rua Luiz Sibemberg, 345 - Vila Safira - CEP 91260-570), das 8h às 17h, ou por correspondência. O item mais requisitado, em geral, são os cadernos. "É para dar um embalo. Na pobreza, é assim: cada familiar compra uma coisa", diz. O líder do projeto ainda destaca que os materiais não precisam ser "de grife", mas apenas estar em bom estado.
Ao longo de 16 anos, o Projeto Vó Chica passou a oferecer oficinas de percussão, teatro, meditação e informática a crianças e adolescentes na vizinhança, além do acesso a uma pequena biblioteca, sempre por meio da rede de voluntários formada a partir dele. O local das aulas é um espaço nos fundos da casa do pintor. Também já fez diversas ações pontuais, como a colocação de placas com os nomes das ruas do bairro, criadas a partir de móveis descartados na região; a colorização das vilas, por meio de grafites em muros autorizados por moradores e outros pontos de lazer e circulação, como recentemente as escadarias da Batista Flores; a condução da Tocha da Paz por crianças do Mário Quintana; acesso à rede de esgoto a famílias da comunidade e asfaltamento de vias; feiras do livro, festas e confraternizações diversas.
O nome do projeto, por sua vez, faz referência a uma personalidade importante da Vila Safira: Maria Francisca Gomes Garcia, parteira e benzedeira que tinha atuação marcante no bairro e morreu em 1983, aos 107 anos. Da Costa a conheceu quando tinha 13, e foi educado por ela. "Fui uma das crianças que sentava no pé da cama para ouvir as histórias da Vó Chica. Ela dizia: 'façam o que é certo'."
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