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investimentos

- Publicada em 15 de Outubro de 2017 às 22:21

Novo cenário econômico favorece as debêntures

Relativamente longe da carteira do pequeno investidor, o mercado de debêntures tem um panorama bastante favorável para o seu crescimento. Por um lado, a potencial retomada econômica, aliada ao encarecimento e restrição nos financiamentos do Bndes, encaminha as empresas para a emissão de dívidas. Por outro, a queda nos juros básicos, que força os investidores a saírem da zona de conforto dos títulos públicos, também ajuda a aumentar o interesse pelos papéis, cada vez mais atrativos.
Relativamente longe da carteira do pequeno investidor, o mercado de debêntures tem um panorama bastante favorável para o seu crescimento. Por um lado, a potencial retomada econômica, aliada ao encarecimento e restrição nos financiamentos do Bndes, encaminha as empresas para a emissão de dívidas. Por outro, a queda nos juros básicos, que força os investidores a saírem da zona de conforto dos títulos públicos, também ajuda a aumentar o interesse pelos papéis, cada vez mais atrativos.
Com a crise dos últimos anos, o volume emitido pelas companhias caiu junto com a capacidade de investimento delas. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o valor total gerado em debêntures, que em 2014 havia chegado aos R$ 75,2 bilhões no ano, recuou a R$ 59,8 bilhões em 2016. "Se o mercado está ruim, sem perspectiva, a companhia fica na espera porque é difícil para ela gerar rendimento suficiente para pagar os juros ao investidor. Com o cenário melhor, elas se motivam a crescer", contextualiza a gerente de representação institucional da Anbima, Erika Lacreta.
Nesse sentido, a recuperação econômica do País, mesmo ainda engatinhando, já inverte a tendência. Neste ano, de janeiro a setembro, a emissão alcançou R$ 50,4 bilhões, montante 35,2% acima do mesmo período de 2016 (R$ 37,3 bilhões), trajetória que deve continuar e até se intensificar daqui para a frente. Não apenas pela retomada dos investimentos das companhias, mas também por outros fatores.
Um deles é a mudança de posicionamento do Bndes, muito mais restritivo na concessão de financiamentos às empresas, e que, com a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), passará a atuar com juros mais elevados do que antes. Invariavelmente, as empresas terão de buscar outras fontes, entre elas o mercado de capitais. O movimento contrário de queda na taxa básica de juros também ajuda na previsão, pois torna o preço das alternativas ainda mais competitivas em relação ao banco de desenvolvimento. "Vai reequilibrar o mercado, e em um horizonte médio, de dois a três anos, irá se sentir bastante isso. O próximo ciclo de crescimento será bem diferente dos últimos quanto ao financiamento", projeta o coordenador do curso de Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho.
Com as novas condições do mercado, a expansão virá por duas frentes. Primeiro, com as taxas mais baixas, há espaço para que as empresas gerem novas séries que substituam o passivo. "É um bom momento para alongar a dívida, com custos menores do que antes e com prazos mais longos", afirma Coutinho. Até setembro, quase um terço (30,6%) do valor emitido em 2017 teve justamente esse destino. O principal fim ainda é o capital de giro, com 46,2% do montante.
Se até aí companhias de qualquer setor podem se beneficiar desse tipo de título, há um segmento que desponta mais promissor: o ligado à melhoria em infraestrutura, que representou apenas 6,4% (cerca de R$ 3,2 bilhões) do valor emitido até setembro. Desde 2011, debêntures que possuem esse tipo de finalidade têm incentivo fiscal, com isenção de Imposto de Renda (IR) para os investidores. Se a recessão e a Operação Lava Jato frearam o potencial da medida nos últimos anos, a retomada econômica e a onda de concessões à iniciativa privada trazem o instrumento de volta à tona. "Considerando esses fatores, a projeção é de que em 2018 e em 2019 se atinja de R$ 13 bilhões a R$ 15 bilhões por ano em emissões de debêntures para infraestrutura", estima o sócio da Monte Bravo Investimentos, Pier Mattei. Se confirmado, o valor anual significaria o triplo da média anual desde a criação de lei, em torno de R$ 5 bilhões.

Debêntures

Presente há décadas no mercado de capitais brasileiro, a debênture é um título de crédito contra uma companhia. São dívidas de médio e longo prazo assumidas pelas empresas, que assim conseguem se capitalizar com custos mais baixos do que no sistema bancário. As condições de cada emissão são flexíveis, com diversas opções de remuneração, garantias e períodos de pagamento.
  • CLASSE: Conversíveis (trocadas por ações da empresa emissora), Permutáveis (trocadas por ações de outra companhia) ou Simples (não permitem troca por ações).
  • GARANTIA: Real (bens), Flutuante (prioridade sobre o ativo da empresa), Subordinada (em caso de liquidação da empresa, tem prioridade apenas sobre os acionistas) e Quirografária (nenhuma).
  • REMUNERAÇÃO: Prefixada, Pós-Fixada (DI, Selic), Atualização monetária e Variação cambial. Á escolha do emissor, podendo possuir mais de uma (como IPCA taxa).
  • PAGAMENTO: Ao fim do prazo (chamado de "bullet") ou em datas fixadas para amortização durante o período.

Isenção de IR e maior mercado secundário atraem investidor

Garantias variam muito, diz Fernando Baggio, da L&S Capital

Garantias variam muito, diz Fernando Baggio, da L&S Capital


HENRIQUE KELLER/HENRIQUE KELLER/DIVULGAÇÃO/JC
Se o ambiente é favorável ao mercado de debêntures pelo lado das emissoras, também o é da parte dos investidores. O título se beneficia, de certa forma, do mesmo movimento que favorece quase todos os papéis do mercado: com a queda nos juros básicos, o caminho fácil do título público se torna menos efetivo, obrigando o investidor a buscar outras aplicações. "O mercado demanda esse tipo de título, mas antes ficava difícil competir com o governo", comenta o presidente da regional da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Sul), José Júnior de Oliveira.
O problema, para o investidor individual, é que a debênture possui maior risco - embora, consequentemente, tenda a pagar taxas maiores. As aplicações não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), por exemplo, e as garantias variam de acordo com a série. Podem ir de patrimônio da companhia até não ter garantia nenhuma, em casos de empresas mais bem vistas pelo mercado. "Dentro desse mundo, há títulos mais seguros e mais arriscados, mas ainda são mais atrativos do que os títulos públicos", acrescenta Fernando Baggio, diretor da L&S Capital.
Mesmo assim, a atratividade dos papéis vem crescendo. O incentivo às debêntures voltadas à infraestrutura, por exemplo, ajuda bastante nesse movimento. Segundo o sócio da Monte Bravo Investimentos, Pier Mattei, enquanto o título público vem pagando em média a inflação mais 4,8% brutos ao ano, há debêntures incentivadas de empresas com rating AAA com taxas de inflação mais 6%, diferença que se torna ainda maior na comparação sobre o rendimento líquido. "O mercado gosta tanto de algumas empresas que elas vêm remunerando até abaixo do título público, porque compensa pela isenção do IR", comenta Mattei, ressaltando que, embora exista, essa situação não é comum no mercado.

Restrições ainda limitam interesse de pessoas físicas pelos papéis

Outro ponto a favor das debêntures é que, ainda que não seja uma das aplicações preferidas dos investidores individuais, esse tipo de comprador tem ganho participação entre os proprietários do papel. As pessoas físicas, que eram apenas 0,9% dos compradores em 2012, ganharam terreno após a lei que instituiu a isenção do IR até chegar a 5% em 2015. Com a crise, a parcela recuou para 3,1% em 2016, mas já volta a pegar corpo em 2017. Até setembro, eram 3,7%, contra 2% no mesmo período do ano passado. Os principais compradores no ano são os investidores institucionais, como fundos de pensão, com 65,7%, e os participantes ligados à oferta, com 30,6%.
A pouca participação dos pequenos investidores tem como causa, primeiramente, o fato de que, por possuírem maior risco do que outros títulos, há restrições na venda desses papéis. Segundo a gerente de representação institucional da Anbima, Erika Lacreta, as companhias fechadas (não listadas em bolsa de valores) só podem emitir debêntures exclusivas a investidores profissionais. Apenas as públicas, portanto, que possuem maior escopo de dados e informações, podem acessar o varejo.
Outro percalço é a baixa liquidez das debêntures, fator muito relevante tratando-se de papéis de longo prazo (média de cinco anos). Isso, porém, vem sendo mudado com as debêntures incentivadas. "Hoje existe um mercado secundário, com volume crescente. Você consegue ter saída no meio do caminho se quiser", analisa Mattei. Entre janeiro e setembro, segundo a Anbima, foram transacionados R$ 412,5 bilhões no mercado secundário de debêntures, crescimento de 84,3% em relação a igual período de 2016 (R$ 223,8 bilhões) e de 289% em relação a 2012, primeiro ano da lei do incentivo (R$ 106 bilhões).
José Júnior de Oliveira reclama, porém, que o vendedor ainda necessita procurar diretamente um comprador para o seu papel, pois não há instrumento de venda como acontece com as ações. "Falta ainda um instrumento de mais liquidez, com o qual o mercado seria muito maior", argumenta. O presidente da Apimec-Sul conta que já há, entretanto, esforços para a criação da ferramenta, inclusive por parte da B3 após a incorporação da antiga Cetip.