Os três grandes grupos europeus de infraestrutura que arremataram os quatro aeroportos - Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre - concedidos em março entraram com pedido de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). No entanto a superintendente da Área de Saneamento e Transporte do banco, Luciene Machado, afirma que as empresas podem abrir mão dos recursos diante do poder de fogo dessas companhias no mercado global de crédito.
As empresas - que ganharam os leilões sem se associarem a grupos nacionais - ainda não bateram o martelo sobre os financiamentos. Pelas condições de crédito divulgadas pelo Bndes antes do leilão, os empréstimos da instituição de fomento vão ficar limitados a 40% do valor dos investimentos nas obras. Para Luciene, a tendência é que as empresas não utilizem os recursos do Bndes ou peçam o empréstimo no valor máximo.
Um empréstimo abaixo do limite seria pequeno demais para valer a pena. "O tamanho dos capex (investimentos em ampliação de capacidade, no jargão do mercado) envolvidos, para o porte desses grupos, são valores modestos. Isso dá para esses grupos uma possibilidade de escolhas muito grande", disse a executiva. Se as empresas deixarem de lado o crédito do Bndes, será mais uma mudança no mercado brasileiro de infraestrutura.
O leilão desses aeroportos já havia chamado a atenção pela ausência das grandes construtoras nacionais, atingidas pela Operação Lava Jato, e pelo sucesso das "grifes" do setor aeroportuário mundial. Juntos, os quatro aeroportos exigirão R$ 3,72 bilhões em outorgas pagas ao governo federal e mais R$ 6,6 bilhões em obras, valores a serem gastos ao longo da concessão, que vai de 25 a 30 anos, conforme o aeroporto.
O limite de 40% dos investimentos em obras equivaleria a cerca de R$ 2,6 bilhões, o que dá uma média de R$ 650 milhões por terminal aéreo. O valor é pequeno diante do tamanho dos grupos. A francesa Vinci, que atua em construção e concessões de rodovias e ferrovias, faturou 38 bilhões no ano passado. A Fraport opera 24 aeroportos pelo mundo e teve receita de 2,586 bilhões em 2016. Já a Zurich faturou 1 bilhão de francos suíços (R$ 3,2 bilhões) durante o ano passado.
A superintendente do Bndes chama a atenção para a mudança no perfil dos empreendedores no modelo de concessões dos aeroportos leiloados em março. No modelo dos aeroportos privatizados no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, os operadores eram ligados às empreiteiras. Agora, os vencedores foram companhias de infraestrutura.
Segundo Cláudio Firschtak, sócio Inter.B Consultoria, o modelo atual, ao deixar de fora a estatal Infraero e privilegiar a operação e a prestação dos serviços de infraestrutura, atrai mais financiadores. "Se você é o financiador, para quem prefere emprestar? Para o operador, que conhece o negócio, minimiza dispêndios e foca na eficiência", afirmou. O modelo anterior, ao privilegiar as empreiteiras, que lucram nas obras, incentivava a construção de "elefantes brancos", com excesso de capacidade, disse o consultor.
A Fraport, que levou as concessões dos aeroportos de Porto Alegre e de Fortaleza, deverá tomar uma decisão sobre a tomada de empréstimos ou não até o fim de outubro, afirma Luciene. A Zurich, que é sócia da CCR na concessão do Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, e saiu do leilão de março com a operação do aeroporto de Florianópolis, pretende definir o financiamento até o fim deste ano. Em nota, a concessionária Floripa Airport informou que está "finalizando o levantamento de nossas necessidades de financiamento e quais são as opções disponíveis no mercado, sendo o Bndes uma delas".