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crédito

- Publicada em 23 de Outubro de 2017 às 08:18

Financiamento para empresas é o menor em oito anos

Coelho, da Fiesp, diz que não há crédito para refinanciar dívidas

Coelho, da Fiesp, diz que não há crédito para refinanciar dívidas


/FIESP/DIVULGAÇÃO/JC
Os sinais de retomada da economia ainda não foram suficientes para reverter o quadro de escassez de crédito para as empresas brasileiras. A carteira corporativa de crédito caiu em agosto pela 20ª vez consecutiva, levando sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) ao menor nível desde 2009. De dezembro de 2015 até agora, o crédito empresarial caiu de 28,45% para 22,21% do PIB, segundo os números do Banco Central.
Os sinais de retomada da economia ainda não foram suficientes para reverter o quadro de escassez de crédito para as empresas brasileiras. A carteira corporativa de crédito caiu em agosto pela 20ª vez consecutiva, levando sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) ao menor nível desde 2009. De dezembro de 2015 até agora, o crédito empresarial caiu de 28,45% para 22,21% do PIB, segundo os números do Banco Central.
Dois fatores explicam esse cenário. De um lado, estão empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito no mercado porque não têm investimentos para fazer. Do outro, estão companhias inadimplentes, que precisam se financiar - ou rolar dívidas - e não obtêm aprovação dos bancos. Nos dois casos, no entanto, as empresas não conseguem sequer crédito para capital de giro.
Os níveis mais baixos de crédito para pessoa jurídica influenciam de forma direta o ritmo de retomada da economia. "Essa escassez afeta a expansão das empresas. Sem crédito para giro, ela não antecipa compras de insumos ou contratação de novos trabalhadores; sem crédito para investimento, ela não constrói novas fábricas e não compra novas máquinas. E o País segue andando de lado", afirma o pesquisador do Ibre/FGV e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público, José Roberto Afonso.
Executivos de grandes bancos de varejo no País dizem que, apesar de haver uma seletividade maior na concessão de crédito, os bancos estão mais dispostos a emprestar, mas a demanda por parte das empresas ainda não é relevante.
"Eu diria que já estamos vendo alguns sinais de retomada e que a crise ficou sim para trás. É normal que a retomada na jurídica demore mais mesmo, pois muitas empresas ainda estão com capacidade ociosa", diz o diretor vice-presidente do Bradesco, Domingos Figueiredo Abreu.
Na direção oposta, o financiamento das famílias engatou uma retomada consistente nos últimos meses. Desde de outubro do ano passado, o saldo de concessão de crédito para as pessoas físicas não para de crescer. Ele representa hoje 24,88% do PIB; há 10 anos, em 2007, representava 14,01% do PIB, segundo dados de José Roberto Afonso.
Até dezembro de 2016, a participação das empresas na carteira total de crédito do País era sempre superior à fatia do crédito pessoal. De lá para cá, porém, as posições não apenas se inverteram, como a diferença entre as duas modalidades vêm crescendo. Em agosto, 52,84% da carteira total de crédito referiam-se a empréstimos e financiamentos para pessoa física e 47,16%, para empresas, segundo dados do BC. No mesmo período do ano passado, esses porcentuais eram de 50,58% e 49,41%, respectivamente. Considerando um prazo mais longo, em dezembro de 2015, o crédito corporativo era responsável por 53,03% dos empréstimos.
A participação do Bndes na concessão de créditos reflete bem essa mudança. Pelos dados do Banco Central, apesar de ter crescido acima da média, os empréstimos do banco somaram em agosto R$ 3,6 bilhões para pessoa jurídica enquanto só os aposentados do INSS conseguiram R$ 5,5 bilhões de crédito consignado.
A retomada da concessão de crédito a famílias em detrimento de empresas está relacionada, segundo especialistas, ao nível de inadimplência. Em maio deste ano, tanto pessoas físicas como jurídicas atingiram recorde de negativados - 61 milhões e 5,1 milhões, respectivamente, segundo a Serasa Experian. A diferença é que, no caso das famílias, vem diminuindo, enquanto no das empresas permanece o mesmo.
Na comparação de agosto deste ano com o mesmo período em 2016, a inadimplência da pessoa jurídica no crédito livre, por exemplo, ficou inalterada em 5,5%. Já na mesma modalidade para pessoa física, houve redução de 6,2% para 5,7%. "Os bancos só vão acelerar o crédito para as empresas quando essa inadimplência começar a cair", afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
"Hoje, 47% das empresas não estão conseguindo gerar caixa nem para pagar despesa financeira. E não há crédito para refinanciar dívidas", afirma o diretor de competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho.

Para economista, restrição de recursos afeta diretamente a geração de empregos

 Em meio a um cenário de queda dos juros e inflação controlada, a liberação de crédito para as empresas ainda continua baixa. Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, essa retomada ainda vai ser lenta. "O canal do crédito não está normalizado ainda. Isso, obviamente, tem impacto na atividade econômica. O cenário macroeconômico vai ficar mais claro daqui para frente. A dúvida é como vai voltar e qual a intensidade. O crédito para pessoa jurídica tem implicações importantes na economia, com a geração de emprego e renda."
Houve um descolamento na liberação de crédito, que está maior para pessoa física. Os bancos ainda temem a crise?
Zeina Latif - A queda do crédito foi muito maior para pessoa jurídica do que para pessoa física. Isso tem a ver com risco. Vimos uma explosão de pedidos de recuperação judicial e aumento de inadimplência das empresas. Temos de lembrar que os pedidos de recuperação judicial têm uma insegurança jurídica grande. Os bancos não emprestam neste cenário, porque temem não recuperar o dinheiro.
Mas a crise afetou os consumidores, gerando desemprego...
Zeina - Isso não foi na mesma intensidade. A inadimplência (para pessoa física) não foi tão alta. O crédito para pessoa jurídica caiu muito mais, e a volta agora é mais lenta. Para pessoa física, o quadro é melhor. Houve aumento do crédito consignado. Vale lembrar, porém, que esse crescimento tem a ver com a mudança da legislação, que ficou mais flexível.
O Bndes tem emprestando menos. É reflexo da nova política econômica?
Zeina - No caso do Bndes, acho que tem a ver com a demanda. O volume de consultas não caiu. Empresas buscam mais crédito para fazer investimento. Ninguém está investindo ainda. É importante ressaltar que o Bndes tem tanto crédito direto, para as grandes empresas; e a outra metade é liberada por meio de outros bancos, que analisam riscos.
Qual o impacto do crédito restrito às empresas no mercado?
Zeina - O crédito é essencial, porque estimula a economia, cria emprego e renda. O governo está tentando aperfeiçoar ambiente regulatório. O volume de pedidos de recuperação judicial caiu em relação a 2016, mas ainda é alto sobre 2015.
Há incertezas sobre 2018?
Zeina - Eleição é eleição. Nunca o curto prazo foi tão importante quanto agora. A agenda é urgente para o País, e não podemos errar na eleição de 2018. Tem muita coisa em jogo. Um ambiente tumultuado vai atrapalhar os investimentos e a geração de emprego. Mas tem tido amadurecimento. O lado bom de acabar o dinheiro é que faz com que o discurso político seja mais responsável. Não há espaço para populismo.

Fintechs ocupam espaço dos bancos no empréstimo para empreendimentos

Mesmo adimplente, empresa de Malvezzi teve crédito suspenso; solução foi adotar plataforma de empréstimos

Mesmo adimplente, empresa de Malvezzi teve crédito suspenso; solução foi adotar plataforma de empréstimos


/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Sem nunca ter atrasado uma conta, Paulo Malvezzi, fundador da Tech For - empresa que presta serviços em tecnologia na área de informática -, foi surpreendido com um aviso do banco comunicando o corte de todas as suas contas garantidas. "Foi do dia para a noite. O banco nivelou por baixo: falou que o mercado estava pressionado pela inadimplência e que iria suspender as nossas linhas de crédito - sendo que a empresa tem 10 anos e nunca ficou inadimplente."
Por meio de um colega empresário, há quatro meses, Malvezzi conheceu a Biva - plataforma de empréstimos que faz a intermediação entre investidores e tomadores de crédito. Em 30 dias, o dinheiro já estava na conta. "A proposta é muito interessante, pois há uma avaliação do seu negócio, da sua necessidade e da sua gestão financeira", diz. "Eu tinha um prazo de pagamento de 90 dias e fortaleci meu caixa para gerar mais venda. Com o aporte, alavanquei os clientes e aumentei o faturamento em 30%."
A Biva é uma das fintechs que vêm ocupando o espaço deixado pelos grandes bancos de varejo, mais avessos ao risco, em meio ao enxugamento de crédito na praça. Essas plataformas digitais, já mais consolidadas na modalidade de empréstimo pessoal, agora também começam a oferecer soluções para empresas, seja por meio de leilões ou pela modalidade "peer to peer lending", que une tomadores e credores.
"A gente permite que pessoas invistam no financiamento de outras pessoas e empresas. A vantagem, por haver um grupo de investidores, é que quem toma crédito paga menos juros, e quem empresta tem rentabilidade bem acima da Selic", conta Jorge Vargas Neto, fundador da Biva.
Em sua plataforma, a fintech financia desde MEIs (Microempreendedor Individual) a empresas médias, com faturamento anual de R$ 130 milhões. O valor máximo financiado é de R$ 500 mil, com prazo de até dois anos.
"Hoje, 76% do volume financiado é para pessoa jurídica. Nos bancos tradicionais, essa carteira se inverteu", diz. A empresa já movimentou mais de R$ 46 milhões em empréstimos.
Outro modelo para financiamento é o de leilão - a aposta da F(x), criada em 2015. Na plataforma, as empresas registram a necessidade de capital e as garantias de que dispõem, e podem receber propostas dos mais de 170 financiadores cadastrados, como bancos pequenos e médios, fundos de investimento e financeiras.
Com algoritmos e inteligência artificial, a plataforma cruza dezenas de dados e faz o "matching" entre empresários e financiadores, mostrando a melhor opção segundo o perfil cadastrado e as necessidades da empresa.
"O grande problema do Brasil é o crédito, e nós queremos democratizá-lo utilizando a tecnologia", diz Dan Cohen, sócio e fundador da F(x). Ele afirma que mais da metade das empresas que recorrem ao serviço não conseguiu financiamentos nos grandes bancos comerciais.
"Hoje, 90% das empresas cadastradas recebem propostas de financiamento - algumas até sete em um único dia", diz Cohen. A plataforma já movimentou R$ 400 milhões em propostas de crédito, e tem registradas empresas com faturamento que vão de R$ 10 milhões a R$ 2 bilhões.
Essas modalidades, apesar de estarem em grande expansão, ainda não contam com regulamentação. No final de agosto, porém, o Banco Central lançou consulta pública para regulamentar as fintechs - que vão de empresas de cartão a robôs investidores.
No campo do crédito, a proposta do Banco Central é classificar as instituições financeiras entre as que concedem empréstimos com capital dos próprios acionistas e as que conectam investidores a tomadores. Pelo cronograma do Banco Central, a consulta vai até 17 de novembro.