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finanças

- Publicada em 15 de Outubro de 2017 às 21:51

Dívida de cartão ainda pesa

Volume de recursos para pagar as despesas feitas com cartões aumentou de abril até setembro deste ano

Volume de recursos para pagar as despesas feitas com cartões aumentou de abril até setembro deste ano


FRANKIELEON/VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Passados seis meses das mudanças nas regras do rotativo do cartão de crédito e com sucessivas quedas na taxa básica de juros, a Selic, o brasileiro que precisou recorrer a esse instrumento não chegou a pagar metade do que desembolsa em juros antes da mudança.
Passados seis meses das mudanças nas regras do rotativo do cartão de crédito e com sucessivas quedas na taxa básica de juros, a Selic, o brasileiro que precisou recorrer a esse instrumento não chegou a pagar metade do que desembolsa em juros antes da mudança.
Levantamento feito pelo aplicativo de controle financeiro GuiaBolso mostra que com as novas regras o peso dos juros ficou 41% menor do que era antes. Entre abril e setembro deste ano (com as mudanças no cartão), o valor pago em juros pelos 524 mil usuários da plataforma foi de R$ 30,38 por mês. Se olhar para o período imediatamente anterior às mudanças, entre outubro de 2016 e março de 2017, os consumidores gastaram R$ 51,67 em juros em média.
O rotativo é acionado quando o cliente paga qualquer valor entre o mínimo da fatura e o total. Em março, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou um limite de uso do rotativo: 30 dias. Passado o período, haverá uma migração automática para o parcelado do cartão, que também tem um juro alto, embora menor do que o do rotativo, de 397,4% ao ano, segundo o Banco Central (BC). O rotativo continua a mais cara linha de crédito.
A Selic, taxa básica de juros da economia e referência tanto para investimentos, sobretudo em renda fixa, como para os juros do crédito, caiu 4,75 pontos percentuais de janeiro a setembro deste ano. Essa queda poderia ter ajudado os juros a caírem mais, sobretudo após as mudanças, explica Mauricio Godoi, especialista em crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios.
Na prática, se a Selic saiu dos 14,25% vistos no ano passado e pode chegar a 7% no fim do ano, o custo do dinheiro entre os bancos caiu a metade, mas a mesma proporção não foi repassada para os clientes. "Os juros dos investimentos vão caindo consideravelmente mas os juros do cartão não acompanham", critica Godoi.
Ele explica que o descompasso ocorre principalmente por causa do risco de inadimplência, que na modalidade está em 39,2%, de acordo com o Banco Central. Por isso, mesmo com as novas regras do cartão de crédito, as condições para quem recorre a esse tipo de dívida continuam difíceis. O valor mensal pago no parcelado do cartão, modalidade para onde vai consumidor que fica por mais de 30 dias no rotativo, aumentou 3%, segundo o estudo do GuiaBolso.
Antes das novas regras, os usuários gastavam, em média, R$ 388,42 mensais para pagar as dívidas do cartão de crédito. Com as mudanças, esse valor subiu para R$ 400,02. "Se tiver com o nome limpo, é melhor recorrer ao crédito consignado ou ao crédito pessoal, que é ainda mais barato", aconselha Godoi.
O gerente de Inteligência de Negócios, Thiago Meira Kaippert seguiu o recomendado pelo especialista. Em maio, quando voltou da lua de mel, ele tinha na mesma fatura as parcelas do casamento ocorrido em setembro do ano passado, os gastos da viagem e o investimento em uma pós graduação. Para não cair na ciranda dos juros do rotativo e do parcelado, Kaippert resolveu partir logo para uma dívida mais barata, e contratou um empréstimo pessoal.
Ao comparar taxas, ele e o marido, Leonardo Kaippert, chegaram a encontrar um diferença de 50% entre as taxas oferecidas no mercado e a que eles contrataram na plataforma de crédito on-line Just.
Passado o sufoco, ele ensina: "O maior problema foi parcelar a perder de vista. Melhor tentar pagar em menos vezes para as contas não caírem no cartão todas de uma vez. Sorte que corremos do rotativo", diz.
Bruno Poljkan, diretor da startup de crédito Just, aconselha a contratar um empréstimo que não comprometa mais do que 20% da sua renda. Ele conta que mesmo com as novas regras, os empréstimos feitos para quitar dívidas mais caras representam 70% dos contratos.

Brasileiro se diz cauteloso ao gastar, mas não planeja nem consegue fazer poupança

Cair na tentação e gastar com algo que não precisava ou até mais do que poderia é o principal motivo que leva a maioria das pessoas a não conseguir fazer poupança para usar em situações inesperadas ou para ter renda extra no futuro. O curioso é que, de acordo com uma pesquisa realizada pela Anbima, associação que representa entidades do mercado de capitais no País, oito em cada 10 brasileiros reconhecem a importância de fazer essa reserva, porém mais da metade da população não começou a guardar dinheiro.
O levantamento também mostra que a maioria dos brasileiros até se considera cuidadosa na hora de controlar os gastos, mas, na contramão, quase 60% das pessoas assumem que não gostam de se planejar e que preferem esperar as coisas acontecerem para só então tomarem alguma atitude. As respostas obtidas pela pesquisa brasileira refletem a análise proposta pelo estudo que garantiu o Prêmio Nobel de Economia de 2017 ao norte-americano Richard Thaler.
Um dos pais da economia comportamental, em que a psicologia se une à ciência econômica, Thaler propõe os conceitos da "contabilidade mental", na qual explica de que forma as pessoas simplificam as decisões financeiras, tornando-as menos racionais do que se imaginava. Os estudos de Thaler mostram como a falta de autocontrole, em que as tentações de curto prazo sabotam o planejamento de longo prazo, como uma reserva mensal de dinheiro para a aposentadoria acaba trocada pela parcela de financiamento de um carro, por exemplo.
"A teoria da economia comportamental trata o dinheiro de forma muito mais próxima da nossa realidade. Não dizendo como deveríamos agir, mas como, de fato, agimos", descreve a planejadora financeira e professora Paula Sauer, da Planejar.
A especialista esclarece que, ao contrário do que costuma ser difundido quando se fala de finanças pessoais, não existem modelos e regras fixas a serem seguidas. Cada pessoa tem experiências próprias e vive momentos distintos que influenciam nas decisões financeiras. "As escolhas que fazemos são sempre sob pressão de tempo e emoções, o que deixa a racionalidade distante." Por isso, é ideal se conhecer, saber o que o deixa mais suscetível a consumir por impulso ou a postergar o hábito de poupar.
O grande desafio, na visão do presidente do Comitê de Investidores da Anbima, Aquiles Mosca, é que a maioria das pessoas vê o planejamento financeiro como uma privação de consumo. "Elas não querem deixar de ter os pequenos prazeres da vida." O presidente da entidade acredita, ainda, que essa característica é mais evidente entre os brasileiros, que gastam muito, independentemente do perfil de renda. "Toda renda extra tem como direcionamento primordial o consumo imediato", aponta. Para Mosca, tal comportamento ajudaria a explicar porque 97% dos aposentados não têm liberdade financeira e precisam reduzir o padrão de vida.
Além da baixa capacidade de poupança, a falta de planejamento resulta na alta inadimplência. Os dados de setembro da SPC Brasil apontam que há 59 milhões de brasileiros com contas no vermelho.
Na opinião de Paula, grande parte da dificuldade de lidar com as finanças está em como tratar o tema. "O dinheiro deve ser assunto frequente nas conversas familiares. Não pode ser espinhoso nem exclusivo dos momentos de crise."