"Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica" (Paulo Freire). Seja nos tribunais da internet ou nas tribunas dos botecos, sempre há quórum qualificado para debater acertos e erros de outrem no país dos técnicos de futebol. Ninguém sai impune se tiver opinião.
E cada posicionamento pode custar mais do que uma amizade virtual. Fãs e haters acotovelam-se em um júri de desafetos onde o valor dos argumentos é suprimido pela quantidade de partidários. Em nau de dúvidas é impossível marear entre dicotomias sem cruzar por tempestades. Não é possível nos escondermos no silêncio. A cada decisão tomada, excluímos outras possibilidades, revelando-nos aos poucos. Como se nossas escolhas fossem tecendo um fio, costurando fronteiras.
Todo discurso é engajado, e não há movimento sem intenção. Nessa profusão de interesses, a isenção é mais do que utopia, é mito. Pedra ou vidraça é uma relação tão definitiva quanto falante ou ouvinte. Nesse cenário, até mesmo a dicotomia precisa ser revista, pois nada cabe dentro de uma única medida. Essa alegoria tem mais função didático-pedagógica do que sociológica, ao passo que se descola do cotidiano e suas intermináveis variáveis, ou como as apostilas gostam de chamar, exceções. Vivemos a descrença com tempo de convicção, ansiosos por teorias que nos tirem desse catavento de informações. Seguiremos, como Vinicius de Morais seguiu, no seu poema Inatingível: com as mãos na boca, em concha, gritando para o infinito a nossa dúvida.
Presidente do Instituto de Estudos Políticos Ildo Meneghetti