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Publicada em 01 de Setembro de 2017 às 14:37

Homeopatia ganha espaço na pecuária

Entre as vantagens, especialistas apontam a redução de custos com fármacos tradicionais

Entre as vantagens, especialistas apontam a redução de custos com fármacos tradicionais

MARCELO G. RIBEIRO/MARCELO G. RIBEIRO/JC
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Ana Esteves
O uso de medicamentos homeopáticos para o tratamento de animais de grande porte tem ganhado cada vez mais adeptos na pecuária gaúcha. Entre as vantagens, está a redução de custos com fármacos convencionais e a possibilidade de manter os animais leiteiros em produção, mesmo durante o tratamento, já que os homeopáticos têm resíduo zero. A médica veterinária Maria do Carmo Arenales, diretora da Arenales Homeopatia Animal, diz que a economia com o uso de medicações convencionais pode chegar a 90% para gado de leite, e a 50% se a homeopatia for usada no gado de corte.
O uso de medicamentos homeopáticos para o tratamento de animais de grande porte tem ganhado cada vez mais adeptos na pecuária gaúcha. Entre as vantagens, está a redução de custos com fármacos convencionais e a possibilidade de manter os animais leiteiros em produção, mesmo durante o tratamento, já que os homeopáticos têm resíduo zero. A médica veterinária Maria do Carmo Arenales, diretora da Arenales Homeopatia Animal, diz que a economia com o uso de medicações convencionais pode chegar a 90% para gado de leite, e a 50% se a homeopatia for usada no gado de corte.
Os ganhos também são percebidos em termos produtivos, já que, ao contrário do que ocorre com animais tratados com medicação alopática, o leite não precisa ser descartado e nem o animal cumprir quarentena. "No caso das mastites (inflamação no úbere) das vacas leiteiras, o produtor não precisa retirar o animal de produção, pois os fármacos homeopáticos não contêm resíduos. Pela farmacologia tradicional, dependendo do antibiótico, os animais ficam de três a 15 dias fora de produção", informa Maria do Carmo.
A diretora da Arenales dá o exemplo de numa propriedade com 800 vacas em lactação, cujo criador tinha um prejuízo de US$ 4 mil por mês, pela perda de leite e com os custos de medicamentos alopáticos. "O produtor pode não receber pela qualidade do leite, mas vai vendê-lo e não terá prejuízo", diz. Depois que o animal estiver recuperado, ganhará por aumento de produção, pois evitará mastite subclínica e contará com aumento dos sólidos totais, redução de células somáticas e controle do estresse.
A infestação por moscas e carrapatos nos rebanhos também tem sido controlada com o uso da homeopatia, já que muitos carrapaticidas não funcionam mais, pois desenvolveram resistência. "Nesse cenário de saturação do uso de antibióticos, de pesticidas, de venenos resultando em organismos resistentes, tem aumentado a preferência pelo uso de um produto natural, que não causa efeitos colaterais", diz Paulo Sérgio Telles da Cruz, médico veterinário e consultor da Orgânica Homeopatia Veterinária.
Cruz explica que com a homeopatia o carrapato não "cairá" em 24 horas, como ocorre com o tratamento químico. No entanto, será desenvolvida a imunidade do bovino e ele começará a combater o parasita de dentro para fora. O fato dos pesticidas não estarem funcionando mais, nas doses recomendadas, tem feito com que os produtores aumentem as doses, o que reflete no aumento dos custos e maior índice de resíduos na carne. "Os alopáticos não conseguem mais ter eficácia e a questão de resíduos é um grande problema de saúde nos consumidores", diz Maria do Carmo.
Alguns criadores também têm optado pelo uso da homeopatia para tratamento de problemas reprodutivos e para incrementar a fertilidade. "Vamos a muitas propriedades que têm alto índice de abortos, não sabem a causa, acham que é doença infectocontagiosa, leptospirose, usando hormônios caríssimos e com nossos medicamentos conseguimos sanar isso tudo", diz Maria do Carmo.
O diretor de pesquisa e desenvolvimento da Real H Homeopatia, médico veterinário Claudio Martins Real, explica que, ao contrário dos medicamentos alopáticos, a homeopatia vai agir de forma concentrada no órgão doente. "Se você usar um anti-inflamatório alopático, ele vai agir no local a ser tratado, mas terá reflexos gástricos, como gastrites e até úlceras. Se essa medicação for homeopática, ela vai focar no órgão alvo, pois age via sistema nervoso, de forma estimulatória. O medicamento homeopático não tem efeito colateral, já o alopático, se você ler a bula, não toma", diz.
Os compostos homeopáticos para bovinos são quase todos elaborados na forma de pó para serem colocador no cocho, misturados ao sal ou à ração. Cada dose contém substâncias diluídas, dinamizadas (agitadas). O produto tem capacidade de fazer com o que o animal tenha uma resposta na busca pelo equilíbrio, combatendo as doenças de forma natural.

Veterinários reconhecem eficácia para o bem-estar animal

O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), José Arthur Martins, diz que o conselho reconhece a homeopatia como uma das únicas especialidades da medicina veterinária. "O CRMV-RS vê como muito bons olhos o uso da homeopatia, pois sua eficácia está comprovada cientificamente e dá resultados, tanto na clínica de pequenos como na de grandes animais. Então, porque não usá-la?", diz Martins.
O dirigente do CRMV-RS afirma que a homeopatia é mais um componente da cadeia do bem-estar animal, que também inclui pastagem de boa qualidade e ordenha em local menos estressante.
Paulo Sérgio Telles da Cruz acrescenta que a homeopatia deve ser usada em conjunto com boas práticas no campo, melhorar o ambiente como forma profilática. "Não adianta tratar o carrapato, se não roçar o campo, se não fizer rodízio de animais. Tem muito produtor que usa homeopatia por um tempo e depois tem que voltar para alopática, porque as medidas profiláticas não foram suficientes. É preciso remover os obstáculos", diz.

Cabanha reduz custo de tratamentos em 70%

Duarte destaca aumento da fertilidade nas vacas receptoras

Duarte destaca aumento da fertilidade nas vacas receptoras

JONATHAN HECKLER/JC
O proprietário da Cabanha Touro Passo, de Uruguaiana, Guilherme Duarte, usa homeopatia há 11 anos para combater o carrapato e já conseguiu reduzir em 70% o custo com o uso de carrapaticidas químicos. "A infestação é alta na propriedade e chegamos a perder 20% da terneirada nascida, em função da tristeza parasitária."
Duarte conta que começou a usar homeopatia com "um pé atrás", mas que funcionou muito bem e que durante 12 meses, não precisou usar qualquer tipo de carrapaticida químico. "A ideia da homeopatia não é liquidar com o carrapato, mas aprender a lidar com ele dentro dos níveis aceitáveis, sem que ele cause prejuízo. Faz com que infestação diminua, mas garante que o animal continue em contato mínimo com o carrapato, para que desenvolva imunidade contra o parasita", explica.
O pecuarista diz que com os carrapaticidas as vacas ficam com a imunidade baixa e, com isso, não passam anticorpos para o terneiro, através da amamentação. "Com a homeopatia, isso não ocorre e a vaca consegue transferir a imunidade para a cria. Além disso, a carne pode ser considerada orgânica, pois não contém químicos."
Duarte também usa homeopatia para aumentar a fertilidade nas vacas receptoras e melhorar o grau de prenhez. "Usamos ainda nos touros pais, com problema na formação do sêmen que era baixa e aumentou com o tratamento homeopático."

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