Com crescimento discreto ao grande público, setor voltado ao consumidor adulto se consolida - e tem muito a ensinar. Assunto será um dos temas de evento na Capital

Mercado erótico movimenta R$ 1 bilhão por ano


Com crescimento discreto ao grande público, setor voltado ao consumidor adulto se consolida - e tem muito a ensinar. Assunto será um dos temas de evento na Capital

Há 12 anos, os corretores de seguros Inajá Barros, 52 anos, e Stefanos Gomes, 50, estavam à procura de um ramo promissor para empreender. Após um ano inteiro de pesquisas e o capital de dois carros, abriram em Porto Alegre a loja de artigos eróticos Piacere Sexy Shop. No Brasil, são 11 mil pontos de venda nesta categoria, 90% deles classificados como micro e pequenas empresas. Elas geram direta e indiretamente mais de 100 mil empregos e movimentam R$ 1 bilhão ao ano, segundo dados atualizados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme).
Há 12 anos, os corretores de seguros Inajá Barros, 52 anos, e Stefanos Gomes, 50, estavam à procura de um ramo promissor para empreender. Após um ano inteiro de pesquisas e o capital de dois carros, abriram em Porto Alegre a loja de artigos eróticos Piacere Sexy Shop. No Brasil, são 11 mil pontos de venda nesta categoria, 90% deles classificados como micro e pequenas empresas. Elas geram direta e indiretamente mais de 100 mil empregos e movimentam R$ 1 bilhão ao ano, segundo dados atualizados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme).
Ao todo, entra na conta 30 fábricas, 50 atacadistas, 15 importadores, 1 mil lojas virtuais, 80 mil consultoras domiciliares e um mix estimado em mais de 15 mil itens disponíveis no País, para todos os gostos e bolsos. Na Piacere, por exemplo, há desde preservativos que custam R$ 6,90 a vibradores importados de R$ 1,5 mil. "O mercado erótico mundial é muito evoluído a nível de sofisticação tecnológica e de materiais", ilustra Inajá. É de fora, também, a origem da maioria dos produtos da loja.
Administrar um negócio que lida diretamente com a intimidade das pessoas tem as suas particularidades. "No início, tentamos colocar a loja em shoppings e nenhum quis", lembra Stefanos. O horário de atendimento, das 13h às 22h30min, e a disponibilidade de pronta-entrega no e-commerce são alguns dos atributos da marca.
O site é a principal porta para os clientes do interior do Estado. "Há um tempo, o público era 80% feminino. Hoje, está mais equilibrado", afirma Inajá. No contexto nacional também: as mulheres respondem por 68% do consumo em sex shops.
E o desafio, na crise, é o de captar clientes, uma vez que 83% da população nunca experimentou um produto erótico, conforme a Abeme. "Nosso mercado ainda lida muito com tabu e preconceito. Contraditoriamente, o Brasil é um país conservador a respeito da sexualidade", afirma a empreendedora, que também é assistente social. Para gerar esta aproximação com o público, Inajá participa de chás de lingerie sem cobrar nada, onde bate-papo sobre sexualidade e expõe os produtos da loja. Basta ligar para a Piacere e marcar - com antecedência, pois a procura é alta. (Deu curiosidade de conhecer? O ponto de venda fica no bairro Cidade Baixa, na Rua da República, 490.)
Com crescimento de 2,8% em 2016, este mercado se amplia também devido à busca por uma renda complementar a partir da venda autônoma dos itens por catálogo, e o aumento da exportação de géis, cremes e lubrificantes, que são o forte da indústria nacional, para Estados Unidos e Europa. O maior volume de vendas se concentra em São Paulo (33%) e, quando o assunto é e-commerce, o Rio de Janeiro é o segundo maior mercado, com 16%. Nesta lista o Rio Grande do Sul é o quarto colocado, com uma fatia de 6%.

Casal cria clube de assinatura com peças de sedução em Portão

Foi com criatividade e instinto empreendedor que o casal Daiane Malgarin, 27 anos, e Maicon Ribeiro Esteves, 33, de Portão, criaram o clube de assinaturas Adeus Rotina. O empreendimento envia mensalmente uma caixa com até sete produtos eróticos pelo Brasil.
Tudo começou em 2014, quando os dois perceberam o potencial deste mercado em uma reportagem que retratava a realidade dos Estados Unidos no segmento. "Lá, não era com esse viés erótico. Nas caixinhas, iam chocolates, canecas, entre outros produtos", descreve Maicon.
A matéria despertou o desejo de emplacar um projeto próprio, algo que eles já vinham buscando. Maicon é programador e Daiane, designer. A dupla passou, então, a pesquisar se existia algo parecido no Brasil e encontraram somente dois clubes de assinatura. A partir disso, Maicon e Daiane fizeram um Produto Mínimo Viável (MVP), uma versão mais simples do produto para testar no mercado. Dois dias depois, tinham seus primeiros clientes. "Lembro que foi um pessoal de São Paulo que comprou", afirma Maicon.
Nos primeiros meses, o Adeus Rotina foi destaque em uma matéria do jornal Folha de S. Paulo, o que gerou mais retorno. "Depois desta reportagem, muita gente começou a nos procurar e passamos a ganhar mais clientes", lembra ele. Após participarem de eventos de empreendedorismo, viram que era hora de se dedicar 100% à empresa.
Em 2016, integraram o Startup RS, do Sebrae, conquistando o terceiro lugar. Como recompensa, entraram no Startup RS Scale.
Além dos brinquedos eróticos, as embalagens levam cartas de baralho temáticas, bebidas, cremes e uma revista com dicas para ajudar a experiência do casal. "Somos uma empresa que entrega experiências, não só produtos", continua Maicon.
Hoje, o clube tem 1 mil assinantes e o plano mensal custa R$ 89,00.
 

Ex-BBB estará na Capital para falar da indústria

Mayara Medeiros tem 29 anos e mora em São Paulo. Formada em Artes, a empreendedora e diretora de filmes adultos ficou conhecida nacionalmente após participar da 12ª edição do reality show Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo. Desde muito antes disso, no entanto, já trabalhava na indústria erótica. "Só que eu não via mulheres atrás das câmeras, e isso me gerava inúmeros questionamentos", conta. No ramo desde 2006, Mayara iniciou sua carreira no site Xplastic e está à frente da produtora audiovisual LuzVermelha.tv. No próximo sábado, ela é uma das palestrantes do BS Festival, que reúne mais de 50 palestrantes no Shopping Total. Sua atividade leva o nome de O que a indústria erótica pode ensinar sobre monetização ao mercado?.
Há um ano e meio, Mayara lançou a plataforma Safada.tv, que pretende ser uma Netflix do mercado erótico brasileiro. A iniciativa fomenta a indústria local, com uma proposta comum a qualquer serviço de streaming. Com assinaturas a R$ 9,99 mensais, o diferencial é que 50% do valor fica com os donos dos canais, a partir da inscrição dos usuários - que acabam financiando diretamente suas produtoras, atrizes e atores pornô preferidos. "A gente não pode esquecer que pornografia é uma área do entretenimento, e como toda a indústria do entretenimento, passa por uma revolução."
O público consumidor da plataforma - diferentemente das sexshops - é majoritariamente masculino. Mayara contextualiza que "90% são homens, de 25 a 40 anos", com destaque para o acesso via dispositivos móveis. São em média 1 mil assinantes mensais na Xplastic e 4 mil no Safada.tv, o que gera cerca de 50 mil assinantes ao ano. Dada a popularidade de sites grátis com a mesma temática, "é preciso fazer o público entender que vale a pena pagar". 
 “Estamos trabalhando com pornografia porque é um lugar em que a gente pode questionar muitas estruturas”, comenta ela, que sempre procura destacar a figura feminina sob o viés do empoderamento em seus filmes. “Eu quero assistir filmes de outras mulheres, e quero que falar sobre sexo e corpo não seja um problema pra outra mulher”, defende. E trabalhar com pornografia nem sempre está relacionado ao sexo explícito. Boa parte da renda da produtora vem dos canais de tv fechados e do programa Pornolandia, produzido para o Canal Brasil, que debate temas sobre sexualidade e diversidade.
Ela sustenta ainda, que há muito o que aprender com o mercado erótico em termos de vendas e divulgação. “Pornografia é uma área que precisa driblar dificuldades para chegar ao público, é muito difícil trabalhar com anúncios, por exemplo. Então trabalhamos muito em produzir um conteúdo que fala diretamente com o consumidor”, afirma. Além disso, a indústria requer reinvenção constante. “A gente está lidando com desejos muito íntimos e isso é muito cíclico. Aprendemos a ser muito ouvinte das pessoas”, completa.