Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Sustentabilidade

- Publicada em 11 de Setembro de 2017 às 21:16

Conforto térmico em telhados e paredes verdes

Na escola Universo Mágico, gramado fica no terraço, em uma área que também serve de jardim para as crianças brincarem

Na escola Universo Mágico, gramado fica no terraço, em uma área que também serve de jardim para as crianças brincarem


JONATHAN HECKLER/ JONATHAN HECKLER/jc
A presença do verde em Porto Alegre não pode ser menosprezada - segundo dados do Censo do IBGE de 2010, a capital gaúcha é uma das quatro grandes cidades mais arborizadas do País. Além de espaços tradicionais da cidade, como canteiros, praças e parques, a vegetação começa a ganhar espaço também em meio ao concreto e ao vidro dos prédios - na forma de telhados e paredes verdes, que oferecem vantagens ambientais e térmicas às construções.
A presença do verde em Porto Alegre não pode ser menosprezada - segundo dados do Censo do IBGE de 2010, a capital gaúcha é uma das quatro grandes cidades mais arborizadas do País. Além de espaços tradicionais da cidade, como canteiros, praças e parques, a vegetação começa a ganhar espaço também em meio ao concreto e ao vidro dos prédios - na forma de telhados e paredes verdes, que oferecem vantagens ambientais e térmicas às construções.
No caso de Porto Alegre, as paredes verdes ainda não têm uma presença tão forte. Mas se destacam em dois empreendimentos importantes apresentados à população neste ano - a nova sede da Unisinos, na avenida Nilo Peçanha, e a loja da rede Lebes no antigo Edifício Guaspari, no Centro Histórico. Os telhados verdes, menos visíveis, estão em áreas como o espaço Multipalco, ao lado do Theatro São Pedro, e o topo da loja C&A da Rua dos Andradas, por exemplo.
Uma das principais empresas de pesquisa e instalação de paredes e telhados verdes no país, a Ecotelhado tem sede em Porto Alegre e vê o mercado crescer cada vez mais. "Em 10 anos, já construímos mais de 500 mil metros quadrados (de telhados e paredes verdes) em todo o Brasil e também em outros países", contabiliza o engenheiro agrônomo João Manuel Feijó, um dos fundadores da Ecotelhado. Segundo ele, a procura cresce na ordem de 20% a cada ano. "Quando começamos, alguns arquitetos riam dessa ideia. Hoje, não há um arquiteto que não tenha feito algum projeto com telhado verde, por exemplo. Ainda é uma minoria em projetos novos, mas vem crescendo", explica Feijó.
Um desses telhados construídos recentemente está no topo da escola de educação infantil Universo Mágico, no Jardim do Salso, na Capital. O gramado fica no terraço, em uma área onde as crianças da escola podem brincar ao ar livre. "Buscamos que as crianças sempre tenham contato com a grama, com a natureza", conta a diretora da escola, Sandra Wiebbelling. A ideia de transformar o topo da nova sede da escola - concluída em março - em um gramado surgiu por sugestão do engenheiro responsável pela obra. Os efeitos na temperatura se fizeram sentir, especialmente no verão. "O telhado deu uma diferença de temperatura, fica mais fresquinho. De fato, usamos menos o ar-condicionado nas salas de aula do último andar", relata a diretora.
A estrutura do telhado verde - em que uma espécie de bandeja plástica fica abaixo da camada de terra onde o gramado é plantado - permite o reaproveitamento da água da chuva. "Nem precisamos molhar a grama no inverno", conta Sandra, lembrando que a escola deverá aproveitar a água da chuva em banheiros e jardins, depois de concluída a segunda fase da construção, prevista para ser concluída no ano que vem. "Vamos ter também um telhado com placas fotovoltaicas, para gerar energia e amortecer o consumo", adianta a diretora.
As soluções verdes contemplam pelo menos três aspectos importantes em uma construção sustentável: a possibilidade de reaproveitar a água, a renovação do ar e o isolamento térmico. "Hoje, em torno de 40% dos gastos com energia são com climatização. Os telhados e paredes verdes ajudam nisso. A planta consome energia na fotossíntese. O vidro, por exemplo, reflete a luz", compara Feijó. Outros itens de sustentabilidade que ainda poderão ganhar espaço nas casas e condomínios, por exemplo, são o tratamento dos resíduos via compostagem e a produção de alimentos em hortas. "Em alguns lugares, como em Cingapura ou São Francisco, em torno de 20% do consumo da cidade é produzido nos próprios terrenos. Existe também a tendência à autossuficiência em energia, por exemplo. A resiliência de uma cidade se mede pela autossuficiência dos indivíduos em todos os aspectos. Hoje, isso é cada vez mais valorizado", diz Feijó.

Análise de desempenho adequado é novo desafio do setor

Enquanto o Brasil vê crescer o número de projetos e construções registrados para obter certificados de construção sustentável, um novo desafio vai se impor ao setor: a certeza de que a operação desses imóveis vai efetivamente garantir a eficiência energética planejada previamente. Essa tem sido uma das preocupações do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) integrada por pesquisadores, construtoras, projetistas, representantes de governo e entidades da construção civil de todo o País.
"As certificações avaliam projetos, e agora chegamos à etapa de avaliar a operação. Um edifício com certificado não necessariamente tem um desempenho adequado durante sua operação. Como também um grupo de edifícios certificados não representa uma cidade ou bairro sustentável", analisa a gerente executiva do CBCS, Carolina Mendes. Segundo ela, o conselho vai buscar articular o setor para que essa avaliação seja feita pelo modelo de Avaliação de Ciclo de Vida Modular, com base em cinco indicadores: CO2, demanda cumulativa de energia, demanda de água, resíduos e recursos naturais. "Outra análise que deve ser feita num futuro breve é quanto ao desempenho dessas edificações frente ao cenário de mudanças climáticas", alerta.
O período de austeridade econômica também poderá servir para uma reavaliação dos critérios do mercado da construção quanto à sustentabilidade. "Agora, talvez seja um momento de reorganização e realinhamento para que, no momento em que o crescimento volte a ocorrer, seja de maneira sustentável. Isso também pode ser uma crítica ao que vem sendo desenvolvido até este momento. Já tínhamos um paradigma de sustentabilidade implementado ou a busca por certificações atendia somente a demandas de mercado?", questiona Carolina.
Um outro desafio, do ponto de vista do conselho, é o trabalho de conscientização do público. "É necessário levar o conceito e o conhecimento da sustentabilidade ao usuário, para que ele o aplique em sua edificação, sendo numa reforma ou na operação de sua unidade construída. As pessoas aqui são o principal elo para o sucesso das construções sustentáveis. Para isso temos que chegar mais perto delas mostrando como fazer e o que fazer", ressalta Carolina.