Ricardo Gruner
Imagine se Bad romance, sucesso de Lady Gaga em 2009, tivesse sido escrito em 1920 e embalasse as festas do filme O grande Gatsby. Ou que Bad blood (2015), de Taylor Swift, fosse um jazz do repertório de Ella Fitzgerald. Esse é o trabalho do norte-americano Scott Bradlee, pianista e criador do Postmodern Jukebox, um canal no YouTube com cerca de 3 milhões de seguidores. Abastecida semanalmente, a iniciativa conta com vídeos gravados em tomadas únicas. Neles, um grupo de músicos sem formação fixa se dedica a esse tipo de releitura - com direito até a figurino de época.
Desde 2015, o Postmodern Jukebox tem a agenda dividida entre os registros - os quais já geraram uma série de discos - e as estradas. O coletivo está pela primeira vez no Brasil, onde faz quatro shows nos próximos dias. A estreia, em Porto Alegre, ocorre hoje: o espetáculo é atração no Opinião (José do Patrocínio, 834), às 21h. Ingressos entre R$ 125,00 e R$ 280,00 - pelo site www.blueticket.com.br ou nas lojas Youcom.
Doo-wop, jazz, R&B e swing são alguns dos estilos musicais que aparecem nas versões capitaneadas por Bradlee, que tocava como pianista em bares e restaurantes de Nova Iorque antes de se tornar um viral na internet. Desde 2013 envolvido com a atividade neste formato atual - mas com experiência em iniciativas embrionárias anos antes -, o artista descreve o projeto como "um mundo escapista de fantasia".
A lista de releituras inclui expoentes de gêneros diversos. Metallica, Radiohead, Lorde, Beyoncé, Miley Cyrus, Sublime e Madonna são só alguns dos exemplos que tiveram suas músicas adaptadas pela trupe. Algumas dessas estrelas até elogiaram ou compartilharam as versões nas redes sociais. "Nós temos mais retorno de artistas pop, mas muitos músicos antigos também são fãs", afirma o idealizador do projeto. "Eles dizem que ajudamos nossos admiradores a descobrir o jazz."
De acordo com Bradlee, o processo de adaptação de canções para um estilo que esteve mais em voga tempos atrás é curioso. "Gosto de olhar para as letras e ver se há algum trecho que me lembre de décadas passadas. Sweet Child O'mine, do Guns N' Roses, tem a estrutura de uma velha canção de blues", exemplifica o idealizador. "Então eu imaginei como ela soaria caso fosse gravada por Bessie Smith em Nova Orleans nos anos 1920", conta.
Dar a sucessos mais ou menos recentes um clima vintage, entretanto, não é visto por Bradlee como levantar nenhuma bandeira contra a produção que rege as rádios jovens. "Acho que o pop contemporâneo é importante por refletir a cultura que vivemos - são canções que ressoam com milhões de pessoas", opina. A predileção por arranjos e registros que passam longe do pop computadorizado é uma questão de gosto. "Eu tenho um certo 'espírito idoso', prefiro as coisas mais antigas", brinca.
Conforme ele, o Postmodern Jukebox traz ao Brasil uma dúzia de músicos. O setlist das turnês costuma ser escolhido de acordo com os vocalistas disponíveis para os shows em questão - então cada espetáculo é único, seja pela formação da banda ou pelas faixas escolhidas.