Uma semana depois do anúncio do novo programa de privatizações do governo Michel Temer, que incluiu Eletrobras e outras estatais, o presidente do Banco do Brasil (BB), Paulo Caffarelli, disse que o banco analisa liberar até R$ 50 bilhões em crédito para 18 projetos de infraestrutura. A avaliação dele é que esse setor será o principal indutor de uma retomada mais sólida do crescimento econômico. O Banco do Brasil liderou um novo desenho de financiamentos para as concessões mais "pró-mercado" - ou seja, com maior participação dos bancos privados - do que o adotado na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, quando houve concentração no Bndes. Como o banco de fomento não honrou empréstimos de longo prazo que tinham sido acertados, muitos projetos acabaram naufragando.
O governo anunciou um programa vasto de privatizações. De que forma o BB vai entrar nesses financiamentos?
Paulo Caffarelli - O BB fez um trabalho muito importante, que foi trazer de volta para os financiamentos de infraestrutura os bancos privados. Existia um descontentamento muito grande dos bancos em relação aos empréstimos-ponte (financiamentos contratados em um primeiro momento da concessão até a aprovação do crédito de longo prazo, cuja análise é mais demorada) que eles fizeram. Se olharmos, ficaram para trás algumas operações que foram feitas de empréstimos-ponte na expectativa de que o Bndes fizesse a operação de longo prazo, o que não aconteceu. Eu fui bater na porta dos bancos para falar como a gente desenha um modelo de financiamento para infraestrutura.
E qual a reação dos bancos?
Caffarelli - Eles falaram que só voltariam se acabasse com o empréstimo-ponte. Além disso, fizemos (o governo) outras alterações: mudamos o prazo do edital, demos um prazo maior para que as empresas possam analisar o processo. O leilão vai acontecer em um prazo mais definido. O contrato começa a correr a partir do momento em que a emissão das debêntures (títulos de crédito emitidos por empresas para captar recursos) começarem a gerar o ingresso de recursos para a construção definitiva. Nesse período, que é o mais delicado, os bancos vão dar fiança. Quem vai comprar as debêntures? O Bndes, o FI-FGTS ou um investidor externo. Nesse primeiro período, os bancos vão dar a garantia que, se acontecer alguma coisa, assumem essa responsabilidade. Em seguida, os bancos saem da operação e vão dar fiança para outro projeto.
O sr. mapeou o interesse dos bancos nesse modelo?
Caffarelli - Com esse modelo, sim. Vai ser por meio de um sindicato de bancos. Não vai ter o BB fazendo sozinho. Faz um sindicato, o que dura em média quatro ou cinco anos, e depois sai fora e vai fazer com outro. O bom é que, como no Brasil os bancos ainda não têm funding (fonte de recursos) de longo prazo, deixa o funding para quem quer investir no longo prazo, como o Bndes, o FI-FGTS ou investidores institucionais (como fundos de pensão).
O mercado olhou a carteira de concessões meio ressabiado...
Caffarelli - Tem muita gente que não vai precisar de financiamento. Virá com recursos próprios. Outros, que vão precisar de financiamento, terão um desenho com um avanço significativo.
O BB vai emprestar quanto com recursos próprios?
Caffarelli - Temos uma carteira de infraestrutura de R$ 103 bilhões. Dessa carteira, R$ 85,2 bilhões são de recursos próprios. Hoje, estamos analisando 18 projetos, o que dá R$ 50 bilhões em investimento.
Esses R$ 50 bilhões são crédito novo? Vão ajudar a dar uma movimentada...
Caffarelli -Ajuda muito. Eu acredito muito que o grande estímulo à retomada (da atividade econômica) mais intensa sejam os processos de infraestrutura. Não tem nenhum outro segmento que vá mobilizar de uma forma tão forte como a retomada dos projetos de infraestrutura.