Proferi conferência sobre diversidade numa mesa redonda realizada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Pois uma postagem em rede social me fez retomar a questão sobre um dos inúmeros aspectos da diversidade: referia-se a uma declaração do cantor Ney Matogrosso. Em uma entrevista, dizia ele a respeito de si próprio: "Que gay o car... Eu sou um ser humano". Recusava-se ele, com a declaração, a aceitar qualquer criação de "novas identidades" e com isso "dando extraordinário exemplo do que é a liberdade de cada pessoa ser o que ela é". É o caso de alguns aparecimentos da palavra da moda, "diversidade". Lembro do texto "A significação das diferenças raciais", de autoria de clássico da antropologia, Ralph Linton.
Escreveu ele que a consciência de raça só apareceu a partir do século XVI. Pois lendo o que dizia Linton me deparo com um primeiro fenômeno que começou a orientar meu pensamento: entre os romanos circulava uma ideia de que seus vizinhos gauleses eram altos e louros. Linton disse que pesquisas modernas demonstraram que o número de indivíduos altos e louros entre os romanos era semelhante ao que havia entre os gauleses.
Disso me veio um primeiro insigth: a ideia de que os gauleses eram louros e altos poderia ter, pensei, forte conotação erótica. Estariam os romanos curiosos com as práticas sexuais de seus vizinhos? Autorizei-me a pensar assim, porque a curiosidade com a prática sexual do outro está bastante estudada em psicanálise através de conceitos como os de cena primária (a inata curiosidade das crianças com as relações sexuais dos pais) e daquilo que Freud chamou de Complexo de Édipo.
Então uma curiosidade com a intimidade do outro não estaria então traduzindo uma invasão de intimidade, a intimidade de nossa prática sexual? A exposição de intimidades, diz a psicanálise, é sempre traumática para o observador. Que reação terá esse último? De admiração certamente não será. Aversão é quase certo. Reações psicológicas, como o preconceito, não estão localizadas nos níveis de consciência que possamos controlar, ao contrário, mobilizam forças que não controlamos.
Assim, penso ilusória a tentativa de, expondo questões e debatendo-as à exaustão, provocar alguma mudança nas reações da população. Por isso, não sei bem o motivo que tem estimulado debates sobre o assunto nas instituições psicanalíticas. Sendo que o que confere diversidade são fatores periféricos da personalidade, a psicanálise, que aborda a profundidade, nada tem a fazer.
Psiquiatra