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Empresas & Negócios

- Publicada em 18 de Julho de 2017 às 15:46

Um outro olhar para a esquizofrenia

Oficina Atelier da Vida conta hoje com cerca de 100 alunos

Oficina Atelier da Vida conta hoje com cerca de 100 alunos


CLAITON DORNELLES /JC
Camila Silva
"Eu acreditei que Deus havia me castigado", diz Marília Coelho Cruz ao descrever o que sentiu ao descobrir que seu filho Leonardo Cruz havia adoecido aos 22 anos. O diagnóstico foi certeiro: esquizofrenia. Trata-se de uma doença mental que, geralmente, se manifesta no início da vida adulta e tem como principais sintomas delírios, alucinações, agitação, insônia e alteração de afeto.
"Eu acreditei que Deus havia me castigado", diz Marília Coelho Cruz ao descrever o que sentiu ao descobrir que seu filho Leonardo Cruz havia adoecido aos 22 anos. O diagnóstico foi certeiro: esquizofrenia. Trata-se de uma doença mental que, geralmente, se manifesta no início da vida adulta e tem como principais sintomas delírios, alucinações, agitação, insônia e alteração de afeto.
Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do filho e tornar mais fácil o convívio com a família, Marília procurou a Associação Gaúcha de Familiares de Pacientes Esquizofrênicos (Agafape). Há 25 anos, a entidade surgiu como complexo de engajamento de familiares que desejavam unir esforços em prol da saúde mental. Inicialmente, o grupo contou com o apoio do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), por meio do ambulatório de esquizofrenia. 
O engajamento na associação foi tamanho que, atualmente, Marília é presidente do grupo. "Eu fazia de tudo um pouco, pois passava o dia com o Leonardo na Agafape", relembra. Segundo ela, o principal obstáculo para a reinserção social de pacientes esquizofrênicos é a desinformação da sociedade sobre as doenças mentais. 
"O pediatra não nos informa, no pré-natal, que existe a possibilidade de termos um filho com doença mental; o assunto é um tabu", alerta a presidente. No Brasil, estima-se que 2,5 milhões de pessoas sofram com a doença. Por ano, 30 mil novos casos são descobertos. Os dados são do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Ipohc).
No instituto, são realizadas diversas pesquisas sobre a doença. O médico Mário Louzã Neto, que integra a equipe de pesquisadores, destaca a importância de grupos de apoio a familiares e pacientes. "Essas associações, de uma maneira geral, são compostas por pais experientes. Dessa forma, auxiliam as famílias a lidarem com a doença." Essa importância foi constatada na vida de Edson Hideo. Durante seis anos, o jovem viveu enclausurado em seu quarto. Nesse período, Hideo tinha contato apenas com sua mãe, que, eventualmente, entrava em seu quarto para limpar e lhe alimentar. "Os meus outros filhos e meu ex-marido diziam que eu o mimava, mas não era apenas isso", recorda Ana Aurélia Bairros. Aos 16 anos, Leonardo foi diagnosticado com o tipo mais raro da esquizofrenia, a catatônica.
Há cinco anos, Ana entrou em contato com a Agafape "Em um primeiro momento, ele recusou o convite para participar da oficina, mas, logo em seguida, pediu para retornar", comemora Ana. A partir daquele dia, o quadro clínico de Hideo apresentou melhoras, e o jovem ingressou no principal projeto da associação, a oficina Atelier da Vida. De segunda a sexta-feira, são realizadas atividades de convívio social, por meio de oficinas desenvolvidas por voluntários do projeto. Artes manuais, dança, arteterapia, aulas de inglês e espanhol, artes plásticas, reciclagem e música são ofertadas aos associados ao projeto. Em média, 100 alunos integram a oficina. Segundo a presidente da associação, o número de participantes varia de acordo com o quadro clínico de cada um. 
Para as famílias, são preparadas palestras semanais que permitem a troca de aconselhamento, experiência e orientações. O objetivo é fortalecer o grupo e a aceitação dos limites de cada paciente. "O que mais nos faz penar é a falta de conhecimento, isso é o pior de tudo", alerta Marília. Segundo a presidente, buscar o entendimento quanto à doença é fundamental para um tratamento eficaz.
Priscila Guimarães da Silva é assistente social do projeto e realiza o primeiro contato com pais e pacientes que buscam, na associação, informações quanto ao projeto. Além disso, Priscila é responsável por captar verba para a associação. Segundo ela, essa é a tarefa mais difícil. "É muito raro que as empresas escolham associação direcionadas à saúde mental para destinar recursos", lamenta a profissional.
A assistente social considera que a sociedade estigmatiza os portadores de doenças mentais. "Eu nunca havia convivido diretamente com pacientes portadores de esquizofrenia. Hoje, vejo as atividades da oficina e me questiono: 'O que as pessoas pensam lá fora?'", diz Priscila. A Agafape luta diariamente contra o preconceito e para garantir direitos às pessoas com esquizofrenia.
Desde 2000, um acordo foi realizado com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para garantir o passe gratuito aos doentes mentais. Em abril de 2013, a Lei do Passe Livre para esquizofrênicos entrou em vigor. "Eles têm uma vida normal, andam de ônibus, são independentes como qualquer pessoa, mas sofrem com uma doença crônica", frisa a presidente da Agafape.
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