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- Publicada em 20 de Junho de 2017 às 19:19

Romance inovador de Carlos Daniel Aletto

Muitos dizem que, depois de Kafka, Proust e James Joyce, ficou difícil, quase impossível, inovar na literatura de ficção. Muitos se queixam de que, atualmente, há pouca originalidade, abuso de clichês ou livros que apenas trazem jogos estéreis de palavras, labirintos verbais chatos e ininteligíveis ou simplesmente cópias de narrativas bem-sucedidas.
Muitos dizem que, depois de Kafka, Proust e James Joyce, ficou difícil, quase impossível, inovar na literatura de ficção. Muitos se queixam de que, atualmente, há pouca originalidade, abuso de clichês ou livros que apenas trazem jogos estéreis de palavras, labirintos verbais chatos e ininteligíveis ou simplesmente cópias de narrativas bem-sucedidas.
O mundo dos livros e da ficção é infinito, inesperado e, de vez em quando, aparece um escritor diferente, criativo e que nos dá esperança da continuidade da criatividade.
São palavras para apresentar o romance Anatomia da melancolia (Iluminuras, 128 páginas, R$ 42,00), do escritor e ensaísta argentino Carlos Daniel Aletto, nascido em 1967. O romance recebeu elogios de Ricardo Piglia e de Rafael Bielsa, tem apresentação de Noé Jitrik e levou, merecidamente, o prêmio de romance do ano pelo jornal La Nación. Aletto escreveu Julio Cortázar: Diálogo para uma poética; Antes de perder; e Capítulo Borges, entre outros. Desde 2011, dirige o Suplemento Literário da Télam, agência de notícias da Argentina. Em dezembro de 2014, participou da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que teve a Argentina como país convidado de honra.
Anatomia da melancolia é mais que apenas um romance histórico. A narrativa requintada e a fantasia sem limites nos traz a crônica da peregrinação do anatomista, através do próprio Andrés Vesalio. Com fascinante arquitetura, a obra reconstrói a época (século XVII), recria e reinventa a linguagem daquele tempo e consegue ser verossímil para os leitores do século XXI.
Contada pelo próprio anatomista, a história de 1615 precede a célebre obra The Anatomy of Melancholy de Robert Burton, um exaustivo estudo inglês sobre a melancolia. Inspirado pelas duas obras, Aletto explica que modernizou o texto para que, de alguma maneira, a história ajude a fechar as feridas que, noite a noite, não nos deixam cicatrizar a melancolia.
Noé Jitrik, na introdução, destaca: Apesar do título, uma imagem de disrupção que na realidade é um disfarce, a melancolia, que é um estado ou um sentimento, vista a partir da anatomia, que é um fato físico-biológico, Anatomia da melancolia se apresenta, outro disfarce, como o que ultimamente esteve em alta na literatura argentina, o romance chamado "histórico".
Disfarce porque não é romance histórico, embora faça referência, tomando uma distância poética, a certos acontecimentos ou fatos, de passados míticos. O efeito é deslumbrante: "parece" convocar a certo anacronismo, mas na realidade atua com uma contemporaneidade que corta a respiração, é um desafio ao comodismo, um convite a retornar à literatura para, daí, voltar para a inteligência e a sensibilidade.

lançamentos

  • Samuel Becket e seus duplos - Espelhos, abismos e outras vertigens literárias (Iluminuras, 190 páginas), de Cláudia Maria de Vasconcellos, doutora em Letras, escritora e dramaturga, ressalta a configuração especialmente complexa que o recurso do duplo atingiu na obra do genial escritor.
  • Da Tirania - Incluindo a correspondência Strauss-Kojeve (É Realizações, 376 páginas), do grande pensador Leo Strauss, é a leitura clássica de Leo sobre o diálogo de Xenofonte, Hiero ou Tyrannicus, onde o tirano Hiero discute com o poeta Simônides sobre a tirania.
  • Opostos - O amor supera todas as diferenças (AGE Editora, 200 páginas), novo romance de Jennifer Souza, autora de oito obras em fotmato e-book, traz as andanças de Lia, jovem rica e mimada, que perde os pais e vai viver no interior.

Brasil: ame-o e não deixe-o

Há alguns anos, os governantes fardados propunham: Brasil, ame-o ou deixe-o, e uma musiquinha ufanista do período, cantada pela dupla Dom e Ravel, dizia: "eu te amo, meu Brasil, eu te amo...Ninguém segura a juventude do Brasil". Os hilários diziam: "o último a sair apaga a luz do aeroporto".
"Criança, ama com fé e orgulho a terra que nasceste /não verás país nenhum como este /imita na grandeza a terra em que nasceste", disse Olavo Bilac, exaltando a natureza e as possibilidades de todos serem felizes. "Que país é este?", perguntou o Affonso Romano de Sant'Anna em 1980. O verso caiu na boca do povo, virou rock e brado de indignação nacional.
Vivemos entre o complexo de vira-lata apontado por Nelson Rodrigues, depois da derrota de 1950 para o Uruguai, e a megalomania delirante que nos faz pensar que Deus é brasileiro, que somos o país do futuro e a última bolacha do pacote. Futuro distante, nosso parto é demorado, falou o João Cabral.
Ia falar de céu azul, dos tons de chá primaveris, desta luz de lâmpada dicroica depois das chuvas, do mundialmente famoso entardecer de Porto Alegre quando a hora púrpura colorada deseja boa noite e tenta nos acalmar. "Ia", o editor interno disse que a pauta é outra.
Complicado viver no Brasil, e sair dele também. Se ficar, o bicho pega, se correr, o bicho come, num mato sem cachorro, mais perdidos que cusco em procissão. No Uruguai, país distinto e estável, é bom de viver, mas é frio. Miami é cara, e dizem que a cota de brasileiros se esgotou. Escandinávia é fria, sombria, longe, linda e cara. Nova Iorque e Paris são para quem pode e delata. Resta nosso avozinho, Portugal, com o Algarve e o receptivo governo português.
Enquanto não levamos alguma bala perdida ou achada dos assaltantes, ou a gripe A não nos pega, vamos vivendo, tocando o barco, caindo e levantando nas redes sociais, nas malhas fiscais e nos buracos das malhas rodoviárias. A gente vai levando...mesmo com toda Brasília e os "Três Poderes, harmônicos e independentes entre si". Soberania, cidadania, dignidade humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, pluralismo político e os poderes estão na Constituição, artigos 1º e 2º.
Todo mundo pergunta: e aí, que tu tá achando da situação? Que solução? Para onde vamos? Muitos desacreditam nas pessoas e no País, pensam em sair, se salvar de qualquer maneira, se lixando para o coletivo. Outros buscam restos de esperança, pedaços de otimismo, pensam nos filhos, netos e bisnetos e nos que vão nascer e sonham com um Brasil melhor. Outros, os do meio, pensam nos prós e contras, tentam equilibrar as ideias e sonham com um entendimento nacional, líderes confiáveis, um novo "Plano Real" e que a recuperação econômica, política e ética não demore.
Há quem votará só em candidatos novos, sem mandato ou ficha suja, nas eleições. É um alerta para os políticos, que têm um ano e pouco para reconquistar a confiança. No Brasil, até o passado é imprevisível, mas precisamos planejar algum futuro.

a propósito...

Para projetar o futuro, precisamos olhar para o Brasil que dá certo em muitas cidades, principalmente no interior. Precisamos mudar de hábitos, inclusive de consumo. Não somos a Islândia, nem a Suíça. Devemos observar as experiências do Japão, do Canadá, da Austrália, da Nova Zelândia, do Canadá e de outros países que deram certo, mesmo saindo de situações de pobreza, ignorância e de guerras. Ou a gente aprende com a história e os erros alheios, ou vamos seguir pagando caro pelos nossos. É claro que precisamos buscar um caminho próprio, é óbvio que temos problemas diferentes dos outros, mas precisamos amar o Brasil e ficar por aqui. Temos muito que conversar e agir.