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Cinema

- Publicada em 11 de Junho de 2017 às 14:51

Passado oculto

O diretor Martin Hodara, o realizador de Neve negra, tem seu nome ligado a dois momentos excepcionais do cinema argentino: os filmes Nove rainhas e Aura, ambos dirigidos por Fabian Bielinsky, cuja morte prematura, em São Paulo, quando trabalhava num projeto publicitário, privou o cinema da América Latina de um de seus mais notáveis talentos. O cineasta da produção argentina atualmente em cartaz trabalhou naqueles dois filmes como assistente de direção e como encenador de segunda unidade. Depois da morte de Bielinsky, Hodara, em parceria com Ricardo Darin, dirigiu O sinal, que seria o terceiro filme do diretor falecido. Foi a primeira experiência dele como diretor de longa-metragem e até agora o único filme dirigido pelo ator. A dupla é novamente formada, mas desta vez Darin apenas atua, criando um personagem distante das figuras que costuma interpretar e mais uma vez mostrando aquelas virtudes que o transformaram num dos intérpretes mais admirados do cinema atual. Dez anos separam O sinal e Neve negra, pois foram muitos os obstáculos a ser ultrapassados até o início das filmagens, cujas cenas exteriores foram realizadas em Andorra. Mas esta coprodução de espanhóis e argentinos exibe inúmeras virtudes, entre elas uma intensidade dramática que se mantém alto nível durante toda a narrativa. Voltado para um público amplo, o filme não se recusa a propor ao espectador um relato que recusa as facilidades e exige a máxima atenção desde o início até um final tão revelador quanto surpreendente.
O diretor Martin Hodara, o realizador de Neve negra, tem seu nome ligado a dois momentos excepcionais do cinema argentino: os filmes Nove rainhas e Aura, ambos dirigidos por Fabian Bielinsky, cuja morte prematura, em São Paulo, quando trabalhava num projeto publicitário, privou o cinema da América Latina de um de seus mais notáveis talentos. O cineasta da produção argentina atualmente em cartaz trabalhou naqueles dois filmes como assistente de direção e como encenador de segunda unidade. Depois da morte de Bielinsky, Hodara, em parceria com Ricardo Darin, dirigiu O sinal, que seria o terceiro filme do diretor falecido. Foi a primeira experiência dele como diretor de longa-metragem e até agora o único filme dirigido pelo ator. A dupla é novamente formada, mas desta vez Darin apenas atua, criando um personagem distante das figuras que costuma interpretar e mais uma vez mostrando aquelas virtudes que o transformaram num dos intérpretes mais admirados do cinema atual. Dez anos separam O sinal e Neve negra, pois foram muitos os obstáculos a ser ultrapassados até o início das filmagens, cujas cenas exteriores foram realizadas em Andorra. Mas esta coprodução de espanhóis e argentinos exibe inúmeras virtudes, entre elas uma intensidade dramática que se mantém alto nível durante toda a narrativa. Voltado para um público amplo, o filme não se recusa a propor ao espectador um relato que recusa as facilidades e exige a máxima atenção desde o início até um final tão revelador quanto surpreendente.
Trabalhando a partir de um roteiro por ele próprio escrito, em parceria com Leonel D'Agostino, Hodara focaliza um quadro familiar marcado por acontecimento trágico ocorrido no passado. Tal fato, a morte do irmão mais moço dos protagonistas, durante uma caçada, é mostrada para o espectador logo nas primeiras sequências. O filme começa de uma forma na qual passado e presente se mesclam sem que haja qualquer sinal que separe os tempos. Aos poucos, no entanto, as duas narrativas vão tomando forma e os personagens começam a adquirir consistência. Os fatos exteriores são bem claros. O irmão que prefere viver afastado da civilização e se recusa a vender a imensa propriedade herdada do pai é também um personagem de extrema agressividade, que não consegue esconder o ódio que sente pelos demais. A caça não é apenas a busca de alimento. É também a forma de exercer a violência que é precariamente contida no contato com o irmão e a cunhada. As armas estão em cena como símbolos que trazem para o presente a tragédia ocorrida na infância. Este olhar para o universo familiar, permite ao cineasta compor um quadro que é uma espécie de síntese da trajetória humana. A figura paterna várias vezes em destaque, principalmente ao impor a disciplina através da violência e a repressão, é o símbolo vigoroso da civilização e suas leis. Ao ser simbolicamente substituído pelo advogado da família, o agente disciplinador é agora o encenador de um espetáculo destinado a ocultar o que pode ser um fator de desequilibro e desordem.
Nessa história que se conclui numa espécie de pacto destinado a não permitir que verdades sejam reveladas, impulsos são soterrados e aparências, mantidas. O olhar da mulher para a plateia no plano derradeiro coloca na tela não apenas um apelo à cumplicidade, pois de certa forma reflete o projeto civilizatório indissociável da repressão às forças primitivas. Ao recorrer a recursos criados e utilizados por realizadores como Alf Sjöberg e Ingmar Bergman, que utilizaram a técnica de mesclar passado e presente na mesma cena, Hodara acentua o fato de que o anteriormente vivido está sempre fazendo parte do palco em que atuamos na vida presente. Esta presença termina criando o conflito que é a base sobre a qual o filme é construído. Agentes e vítimas se confrontam no presente, num combate no qual a irracionalidade contida consegue se libertar e assim atuar de forma violenta. Porém, a vingança do reprimido não se concretiza, pois interesses maiores terminam se impondo, pelo menos até a próxima explosão. O filme de Odara, bem elaborado e narrado com perfeição, é mais do que a história de uma família marcada por um acontecimento fatal.
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