Empreendedores que trabalham com turismo sentem que a procura de pessoas de fora do País diminuiu em Porto Alegre. A situação gera desafios para se manter no mercado

Onde foi parar o público estrangeiro?


Empreendedores que trabalham com turismo sentem que a procura de pessoas de fora do País diminuiu em Porto Alegre. A situação gera desafios para se manter no mercado

O hostel Porto do Sol, de Porto Alegre, aberto em 2010, já chegou a ter 100% da ocupação composta por estrangeiros. Isto foi na época da Copa do Mundo, em 2014. Agora, eles não chegam a 10% dos hóspedes. Caroline Klein Silva, 32 anos, dona do negócio, credita o sumiço da clientela de fora do País à imagem de insegurança da cidade.
O hostel Porto do Sol, de Porto Alegre, aberto em 2010, já chegou a ter 100% da ocupação composta por estrangeiros. Isto foi na época da Copa do Mundo, em 2014. Agora, eles não chegam a 10% dos hóspedes. Caroline Klein Silva, 32 anos, dona do negócio, credita o sumiço da clientela de fora do País à imagem de insegurança da cidade.
"Tem gente que diz aos estrangeiros que, se vierem a Porto Alegre, vão morrer. Há muita propaganda sobre a violência", diz Caroline. Segundo ela, essas afirmações se espalham entre os mochileiros no Interior ou via internet.
A capital do Rio Grande Sul, até pouco tempo, era rota para quem vinha da Argentina, do Uruguai, de Florianópolis e de outras regiões. "Antes de seguirem a Foz do Iguaçu ou Rio de Janeiro, eles faziam uma parada aqui. São pessoas que percorrem viagens longas, de três meses", detalha a turismóloga. Com a queda dos números, vários albergues fecharam as portas no Estado. Caroline revela que não é fácil atuar em um setor que, além da questão da insegurança, concorre com outros formatos de estadias, como Airbnb e hotéis que reduziram seus preços. "Estamos batalhando para continuar no mercado", expõe.
A ocupação do Porto do Sol, que, até o início da Copa, ficava em 65%, hoje permanece na média de 45%. O local tem capacidade para acomodar 40 pessoas, em oito quartos, com diárias que partem de R$ 37,00. Os seis funcionários falam, no mínimo, dois idiomas.
A ideia de abrir um hostel partiu do marido de Caroline, Thiago Requia, 34, após viagens à Austrália e aos Estados Unidos, onde experimentou o modelo. O objetivo era operar no Nordeste, mas, após sugestões de professores da faculdade de Caroline, o casal resolveu apostar em Porto Alegre.
Os poucos estrangeiros que acabam vindo são captados em sites que divulgam albergues pelo mundo. "Eles não são tão exigentes. Querem mesmo é aprender sobre o lugar", diz Caroline, que, na última semana de abril, contava com a presença de uma holandesa, um argentino e um alemão entre os clientes.
Nikki Veerman, 25, da Holanda, ficou de fevereiro a maio hospedada ali. "Não vi nada de perigoso, me senti segura", conta ela, que corria diariamente nos parques próximos à rua Mariante, onde fica o hostel.

'Mercado defora do Brasilé muito pequeno'

O recém-inaugurado Hotel Intercity Cidade Baixa, de Porto Alegre, teria tudo para atrair estrangeiros. Fica no coração do bairro mais boêmio da Capital, a passos de distância do Centro Histórico e com seu espaço gastronômico no 19º andar, o que garante belas fotos para o Instagram. O problema é que o Brasil não atrai essa demanda, segundo o diretor de operações e marketing da rede, Marcelo Marinho.
"Infelizmente, o mercado de estrangeiros no Brasil é muito pequeno. Há tempos, a gente não consegue superar a meta de 5 milhões por ano. Só se chega no Brasil de avião. Em outros países, você chega de carro, de trem. É uma pena", compara ele.
Se o País todo luta para conquistar esse número de pessoas de fora, só a ilha de Manhattan, em Nova Iorque, recebe 35 milhões de estrangeiros ao ano, dimensiona Marcelo. Um dos alentos, para o executivo, é o fato de companhias aéreas internacionais terem conquistado o direito de operar voos nacionais. Isto, talvez, gere mais conectividade geográfica.
Para garantir a ocupação estrangeira de cerca de 5% na Intercity, Marcelo conta que a rede gaúcha participa de feiras, leilões e concorrências empresariais. "A gente tem contrato e está homologado com várias marcas: Pfizer, Volvo, GM, Siemens", lista.
Os meses de verão trazem um pouco de otimismo. Atraem argentinos e uruguaios ao Estado, que fazem sua parada para descanso antes de ir a Santa Catarina.
 

Maioria das pessoasvem para concursose congressos

Há um ano, o administrador de empresas Lorenzo Carvalho Lorenzoni, 34, juntou-se ao turismólogo Paulo Ramires, 36, para assumir o Porto Alegre Hostel Boutique, empreendimento que existe há seis anos na Capital. Junto a eles, quem administra a parte financeira (e que incentivou a empreitada) é Mobila Lorenzoni, 33, colega de faculdade de Paulo e esposa de Lorenzo. Quem espera encontrar um monte de estrangeiros no negócio do trio se frustra. Ao menos atualmente.
A maior parte do público chega de outras partes do Rio Grande do Sul ou do Brasil para fazer concursos, participar de congressos ou, no inverno, dormir uma noite antes de partir para Gramado ou Canela. Mobila afirma que a demanda de turismo em Porto Alegre, desde o ano passado, caiu muito devido à falta de segurança na cidade. "As pessoas de fora simplesmente deixaram de vir para cá", argumenta. O que ainda garante algum fluxo de pessoas de fora é o convênio com a rede HI - Hostel International, que propicia descontos de hospedagem a associados, e os mochileiros latino-americanos.
Com 52 leitos e 12 quartos, o local oferece várias modalidades de hospedagem. Suítes privativas, quartos individuais com acesso a banheiros coletivos para uma ou duas pessoas e quartos coletivos de seis ou quatro camas. Nas instalações, estruturas comuns ao tipo de negócio: Wi-Fi liberado, terraço com churrasqueira, café da manhã, balcão de bar, cozinha para uso dos hóspedes. E ainda uma estante imensa com souvenires do mundo todo deixada pelo antigo dono.
Situado no bairro Floresta, a 15 minutos a pé da rodoviária, perto do bairro Moinhos de Vento e de paradas de ônibus para o aeroporto, o hostel fica em uma rua conhecida como ponto de prostituição. O que no início era um quesito desafiador para o trio, é o que acaba trazendo mais segurança para a rua à noite. "E o curioso é que os brasileiros se impactam com a zona de prostituição, estrangeiros não", reflete ela. Com diálogo, os negócios fluem bem para todo mundo. "Pedimos para não ficarem aqui na frente e nos respeitam, todo mundo convive bem", explica.
Um equívoco particular de hóspedes brasileiros é também a exigência nas instalações. "A pessoa precisa saber que está em um hostel, não em um hotel", diz. "Não iremos trocar a roupa de cama todos os dias, mas a cada três." Boa parte dos estrangeiros já sabe disso, só falta chegarem.

NÚMEROS

O fluxo de entrada no Aeroporto Internacional Salgado Filho no mês de abril de 2017 foi de 4.001 estrangeiros, conforme a Polícia Federal.