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- Publicada em 11 de Maio de 2017 às 21:50

História da China reformulada

A grande fome de Mao - A história da catástrofe mais devastadora da China 1958-1962 (Editora Record, 532 páginas, tradução de Ana Maria Mandim), do holandês Frank Dikötter, professor de História Moderna da China em Londres de 1990 a 2006 e, desde então, professor catedrático de Humanidades na Universidade de Hong Kong, é, acima de tudo, um imenso relato com vistas à reformulação da história da República Popular da China.
A grande fome de Mao - A história da catástrofe mais devastadora da China 1958-1962 (Editora Record, 532 páginas, tradução de Ana Maria Mandim), do holandês Frank Dikötter, professor de História Moderna da China em Londres de 1990 a 2006 e, desde então, professor catedrático de Humanidades na Universidade de Hong Kong, é, acima de tudo, um imenso relato com vistas à reformulação da história da República Popular da China.
Dikötter já publicou mais de 10 livros que mudaram a visão dos historiadores sobre a China moderna e é pioneiro no uso do arquivo chinês. Ele nasceu em 1961 e formou-se em História e Russo pela Universidade de Genebra. Morou dois anos na República da China e então mudou-se para Londres.
A grande fome de Mao mostra como, entre 1958 e 1962, a China tornou-se um inferno. Mao Tsé-tung jogou o país em um delírio com o Grande Salto Adiante, uma tentativa de superar a Grã-Bretanha em menos de 15 anos. Foi a maior catástrofe que a China já viu. O passo adiante foi na direção oposta. O país virou palco de assassinatos em massa.
Segundo o autor, no período, pelo menos 45 milhões de pessoas morreram de exaustão, fome ou vítimas de abusos mortais das autoridades. Foi a maior demolição de imóveis da história humana: um terço das residências foi posta abaixo, na busca incessante por aço e outros recursos industriais.
O livro dá voz aos mortos e esquecidos. Um pai teve que enterrar vivo seu filho menino que tinha furtado um punhado de grãos na mesma aldeia em que Tang Yunqing, de 12 anos, foi afogado em um lado por ter furtado comida da cantina. O pai do menino enterrado vivo morreu de pesar poucos dias depois. Ailong, menino de 13 anos que cuidava de patos em Guandong, foi pego cavando raízes para comer. Foi forçado a ficar sentado com a cabeça entre os joelhos, coberto de excremento, e lascas de bambu foram enfiadas debaixo de suas unhas. A surra que recebeu foi tão feroz que ele ficou aleijado pelo resto da vida.
Em Luoding, o oficial local Qu Bendi espancou até a morte uma criança de oito anos que roubara um punhado de arroz. Como não havia comida suficiente para todos, os trabalhadores mais capazes tinham preferência, enquanto os considerados ociosos - crianças, doentes e idosos - eram explorados. Os arquivos do partido fornecem longas e dolorosas listas de exemplos.
O relato de Dikötter, feito com base em pesquisa meticulosa, só agora possível, nos arquivos do Partido Comunista Chinês, mostra com riqueza de detalhes o terrível cotidiano daquele período. Anteriormente, só os historiadores mais leais tinham acesso aos arquivos. Uma lei recente tornou públicos os milhares de documentos, e a história começa a ser revista, com textos como o de Dikötter.

lançamentos

  • Praia da Rocha (Quatrilho, 360 páginas), do caxiense Bruno Atti, autor de O legado do Führer, é seu novo romance. O protagonista Édson Fernandes, policial federal, vai recordar bons tempos de infância na Praia do Rocha. Acontecimentos estranhos vão mexer com fantasmas e terrores de seu inconsciente.
  • Cecília Meireles - Poemas Italianos (Global Editora, 158 páginas), com a versão italiana de Edoardo Bizzarri, apresentação de Mariana Ianelli e coordenação de André Seffrin, passeia pela bela Itália, com sua humanidade, sua arquitetura e seus santos.
  • 5777 anos de humor
  • judaico (Ideograf, 160 páginas), de Davi Castiel Menda, profundo conhecedor dos costumes e da cultura judaica, é verdadeira aula com hilariantes estórias sobre a mais sofrida e vitoriosa parcela da humanidade: o povo judeu.

Todo esse jazz

Não me canso de repetir que o jazz é a melhor criação brotada nos Estados Unidos. O samba e a bossa nova são, de repente, nossas melhores criações. Neste mundinho complicado, barulhento, briguento e otras cositas más, a música, as outras artes e a cultura são das coisas que ainda restam de bom e de inspiração para tocar o barco adiante.
Em 2017, se comemora o centenário de lançamento do primeiro disco de jazz, as "primeiras faces" dos discos 78 r.p.m, com a lendária Original Dixieland Jass (depois jazz) Band- ODJB de Chicago. Libery Stable Blues e Dixie Jass One-Step foram as duas primeiras gravações.
Neste ano, também se comemoram os 100 anos do nascimento de três deuses do Olimpo do Jazz: Thelonius Monk, Dizzie Gillespie e Ella Fitzgerald. Ao longo do ano, festivais e concertos especiais vão acontecer, em diversos países, celebrando o centenário dos três ícones. Há quem considere o jazz, especialmente as versões mais modernas, como difícil. Melhor pensar que o jazz é complexo, e não difícil.
O jornal Folha de S.Paulo lançou, há pouco, a coleção Lendas do Jazz, composta por 30 livros-CD alusivos aos mais cultuados intérpretes e autores jazzísticos. Cantoras como Sara Vaughan, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Nina Simone, e brilhantes instrumentistas como Charlie Parker, Duke Ellington, Bill Evans e John Coltrane estão na coleção, que traz fotos históricas e comentários sobre a vida pessoal e artística das celebridades.
Para quem quer iniciar-se no jazz, recomenda-se escutar os cantores Nat King Cole, Louis Armstrong, Ella e Sara, para sentir como cantam com liberdade, e depois curtir instrumentistas como Miles Davies, Stan Getz, Dizzy e Charlie. Notas alongadas, improvisos, harmonias dissonantes, tons emotivos e abstratos, e muito talento e amor pela música encantam.
Os que gostam de livros sobre jazz podem apreciar um dos clássicos do gênero: O livro do jazz - De Nova Orleans ao século XX (Edições Sesc/Editora Perspectiva, 640 páginas), de Joachim-Ernst Berendt e Günther Huesmann, que traz os estilos do jazz, músicos, elementos, instrumentos, vozes, big bands e bandas, e, ainda, detalhada discografia por Thomas Loewner e um artigo - Jazz à brasileira - por Carlos Calado.
A série de filmes-documentários de Ken Burns, disponível em uma série de DVDs e intitulada Jazz apresenta as origens, o desenvolvimento do gênero e o jazz em passado recente e permite aos espectadores uma visão panorâmica. Nosso conterrâneo playboy Jorge Guinle lançou, em 2002, pela José Olympio Editora, Jazz Panorama, um apanhado de 206 páginas sobre história, músicas, músicos, evolução e, ao final, uma discografia.
Muitos escritores, entre eles, Julio Cortázar e Scott Fitzgerald, se inspiraram no jazz e produziram contos e romances memoráveis. Cortázar dizia que gostava de escrever como se estivesse tocando jazz.
 

a propósito...

Vale lembrar que Porto Alegre, além de ser cinemeira, é jazzística. Décadas atrás, Hardy Vedana e Marco Antônio, do inesquecível Big Som da Joaquim Nabuco e, hoje, nossa Dama do Jazz Ivone Pacheco, ainda em atividade, mostram que seguimos admirando o jazz. O programa Sessão Jazz, FM Cultura (107.7), do jornalista e especialista Paulo Moreira, há 17 anos faz parte de nossas vidas. O Café Fon Fon, na Vieira de Castro, do simpático casal de músicos Luizinho Santos (sax) e Bethy Krieger (piano), completou, com balanço e alegria, seus primeiros cinco anos, de uns 50 que vêm pela frente. Campai, longa vida, Fon Fon! Andam por aí jovens que fazem um jazz de responsa nas noites de Porto Alegre.
Quando uma pessoa diz que gosta de jazz, não preciso perguntar nada para saber que ela é sangue ótimo, gente finíssima com energia boa.