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Cinema

- Publicada em 11 de Maio de 2017 às 21:50

O ministro e os sapatos

A mescla de Frank Capra com Woody Allen proposta pelo diretor Joseph Cedar em Norman: Confie em mim, mesmo que não seja a obra com a importância que tal reunião sugere, merece atenção daqueles espectadores que, em todo o mundo, permitem com suas presenças nas salas exibidoras que o cinema continue sendo um precioso instrumento no processo destinado a lançar luzes sobre a realidade. O diretor Cedar é um nova-iorquino que antes havia realizado alguns filmes em Israel, sendo que dois deles, Beaufort e Nota de rodapé, foram incluídos na disputa pelo Oscar de produção estrangeira.
A mescla de Frank Capra com Woody Allen proposta pelo diretor Joseph Cedar em Norman: Confie em mim, mesmo que não seja a obra com a importância que tal reunião sugere, merece atenção daqueles espectadores que, em todo o mundo, permitem com suas presenças nas salas exibidoras que o cinema continue sendo um precioso instrumento no processo destinado a lançar luzes sobre a realidade. O diretor Cedar é um nova-iorquino que antes havia realizado alguns filmes em Israel, sendo que dois deles, Beaufort e Nota de rodapé, foram incluídos na disputa pelo Oscar de produção estrangeira.
Seu novo filme também marca sua estreia no cinema americano, sem se afastar completamente do cenário no qual ele se tornou conhecido. Trata-se de um realizador que se expressa de forma perfeita e sabe construir personagens, que adquirem estrutura graças a uma perfeita direção de atores. No caso do filme, tal característica é acentuada pela participação de intérpretes como Richard Gere e Lior Ashkenazi, os dois contribuindo de forma decisiva para o êxito da obra. No caso das duas influências citadas, Cedar aproveita do primeiro cineasta lembrado a tendência de transformar a América num palco onde se situam fábulas que, no caso do cineasta de Aconteceu naquela noite, sempre se transformavam em belas mensagens de otimismo. Agora acontece ao contrário, pois a conclusão da narrativa ao mesmo tempo revela amargor, sem deixar de ser a revelação de verdades antes ocultas. Do cineasta de Zelig está presente, de forma realista, um personagem que vivendo num mundo de fantasia por vezes tem êxito em se aproximar de figuras famosas.
Sem se preocupar muito em deixar claro para o espectador todos os detalhes da trama narrada, sem deixar de expor a essência do que está sendo filmado, Cedar coloca em cena o destino que aguarda os que, mesmo dotado de dons que o permitem circular em áreas controladas por um poder maior, não possuem os instrumentos que possam permitir uma ação eficiente e segura. São criaturas que se julgam poderosas, movidas pela forma como sabem usar a palavra e pelo talento de se transformarem em atores de uma peça imaginária, da qual pensam ser protagonistas, quando, na verdade, não passam de coadjuvantes e por vezes nem isso.
O protagonista, do qual pouco se sabe, algo que não impede que se perceba seu talento para criar relacionamentos imaginários, por várias vezes durante a narrativa será confrontado com a dura realidade. Cedar, mostrando lucidez, coloca a ação dos atos de sua obra no inverno, com a ação em boa parte do tempo sempre nas ruas de Nova Iorque. O frio é uma agressão da qual o personagem procura se proteger, sempre utilizando a mesma roupa. E o tema da alergia que pode ser mortal é outro símbolo de uma fúria que o persegue e que no epílogo adquire significado bem claro.
Em muitas cenas, Cedar se esmera na construção do personagem. Uma delas é a do trem, quando o protagonista encontra uma funcionária de uma agência de segurança do governo israelense. Mas tarde, quando ele outra vez dela se aproxima, o ritual o transforma num prisioneiro, privado do celular que para ele é muito mais do que um instrumento de trabalho e sim uma forma de mantê-lo em contato com um mundo ao qual não pertence.
A sequência em que ele é expulso de um jantar ao qual comparece sem ser convidado reafirma o tema de uma inclusão não aceita. Há momentos em que ele encontra fechada as portas da sinagoga e é bastante significativa a cena do lixo, quando ele é tratado como uma peça descartável. Não é certamente por acaso que é nesse momento de humilhação que ele recebe uma ligação do primeiro-ministro, no qual o tom aparentemente comovido esconde uma farsa que será o ponto culminante de um processo. Os sapatos ofertados numa loja pisam agora um cenário no qual o poder não admite estranhos e costuma afastá-los sem piedade. Em certas cenas o cineasta une no mesmo plano cenários diversos. Tal recurso não é o melhor do filme, que é bem superior quando manipula dados reais para alcançar o significado mais relevante de alguns episódios e transformá-los em imagens duras de uma realidade limitadora e inimiga da fantasia.
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