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Empresas & Negócios

- Publicada em 03 de Maio de 2017 às 15:57

Skate e renda na Restinga

Projeto social Jam Skatinga ensina ofício e esporte para jovens do bairro

Projeto social Jam Skatinga ensina ofício e esporte para jovens do bairro


JONATHAN HECKLER/JONATHAN HECKLER/JC
Samuel Lima
Ao passar pelos portões do Centro Social Padre Pedro Leonardi, na Restinga Velha, não há como não reparar no barulho de máquinas operando, como uma pequena indústria, dependendo do horário e do dia da visita. Nem em uma bem cuidada pista de skate, onde crianças e adolescentes do bairro aprendem e praticam o esporte no turno inverso ao da escola e nos fins de semana.
Ao passar pelos portões do Centro Social Padre Pedro Leonardi, na Restinga Velha, não há como não reparar no barulho de máquinas operando, como uma pequena indústria, dependendo do horário e do dia da visita. Nem em uma bem cuidada pista de skate, onde crianças e adolescentes do bairro aprendem e praticam o esporte no turno inverso ao da escola e nos fins de semana.
A instituição, que promove, há 12 anos, a inclusão social de jovens de baixa renda da região e faz parte da Igreja Nossa Senhora Aparecida, agora aposta no skate como ferramenta para transformar vidas. A mais recente ideia foi a criação de uma oficina de fabricação de shapes - a prancha que suporta o skatista -, que ganhou até marca própria, a Jam Skate.
Todas as terças-feiras, 12 adolescentes, com idades entre 16 e 18 anos, se reúnem com o ex-mecânico e hoje dono de uma loja de roupas voltadas ao esporte na Restinga Paulo Roberto Santos, em uma das salas do lado direito do Centro Social. Há cerca de dois meses, eles começaram ali o processo de criação artesanal de shapes, feitos a partir de madeiras marfim coladas e moldadas para a prática do esporte. As duas turmas, compostas por seis jovens em cada turno, passam três horas por semana aprendendo a fabricar o produto.
O grupo faz, em média, seis unidades por dia, que são personalizadas por grafiteiros e vendidas por até R$ 60,00 no local ou por meio de parcerias. O trabalho deve ir longe, já que existe matéria-prima para 400 shapes por lá, de acordo com Santos, que teve dificuldade em encontrar alguém que lhe ensinasse o processo, antes do início das oficinas. A ajuda veio de um amigo de Garopaba, em Santa Catarina. "É uma coisa tipo padeiro mesmo, ninguém quer dar a receita", brinca. Para ele, fazer os shapes era "um sonho de moleque".
Santos aprendeu a andar de skate aos 16 anos, na Restinga, hábito que deixou um pouco de lado quando começou a trabalhar em uma oficina mecânica. Dez anos depois, a vontade de incentivar o esporte na comunidade o motivou a formar uma equipe e participar de campeonatos. "Hoje, entrar no crime é fácil. Então veio a ideia de começar a andar, unir o pessoal e oferecer o skate para essa gurizada", lembra Santos, hoje com 32 anos.
Tempos depois, ele visitou o Centro Social para se oferecer para dar aulas de skate aos jovens atendidos, o que só aconteceu depois de o padre e diretor da instituição, Claudionir Ceron, lançar uma campanha beneficente para erguer uma pista no meio do pátio, que ficou pronta em 2015. Assim, foi criado o projeto Jam Skatinga, que atende hoje 130 alunos com aulas gratuitas, além da oficina de fabricação de shapes.
Padre Ceron, de 47 anos, conta que as oficinas do local - que ainda incluem taekwondo, meio ambiente, numeramento, letramento fotografia, informática e teatro - são uma espécie de prêmio por estar colégio. "Se não tiver, a gente encaminha", garante. O principal objetivo das atividades é "concorrer com os bandidos" e o tráfico de drogas que domina parte do bairro. "A vida lá fora é desgraçada. Eles dão tudo: ostentação, armas, poder. Mas nós damos carinho, amor e uma nova proposta de vida." O pároco ainda criou uma oração para os praticantes de skate, aprovada e autorizada pela Mitra da Arquidiocese de Porto Alegre.
William Leal, de 16 anos, começou a praticar o esporte com frequência há um ano, no Centro Social. Pela manhã, estuda na Escola Técnica Estadual Parobé, depois volta ao bairro onde mora para fazer as atividades do projeto. Ele soube da fábrica de shapes por uma vizinha e conta que participa de todas as etapas do processo, como colagem, corte e modelagem. A família aprova: "O bairro tem muito tráfico, muita violência. Eles gostam que eu esteja aqui, fazendo uma coisa boa", diz o jovem, que pensa, inclusive, em seguir no ramo futuramente, por ser algo que gosta e que gera renda.
Santos diz que o skate transforma vidas. "Para andar de skate, é preciso se concentrar, se não acaba caindo e se machucando. A cabeça fica focada na manobra, não em outro lugar", defende ele. "E tem outra coisa bonita: um cara cai, outro aplaude e fala 'vamos lá, meu, levanta e vai de novo'".
 
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