Com dificuldade para emplacar novos projetos na área de geração de energia elétrica, os investidores do setor carbonífero buscam alternativas. Dentro desse cenário, a gaúcha Copelmi e a sul-coreana Posco firmaram parceria para desenvolver um complexo carboquímico no Rio Grande do Sul através da gaseificação do carvão. Uma oportunidade vista pelos empreendedores é o fim do contrato de fornecimento de gás natural boliviano que abastece o Estado (o que ocorrerá em 2019) e as alterações na regulamentação do mercado de gás, que o tornam mais aberto.
Se tudo transcorrer dentro dos planos das companhias, as obras do complexo se iniciam no final do próximo ano. Entre as vantagens dessa atividade, em relação à simples queima do mineral por uma termelétrica, estão a minimização da geração e liberação dos gases de efeito estufa e agregar valor na operação com subprodutos. Poderiam ser produzidos ainda amônia, ureia (ambas aproveitadas na produção de fertilizante para o agronegócio) e metanol (usado na cadeia do biodiesel ou como aditivo químico da indústria moveleira).
O diretor de novos negócios da Copelmi, Roberto Faria, informa que agora será contratada uma empresa para realizar o projeto de engenharia do empreendimento. A perspectiva é de que a operação comece em 2021. Para a iniciativa ser bem-sucedida, é essencial a venda dos produtos a serem gerados. Faria adianta que estão sendo mantidas conversas com a Sulgás sobre a compra do gás. Contudo outros clientes, como grandes indústrias, podem ser consumidores do insumo também, já que o governo federal está elaborando uma legislação que pretende tornar o setor menos engessado e mais atraente para os fornecedores de gás. A expectativa é de que seja enviado, em meados deste ano, o projeto de lei que disciplinará o segmento ao Congresso.
O investimento na implantação da estrutura carboquímica é estimado em US$ 1,7 bilhão, para uma geração de cerca de 2 milhões de metros cúbicos ao dia de gás oriundo do carvão. Faria destaca que esse volume é próximo ao consumido hoje no Rio Grande do Sul. A demanda de carvão será na ordem de 3,5 milhões de toneladas ao ano. O executivo detalha que o processo produtivo é semelhante ao que se verifica na indústria petroquímica. O insumo é minerado e depois colocado em um reator para propiciar um gás de síntese. O mineral que será aproveitado na gaseificação será retirado no entorno de Eldorado do Sul e Charqueadas, aproveitando a mina do Guaíba, que possui reservas avaliadas em cerca de 200 milhões de toneladas. "Mas a área toda tem mais de 3 bilhões de toneladas, ali seria o foco para fazer o desenvolvimento da carboquímica", aponta. Na planta de gaseificação e na mineração, mais de mil empregos diretos deverão ser criados. A região da exploração está situada em uma posição estratégica, pois, com a construção de uma ligação de cerca de 18 quilômetros até o polo petroquímico de Triunfo, seria possível ter uma conexão com a rede existente de gasodutos.
O presidente da Fiergs, Heitor Müller, enfatiza que o Rio Grande do Sul verifica baixa oferta de gás natural no mercado interno. Além disso, o dirigente adianta que o Estado deverá importar em 2020 mais de 1 milhão de toneladas em ureia. "Ora, esse produto pode perfeitamente ser produzido a partir do carvão, a exemplo do que faz a China", sustenta. A Fiergs foi o local em que se realizou ontem o seminário "As novas perspectivas para o uso sustentável do carvão".
Questão ambiental da gaseificação é vista como possível empecilho
Apesar de a gaseificação ser abordada como uma ação de menor impacto do que a termeletricidade, na reunião de ontem, o público, composto basicamente por empresários, pesquisadores e políticos da Região Carbonífera, questionou se a questão ambiental não poderia ser um obstáculo para a iniciativa. O secretário estadual de Minas e Energia, Artur Lemos Júnior, admite que esse é um debate que será travado e que é importante difundir as informações para se ter um melhor conhecimento sobre o assunto.
Lemos salienta que o projeto da Copelmi e da Posco é o mais adiantado nessa área dentro do Estado. No entanto o secretário defende que, havendo um "empreendimento-âncora", outros logo poderão ser desenvolvidos também. Ele cita entre as empresas que planejam investir nesse campo a TransGas e a Vamtec.
Apesar do trabalho com a gaseificação, a Copelmi também está envolvida em um projeto de uma termelétrica de cerca de 1 mil MW a ser construída no Estado, com aporte próximo a
US$ 2 bilhões. O presidente da empresa, Cesar Faria, adianta que os testes realizados demonstraram que o carvão gaúcho pode ser utilizado pela usina, que empregará a tecnologia Ultra Super Critical (USC) coal-fired, que aumenta a eficiência da planta, reduzindo as emissões de poluentes. Essa ação tem a participação de um grupo de empreendedores japoneses, liderados pela companhia Tepco e que conta ainda com PwC Japan e IHI. Entretanto é necessário que o projeto vença algum leilão de energia promovido pelo governo federal para comercializar sua geração e sair do papel.
US$ 2 bilhões. O presidente da empresa, Cesar Faria, adianta que os testes realizados demonstraram que o carvão gaúcho pode ser utilizado pela usina, que empregará a tecnologia Ultra Super Critical (USC) coal-fired, que aumenta a eficiência da planta, reduzindo as emissões de poluentes. Essa ação tem a participação de um grupo de empreendedores japoneses, liderados pela companhia Tepco e que conta ainda com PwC Japan e IHI. Entretanto é necessário que o projeto vença algum leilão de energia promovido pelo governo federal para comercializar sua geração e sair do papel.