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Cinema

- Publicada em 28 de Abril de 2017 às 00:19

A ameaça

Entre os sinais reveladores de que um filme não está à altura de modelos nos quais se inspira está aquele que talvez seja o mais importante: a forma imperfeita e superficial com que os temas do original são desenvolvidos. Tendo o cinema mais um século de vida, não é mais possível a originalidade plena nem os clássicos do passado foram inteiramente originais. Sempre há uma construção em cuja sombra podem atuar os verdadeiros criadores, aqueles que, sabendo olhar para o passado, não o copiam e, no momento de impor sua personalidade, descobrem novas situações e colocam na tela os traços da inovação. Quando realizou, em 1979, Alien, o oitavo passageiro, Ridley Scott tinha vários modelos à sua disposição, tanto no gênero da ficção-científica como nos relatos de suspense e aventura. Daquele que dificilmente será igualado, 2001: uma odisseia no espaço, ele prudentemente se afastou.
Entre os sinais reveladores de que um filme não está à altura de modelos nos quais se inspira está aquele que talvez seja o mais importante: a forma imperfeita e superficial com que os temas do original são desenvolvidos. Tendo o cinema mais um século de vida, não é mais possível a originalidade plena nem os clássicos do passado foram inteiramente originais. Sempre há uma construção em cuja sombra podem atuar os verdadeiros criadores, aqueles que, sabendo olhar para o passado, não o copiam e, no momento de impor sua personalidade, descobrem novas situações e colocam na tela os traços da inovação. Quando realizou, em 1979, Alien, o oitavo passageiro, Ridley Scott tinha vários modelos à sua disposição, tanto no gênero da ficção-científica como nos relatos de suspense e aventura. Daquele que dificilmente será igualado, 2001: uma odisseia no espaço, ele prudentemente se afastou.
Seu filme, até pela resposta encontrada nas bilheterias, deu origem a uma série de outros, inclusive alguns que ousaram aparecer como continuações, todos procurando aproveitar sugestões. O mais recente é este Vida, realizado nos Estados Unidos pelo sueco Daniel Espinosa.
O filme segue o modelo, mas deixa de explorar com mais profundidade algumas sugestões. A distância que separa Vida de Alien é aquela que revela a medida do espaço entre um filme maior de um trabalho marcado pela rotina. O roteiro filmado e as situações criadas pela direção não apresentam surpresa. Qualquer espectador pode antecipar que aquele deslumbramento com a microscópica forma de vida encontrada dará lugar a acontecimentos desagradáveis, perigosos e mortais.
No filme de Scott não havia, em qualquer momento, nenhum traço de ingenuidade, e dificilmente alguém poderia prever o modo que o inimigo iria utilizar para nascer e crescer, uma forma de tornar evidente que a maior das agressividades tinha origem no próprio homem. E havia também o tema da cultura e da ciência humanas. A hábil utilização do cenário fazia com que a criatura utilizasse como esconderijo, num exercício de mimetismo, as formas criadas pelo engenho humano. Agora, sempre há uma repetição de situações, repetição esta que se prolonga por todo o relato.
Quanto às oportunidades perdidas e desperdiçadas, elas são muitas. O concurso realizado entre colegiais para que seja escolhido o nome do organismo encontrado em Marte poderia ser a expressão da ingenuidade e da manipulação, que geralmente é posta em prática quando surgem acontecimentos excepcionais. Mas o filme se afasta de tal caminho, preferindo acompanhar de forma previsível o drama que será enfrentado pelos ocupantes da estação espacial.
E quando um dos personagens acompanha o parto da esposa, o filme joga fora outra oportunidade de colocar em cena um paralelismo que poderia ser relevante no processo de construção de uma alegoria retirada da realidade. A alegria pela chegada de uma nova vida humana é semelhante à da descoberta da célula que se transformará, em pouco tempo, num perigo devastador. Outra vez, um tema surge e não é desenvolvido. Aqui, não é problema de estar ou não à altura de um modelo. O filme de Espinosa é derrotado por ele próprio, ao não desenvolver o que sugere. Porém, há algo a ser destacado. O lance final tem sua originalidade, e o filme, como num milagre, escapa do previsível. Aproximando-se do epílogo de Gravidade, de Alfonso Cuarón, outro modelo, Espinosa surpreende pela forma pela qual encerra a narrativa, colocando ênfase na ideia de que o conflito antes exposto não será concluído com gestos de altruísmo e atitudes de heroísmo. A questão da ameaça, algo que os filmes de ficção-científica tanto focalizaram na época da chamada Guerra Fria, é retomada. Sem o mesmo brilho, Espinosa, no momento final, parece se lembrar de outro clássico, Os vampiros invadem a Terra, que Don Siegel realizou em 1956. Novamente, é grande a distância do original. Falta, aqui, aquela complexidade e aquela atenção para o ritual que revelava a verdade oculta pelo cotidiano e mostrava a verdadeira personalidade de cada personagem.
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