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Fraude

- Publicada em 19 de Março de 2017 às 19:46

Europeus querem suspender compras de carnes do Brasil

Caso está sendo usado para justificar novas barreiras comerciais na UE

Caso está sendo usado para justificar novas barreiras comerciais na UE


Divulgação/MPT/JC
Partidos políticos e produtores europeus pedem o fechamento das fronteiras do bloco à carne brasileira, elevando a pressão para que a Comissão Europeia adote uma medida temporária contra o produto nacional depois da revelação da fraude no setor de carnes. O apelo vem de setores e países com uma tradição protecionista e que, por anos, vem solicitando que Bruxelas derrube um acordo com o Brasil no setor de carnes.
Partidos políticos e produtores europeus pedem o fechamento das fronteiras do bloco à carne brasileira, elevando a pressão para que a Comissão Europeia adote uma medida temporária contra o produto nacional depois da revelação da fraude no setor de carnes. O apelo vem de setores e países com uma tradição protecionista e que, por anos, vem solicitando que Bruxelas derrube um acordo com o Brasil no setor de carnes.
Parlamentares e produtores de países como a Áustria, França, Polônia e Irlanda passaram o fim de semana em contato para tentar estudar a forma de incrementar o lobby e pressionar as autoridades europeias a rever seus planos de autorização de importação da carne nacional. Bruxelas, porém, informou que não existiu qualquer caso de fraude registrada no comércio com o Brasil desde 2015.
Ainda assim, na Irlanda, o partido Sinn Féin foi um dos que apelaram publicamente neste domingo para o fim das importações de carnes brasileiras. O representante do partido para temas agrícolas, o deputado Martin Kenny, alertou que o caso brasileiro revela "as condições contra as quais os fazendeiros europeus precisam competir". "O Brasil é um dos grandes concorrentes da Irlanda pelo mercado europeu de carnes. Mas agora vemos a dimensão do escândalo", disse, apontando para "aditivos perigosos sendo colocados em carne de frango e carne contaminada com salmonela exportadas para a Europa".
De acordo com o partido de oposição, o ministro da Agricultura da Irlanda, Michael Creed, precisa "imediatamente buscar uma suspensão da importação de carne do Brasil para a Europa". "A situação é intolerável. O governo precisa agir", disse.
Entre os produtores, o caso também está sendo usado para justificar novas barreiras. "Vemos outro escândalo acontecendo fora das cercas da fazenda, não dentro, e mostra que precisamos ter um controle maior", disse Edmund Phelan, presidente da ICSA, a entidade que reúne os criadores de gado da Irlanda, um dos maiores fornecedores para o mercado europeu.
Na Bélgica, a Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar se apressou a tentar dar garantias aos consumidores locais de que os controles impostos pelos europeus e o volume de importação limitariam qualquer risco. "A exportação para a Europa se limita a poucas empresas e deve seguir padrões estritos", disse Philippe Houdart, porta-voz da Agência. "Trata-se de uma regra diferente daquela que existe no mercado brasileiro", insistiu.
Segundo Houdart, o controle feito pelos brasileiros "são submetidos a auditorias" por parte dos europeus. Uma vez no território europeu, o carregamento passa por um novo controle. Mas ele admite que, "se problemas emergirem, seria provavelmente na carne de frango congelada, destinada a um tratamento posterior".
O uso da fraude como argumento para fechar as fronteiras não ocorre por acaso. Estudos da própria União Europeia (UE) estimam que as exportações do Mercosul para a Europa poderiam aumentar em € 14 bilhões em 10 anos, graças a um acordo comercial entre as duas regiões.
A estimativa aponta que, até 2025, os europeus ampliariam em € 29 bilhões suas compras de produtos agrícolas de países envolvidos em acordos comerciais com Bruxelas. Metade viria do Mercosul. No total, isso representaria um salto em 24% nas exportações do Cone Sul para o mercado europeu.
Os ganhos do bloco sul-americano com um acordo, na estimativa dos próprios europeus, seriam quase três vezes maiores do que os americanos poderiam obter no setor agrícola com um eventual tratado de comércio com a UE. Segundo as estimativas oficiais de Bruxelas, os exportadores dos EUA registrariam um incremento em € 4,8 bilhões em vendas até 2025.
Um dos principais ganhos viria do setor de carnes. No segmento de produtos bovinos, o estudo da UE estima que "mais de 80% do aumento de importações viria do Mercosul". "A balança de comércio se deteriorará profundamente", admitiu a Comissão Europeia. O aumento em vendas para o bloco do Cone Sul seria de pelo menos € 1,4 bilhão. Outros € 900 milhões ainda seriam gerados no aumento de espaço para a carne suína e frangos do Mercosul no mercado europeu.

Operação da Polícia Federal derruba ações de empresas de alimentos e Bovespa cai 2,39%

A operação da Polícia Federal em empresas do setor alimentício foi o principal fato gerador da queda de 2,39% do Índice Bovespa, que terminou a sexta-feira em 64.209 pontos. O volume de negócios somou R$ 12,3 bilhões. Já o dólar à vista terminou com baixa de 0,67%, a R$ 3,0987, encerrando a semana com perda de 1,44%, após três ganhos semanais consecutivos.
A Operação Carne Fraca atingiu diretamente as ações da JBS e da BRF e teve efeitos secundários nos papéis do setor financeiro, em parte responsável pelo financiamento das empresas investigadas por irregularidades e pagamento de propinas. A notícia pegou investidores de surpresa e gerou um movimento de zeragem de posições, que aprofundou o viés de baixa.
As ações ordinárias do frigorífico JBS terminaram o dia em queda de 10,59%, liderando as perdas do Ibovespa. Em seguida vieram os papéis da BRF, com recuo de 7,25%. Outras ações do setor de carnes também foram afetadas. Marfrig ON teve baixa de 2,10% e Minerva ON perdeu 2,04%.
O risco de imagem dos produtos das companhias e o efeito financeiro sobre elas foram os principais motivos que levaram os investidores a vender as ações das empresas. As notícias podem comprometer as ofertas de ações planejadas pelas duas empresas.
Para a BRF, as investigações chegam em meio a um cenário adverso. A companhia divulgou no dia 24 de fevereiro que fechou 2016 com prejuízo de R$ 372 milhões, o primeiro desde a fusão entre Sadia e Perdigão formada em 2009. Dois importantes executivos - José Alexandre Borges, vice-presidente de finanças; e Rodrigo Vieira, vice-presidente de marketing, deixaram a empresa no dia 2 de março.
Desde 2013 a companhia iniciou um plano agressivo de internacionalização quando Abílio Diniz assumiu a gestão. Agora, o empresário lidera desde fevereiro um comitê para discutir planos de reestruturação para BRF a ser apresentado nos próximos 90 dias.
A Operação de ontem da Polícia Federal (PF) poderá, no entanto, afetar outro plano da companhia, o lançamento de ações da One Foods, empresa criada no início do ano para atuar no mercado muçulmano. A ideia era fazer uma captação de US$ 1,5 bilhão, seja por meio de oferta pública de ações (IPO, em inglês), ou investimento privado. O problema é que a imprensa internacional destacou fortemente a operação da PF, o que pode afastar investidores até que haja maiores esclarecimentos ou desdobramentos das investigações.
A questão também é delicada para o JBS, que planeja fazer IPO fora do País da JBS Foods, que engloba a Seara, justamente um dos alvos da operação. Assim como a BRF, a JBS está envolta em um cenário negativo. Seus controladores, os irmãos Joesley e Wesley Batista tiveram seus nomes envolvidos em diversas operações policiais nos últimos meses em denúncias de corrupção que envolvem outras empresas do grupo, como a Eldorado Celulose. Financeiramente, a JBS apresentou melhores resultados que sua concorrente BRF. Mesmo assim, o lucro teve uma queda de quase 85% no ano passado.