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Cinema

- Publicada em 09 de Março de 2017 às 22:48

Lei e desordem

O ator Ben Affleck iniciou sua carreira como diretor realizando um filme, Medo da verdade, baseado em livro de Dennis Lehane. Agora, com este A lei da noite, ele volta a uma narrativa daquele autor. Lehane é o mesmo escritor por quem se interessou Clint Eastwood quando realizou um de seus melhores filmes, Sobre meninos e lobos (Mystic River). O trabalho anterior de Affleck, Argo, recebeu da Academia de Hollywood o Oscar de melhor do ano, sem que ele tenha sido indicado ao prêmio de melhor diretor. Certamente, é mais fácil explicar o fiasco acontecido neste ano do que aquela premiação, uma das mais estranhas de toda a história da célebre estatueta, famosa, entre outros motivos, por nunca ter premiado um filme de Chaplin e ter ignorado nomes como Hitchcock, Welles e Kubrick, além de outros, mesmo que alguns tenham sido depois chamados para receber uma estatueta pelo conjunto da obra. Hitchcock, por sinal, apenas agradeceu e saiu do palco sem nada dizer. Prêmios como o Oscar e também os de festivais costumam acumular erros, mas também acertam na maioria das vezes. Mas eles não são a última palavra no processo de julgamento de uma obra. São importantes para a indústria cinematográfica e mesmo para a divulgação de obras relevantes. Porém, é sempre necessário lembrar que são inúmeros os títulos maiores de todos os tempos que nunca receberam prêmio algum. Affleck certamente não mereceu a consagração de Argo, mas não é um mau diretor. Ele, por exemplo, não apela para lances demagógicos e adota um tom sóbrio em toda a narrativa, sendo também clara sua admiração pelos mestres da realidade cênica. Numa época de muito barulho por nada, esta opção não deixa de ser um mérito.
O ator Ben Affleck iniciou sua carreira como diretor realizando um filme, Medo da verdade, baseado em livro de Dennis Lehane. Agora, com este A lei da noite, ele volta a uma narrativa daquele autor. Lehane é o mesmo escritor por quem se interessou Clint Eastwood quando realizou um de seus melhores filmes, Sobre meninos e lobos (Mystic River). O trabalho anterior de Affleck, Argo, recebeu da Academia de Hollywood o Oscar de melhor do ano, sem que ele tenha sido indicado ao prêmio de melhor diretor. Certamente, é mais fácil explicar o fiasco acontecido neste ano do que aquela premiação, uma das mais estranhas de toda a história da célebre estatueta, famosa, entre outros motivos, por nunca ter premiado um filme de Chaplin e ter ignorado nomes como Hitchcock, Welles e Kubrick, além de outros, mesmo que alguns tenham sido depois chamados para receber uma estatueta pelo conjunto da obra. Hitchcock, por sinal, apenas agradeceu e saiu do palco sem nada dizer. Prêmios como o Oscar e também os de festivais costumam acumular erros, mas também acertam na maioria das vezes. Mas eles não são a última palavra no processo de julgamento de uma obra. São importantes para a indústria cinematográfica e mesmo para a divulgação de obras relevantes. Porém, é sempre necessário lembrar que são inúmeros os títulos maiores de todos os tempos que nunca receberam prêmio algum. Affleck certamente não mereceu a consagração de Argo, mas não é um mau diretor. Ele, por exemplo, não apela para lances demagógicos e adota um tom sóbrio em toda a narrativa, sendo também clara sua admiração pelos mestres da realidade cênica. Numa época de muito barulho por nada, esta opção não deixa de ser um mérito.
A lei da noite é uma volta a uma época e a um gênero que permitiram a realização de várias obras-primas. São claros os modelos seguidos por Affleck, que também escreveu o roteiro, e evidente a distância entre aqueles e o filme que ele dirigiu. Mas não são apenas as obras-primas que merecem atenção. Narrando uma história desenrolada durante a lei seca, uma proibição que permitiu que a corrupção passasse a comandar vários setores da vida americana, Affleck procurou não se limitar a descrever a ação de um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, que após o conflito resolve atuar como integrante de outro exército, aquele que atua fora da lei. Numa fase em que as normas legais eram violadas por grupos que inclusive contavam com apoios poderosos ele atua individualmente, antes de se transformar em peça de uma engrenagem que copia, na clandestinidade, as formas de atuação de uma estrutura que apenas aparentemente tem o controle da sociedade. Mas o realizador não se limita a narrar fatos, pois procura acentuar certos temas que fazem com que o filme não seja apenas uma reconstituição de época e de acontecimentos, pois é evidente que há uma tentativa de alcançar a essência do que está sendo mostrado.
O mais interessante é a presença do pai verdadeiro e daqueles que depois simbolicamente o substituem. A cena do restaurante, em que o pai-policial aparece, coloca o tema principal na imagem. Eis a lei maior - a paterna e a da sociedade - sendo focalizada e configurando o conflito básico. A amante do protagonista é a que está ligada a outra figura paterna, outro chefe. Criado este choque, a transferência para outro cenário permite o desenvolvimento de outros temas. Outra figura paterna, embora distante, passa orientar os passos do filho rebelde, que entra em choque com forças controladas pela irracionalidade, como o racismo e as distorções geradas por interpretações equivocadas sobre a necessidade de ordem e disciplina. A cena do espancamento da filha por um pai ligado ao crime e movido por incontrolável desejo de autopunição é um momento no qual o sofrimento humano, gerado por elementos repressivos, é exposto de forma perfeita. E há uma bela cena, aquela do encontro entre o personagem de Affleck com a jovem então transformada em figura destinada a salvar as aparências. O diálogo no restaurante permite que se espere, no futuro, filmes melhores do ator e diretor de A lei da noite.
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