Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Petróleo

- Publicada em 29 de Março de 2017 às 14:49

Petrobras põe à venda por US$ 40 mi sondas que comprou por US$ 720 mi

Dos 49 contratos iniciais, petroleira pretende preservar menos de 10; há 11 perfurando poços marítimos

Dos 49 contratos iniciais, petroleira pretende preservar menos de 10; há 11 perfurando poços marítimos


JOS/JOS/AGÊNCIA PETROBRAS/JC
A Petrobras colocou à venda, por um preço mínimo de US$ 40 milhões, duas sondas de perfuração que lhe custaram US$ 720 milhões no início da década. As unidades fazem parte de um pacote de sete sondas que serão leiloadas pela estatal em maio.
A Petrobras colocou à venda, por um preço mínimo de US$ 40 milhões, duas sondas de perfuração que lhe custaram US$ 720 milhões no início da década. As unidades fazem parte de um pacote de sete sondas que serão leiloadas pela estatal em maio.
As sondas P-59 e P-60 foram construídas por um consórcio formado por Odebrecht, UTC e Queiroz Galvão (todas investigadas na Operação Lava Jato) em um canteiro de obras da própria Petrobras na Bahia.
Foram as primeiras unidades deste tipo construídas no Brasil em 30 anos, evento comemorado pelo governo na época como mais um passo na retomada da indústria naval brasileira.
"Eu quero dizer a vocês que parcerias como essa, que significa a volta para o Brasil de estaleiros que estavam desaparecido de nosso cenário desde 1980, parcerias como essa, entre uma empresa como a Petrobras e esses estaleiros, é o que vamos buscar", discursou a então presidente Dilma Rousseff na cerimônia de batismo da P-59, em 2012.
Segundo comunicados distribuídos na ocasião, cada unidade custou à estatal US$ 360 milhões. Em edital publicado esta semana, a empresa estipula o preço mínimo de US$ 20 milhões para cada uma.
"É um absurdo vender duas sondas tão novas por esse preço. Aliás, não é hora de vender nada", critica o coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros), José Maria Rangel, que faz oposição ao plano de venda de ativos da estatal.
As unidades foram entregues à Petrobras em 2013. A partir de 2015, chegaram a ser usadas como hotel flutuante, dando apoio a operações de manutenção em outras plataformas.
Ao contrário dos modernos navios-sonda, que flutuam e podem ser levados a águas ultraprofundas, P-59 e P-60 são unidades autoelevatórias: são apoiadas no fundo do mar por três torres de 145 metros. Dessa forma, estão restritas a operações em lâminas d'água inferiores a 106 metros de profundidade.
O edital de licitação inclui ainda as sondas P-III, P-X, P-XVI, P-XVII, P-XXIII, todas mais antigas e também focadas na exploração de petróleo em zonas mais rasas do que o pré-sal.
A partir de 2015, com o corte de investimentos nessas regiões, a Petrobras começou a "hibernar" essas unidades -isto é, elas foram deslocadas a estaleiros e ficaram atracadas à espera de serviço.
Para as quatro primeiras, não há lance mínimo. Para a P-XXIII, que passou por reformas recentemente, o interessado terá que pagar ao menos US$ 500 mil.
A Petrobras vem realizando um trabalho de adequação de sua frota de sondas ao novo cenário de investimentos após a Lava Jato e à queda do preço do petróleo. Decidiu renegociar contratos com fornecedores e chegou a romper unilateralmente com algumas unidades.
Além disso, vem tentando reduzir o número de contratos com a Sete Brasil, empresa criada no governo Lula para se tornar a principal fornecedora de sondas para o pré-sal. Dos 49 contratos iniciais, a estatal tentava preservar menos de 10.
De acordo com dados da empresa Baker Hughes, há hoje no Brasil 11 sondas de perfuração de poços marítimos em operação, sete a menos do que um ano atrás. No auge da atividade exploratória, em 2011, o número chegou a 50.
Procurada, a empresa ainda não comentou o assunto.
 

Para líder petroleiro, não é o momento de desinvestir

O momento econômico mundial no setor petrolífero não é favorável à política de desinvestimentos em curso na Petrobras, com a venda de ativos como a BR Distribuidora e a área de biodiesel, entre outros. Como diversas companhias no mundo também estão vendendo parte de seus ativos, por conta da baixa no valor do petróleo, o preço internacional está achatado, não refletindo o valor real dos bens da empresa brasileira.
A opinião é do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel. Ele falou com jornalistas na sede da entidade, no Centro do Rio, um dia após a Petrobras ter divulgado seu balanço anual referente à 2016. A estatal apresentou uma redução no prejuízo anual para R$ 14,8 bilhões, ao mesmo tempo em que demonstrou uma recuperação, no último trimestre do ano passado, com lucro líquido de R$ 2,5 bilhões. Em 2015, o prejuízo havia sido de R$ 34,8 bilhões.
"Todas as empresas estão vendendo ativos. Não é momento de se vender. É um momento ruim. Vai representar um prejuízo grande para a sociedade. A crise não é só da Petrobras", afirmou Rangel. "Todas as grandes operadoras de petróleo do mundo passam por esse problema, têm apresentado resultados negativos. O barril de petróleo caiu de US$ 140 em meados de 2014 e chegou a bater em US$ 27. Todas as empresas têm que rever os seus projetos e a rentabilidade que seus ativos lhe dão", garantiu o oordenador-geral da FUP.
O líder petroleiro disse também que o resultado do último balanço da companhia reflete os investimentos feitos no passado e que várias petrolíferas internacionais estão vendendo ativos justamente para investir no Brasil. "A política atual da Petrobras faz com que ela perca preponderância no cenário de óleo e gás mundial. Nós passamos a ter uma importância enorme a partir da descoberta do pré-sal."
Para o sindicalista, "tanto no campo da engenharia, da tecnologia, do mercado de trabalho. A Petrobras, com a capilaridade que têm, não pode se dar ao luxo de desinvestir R$ 21 bilhões, de estar depreciando o seu patrimônio", criticou Rangel. A Petrobras foi procurada para comentar as declarações do coordenador-geral da FUP e enviou nota destacando o posicionamento público do presidente da companhia, Pedro Parente, que havia participado na véspera do anúncio do balanço da estatal.
"Todos os nossos indicadores mostram que a gente precisa desses US$ 21 bilhões para chegar à nossa meta", afirmo Parente. "Lembrando uma vez mais que a nossa dívida líquida ainda é perto de US$ 100 bilhões. Ainda é a maior dívida de todas as empresas relevantes de óleo e gás no mundo. Se você pegar todos os estados da federação, a dívida da Petrobras é maior do que a dívida de todos os estados, excluindo São Paulo. Nós não podemos descuidar desse assunto e nós não vamos descuidar."