Qual é a relação entre o nível de governança corporativa e a situação econômico-financeira?

Após escândalos de grandes corporações, tornou-se evidente o risco que a análise mal elaborada por parte de investidores e das partes interessadas pode comprometer o retorno do seu investimento ou, simplesmente, desestruturar seus fundamentos de análise. Em função disso, a avaliação através de indicadores financeiros e das práticas de governança adotadas pela empresa tornou-se uma ferramenta importante para a tomada de decisões.

Pesquisas informam que a maioria dos investidores considera a governança corporativa tão importante quanto a situação financeira das entidades. No Brasil, empresas que aplicam as boas práticas de governança tornaram-se mais valorizadas e têm atraído um maior número de investidores. O seu surgimento possibilitou que investidores analisem as ações corporativas da empresa e tornou-as um requisito a ser considerado pelos analistas.

Além de avaliar a empresa através da governança, shareholders (acionistas), e stakeholders (partes interessadas), podem buscar as informações obtidas através da análise demonstrações contábeis e financeiras, que dão suporte e sustentabilidade para a tomada de decisão referente aos riscos de mercado, retorno do investimento e solvência. A contabilidade é de grande utilidade para a tomada de decisão de investidores em relação à saúde financeira. Questiona-se, dessa forma, se empresas do maior nível de governança apresentam maiores índices financeiros em relação aos outros níveis.

Este trabalho de pesquisa tem como objetivo principal analisar a relação entre o nível de governança corporativa e a situação econômico-financeira de empresas listadas na BM&FBovespa. Para isso, é necessário identificar as características dos níveis de governança corporativa, elaborar um levantamento de informações das demonstrações contábeis das entidades e apurar os índices financeiros.

Espera-se que o resultado desta pesquisa cientifica demonstre os atributos de melhoria da informação para que investidores, shareholders e stakeholders consigam tomar as decisões necessárias, e, também, propagar o assunto que aborda a relação de duas ferramentas de análise financeira ainda pouco abordadas em trabalhos acadêmicos. Afinal, quanto maior o conhecimento dos usuários de relatórios financeiros maior será a credibilidade e segurança sobre o objetivo de análise.

A metodologia de pesquisa é descritiva e de abordagem quantitativa. A coleta de dados foi realizada através do levantamento documental. A população utilizada foi o conjunto de relatórios contábeis de 12 períodos para cada nível de governança e a amostra foi obtida através de métodos estatísticos. Foram selecionados os seguintes setores para manter maior proporção e relevância para a análise: energia elétrica, materiais de transporte, madeira e papel e intermediários financeiros da BM&FBovespa de 20 de setembro de 2016. A amostragem dessa população é obtida pela amostra estratificada uniforme, utilizada para atribuir o mesmo tamanho às subclasses utilizadas no estudo.

Os resultados apurados foram que as empresas do Novo Mercado não obtiveram uma folga financeira e endividamento de qualidade, porém apresentam um índice rentabilidade satisfatório em relação aos demais níveis. Esse nível apresentou 37% dos índices classificados como "ruins" comparando-os com os índices-padrões setoriais. O N1, menor nível de governança, apresentou 36% dos quocientes financeiros considerados como "bons" na mesma relação. Diante disso, o nível de governança corporativa não está diretamente relacionado com a situação financeira da empresa, ou seja, uma empresa com as melhores práticas de governança não garantirá melhores índices financeiros.