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Consumo

- Publicada em 12 de Março de 2017 às 21:24

Peças baratas, mas sem perder o brilho

"Por mais que a peça conceitual seja importante na moda, a vitrine tem de ter o que o cliente precisa e pode comprar." A frase de Rafael Zolko, sócio da marca de roupas femininas TVZ, resume a situação que vive a indústria da moda para tentar sair da crise. Se, por um lado, a queda nas vendas a obrigou a optar por produtos mais baratos para reduzir os preços para não perder vendas; por outro, não pode deixar as roupas perderem o brilho, sob o risco de não agradar ao consumidor, agravando o problema. 
"Por mais que a peça conceitual seja importante na moda, a vitrine tem de ter o que o cliente precisa e pode comprar." A frase de Rafael Zolko, sócio da marca de roupas femininas TVZ, resume a situação que vive a indústria da moda para tentar sair da crise. Se, por um lado, a queda nas vendas a obrigou a optar por produtos mais baratos para reduzir os preços para não perder vendas; por outro, não pode deixar as roupas perderem o brilho, sob o risco de não agradar ao consumidor, agravando o problema. 
Em 2016, foram produzidas 5,4 bilhões de peças de vestuário no Brasil, uma queda de 6,7% em comparação com o ano anterior. Já as vendas no varejo caíram mais de 10%, segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
A solução foi passar a ofertar itens "o mais comercial possível", segundo Zolko - como macacões e vestidos, cujas vendas na TVZ se mantiveram estáveis desde o aprofundamento da recessão. "Peças únicas resolvem o visual completo com bom custo-benefício para o consumidor", afirma o empresário.
Com a crise, aponta Fernando Pimentel, presidente da Abit, os lojistas estão mais conservadores na oferta de peças extravagantes, e os clientes, menos dispostos a comprar itens de pouco uso. "Pela própria queda do poder aquisitivo do consumidor, a tendência é ofertar produtos de menor risco", diz Pimentel. Assim o varejo passou a evitar peças que podem não cativar o consumidor e encalhar no estoque.
Por outro lado, alerta Edmundo Lima, diretor da Abvtex (associação que reúne varejistas como C&A e Marisa), se os varejistas concorrentes reduzem suas coleções a itens básicos e muito similares, podem cair na armadilha de se canibalizarem em uma guerra de preços. É preciso, portanto, encontrar o equilíbrio entre preservar algum diferencial, mas sem inovar demais.
A saída escolhida por grandes lojistas, aponta Lima, foi lançar um produto "menos modinha", que pode ser usado por mais tempo. Estampas grandes, decotes exagerados, saias curtas demais e paetês em excesso - peças de uso limitado a ocasiões específicas - saíram das vitrines e deram espaço a roupas polivalentes, "que podem ser usadas tanto em festas como em almoços de família", como resume Marcelo Prado, diretor do instituto Iemi, que estuda o setor.
Para o estilista Valdemar Iódice, da rede Iódice, o desafio é equilibrar as cores, evitando excessos e estampas "agressivas", mas sem cair em uma cartela que traga só tonalidades básicas. "Não pode ficar só no bege." Na Memo, marca esportiva de Patricia Birman - filha de Anderson Birman, fundador da Arezzo -, os últimos dois anos focaram linhas mais neutras. Essas peças, que ela chama de "essenciais", correspondem à maior parte do que é vendido.
Fátima Brilhante, da marca nordestina Famel, diz ter cuidado ao apostar em "peças-conceito", aquelas que são mais inventivas, geralmente vistas em desfiles. "Tem que observar as referências que tiveram baixa demanda e reduzi-las no estoque das coleções seguintes." Na outra ponta, as roupas "campeãs de vendas" - modelos que vendem bem em todas as estações - podem voltar repaginadas.
A estilista Lilly Sarti, cuja marca leva seu nome, diz que tenta fazer uma moda "slow fashion" - o contrário da "fast fashion", a moda barata para consumo rápido, com trocas constantes de coleção - para tentar prolongar a vida útil do guarda-roupa de suas consumidoras.
A indústria também reduziu custos no processo produtivo ao adotar, por exemplo, jeans que desperdiçam menos água durante a lavagem e mesclas de tecidos considerados mais nobres, como o algodão, com fibras sintéticas, que ficaram mais baratas após a queda do preço do petróleo.
A alta do dólar em 2016 também ajudou as fábricas nacionais, já que puderam concorrer com os importados, que ficaram mais caros. "A busca da indústria nacional não se deve só ao câmbio. Também veio porque, em um momento difícil de fazer previsões de demanda, o fabricante nacional responde mais rápido aos pedidos e permite que o varejista compre lotes pequenos", diz.
 

Marcas apostam no 'veja agora, compre agora'

Em tempos que seguem o ritmo instantâneo das redes sociais, mudança é a palavra de ordem. Esse foi o espírito que a 43ª edição da São Paulo Fashion Week, na semana passada. Depois de uma temporada de transição, a semana de moda retornou completamente dentro do formato see now, buy now, ou "veja agora, compre agora", que tem sido testado no Brasil e lá fora por marcas como Burberry e Ralph Lauren. Assim, todas as grifes que participam da temporada outono/inverno vão colocar suas coleções à venda logo em seguida ou, pelo menos, alguns dias depois do evento. O esquema rompe com o ciclo tradicional da moda, no qual normalmente se passam meses entre o desfile e a chegada das roupas às lojas.

"Nesses 22 anos de SPFW, já fizemos algumas adaptações para atender às necessidades de mercado daquele momento. Isso é exatamente o que ocorre agora", explica o organizador da SPFW, Paulo Borges. Para ele, a mudança representa uma tentativa de encontrar um "ponto de equilíbrio" entre o timing das redes e o tempo de produção das roupas.

A estilista Giuliana Romanno afirma que o novo modelo tem dado certo. Ela retorna à SPFW após pular as duas últimas edições para se adaptar ao modelo see now, buy now. Seu último desfile, em agosto de 2016, foi realizado de forma independente, já dentro do formato, e os resultados foram surpreendentes. "Foi a melhor coisa que já fiz na vida. Em agosto, quando apresentei a minha primeira coleção nesse modelo, a marca cresceu 85%, isso comparado com agosto de 2015", comemora a estilista. As pessoas querem tudo para agora. Não sei se a cliente compraria da mesma forma um mês depois. No antigo formato, aquele que a pessoa tinha que esperar seis meses, ficávamos cansados de tanto ver as roupas e os acessórios nas mídias sociais.

A adaptação, no entanto, não transcorreu da mesma forma para todos. Nomes consagrados na indústria, como Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, Iódice, Helô Rocha e Glória Coelho, ficaram de fora desta temporada justamente por conta do novo calendário. Ao mesmo tempo, a semana contou com estreantes como A.Niemeyer, Tig, Two Denim, Fabiana Milazzo e Alexandrine, cuja coleção foi assinada por Dinho Batista. Outra novidade foi a Sissa, nova marca de Alessandra Affonso Ferreira, estilista que alcançou prestígio internacional nos últimos anos à frente da Isolda. Ainda prometem movimentar a Bienal a Ellus, que comemorou seus 45 anos com um desfile especial, e a LAB, que fechou a semana. Liderada pelos irmãos Emicida e Evandro Fióti, a grife teve um dos desfiles mais falados da última edição, quando fez a sua estreia.

Para Paulo Borges, a ausência de alguns nomes tradicionais nesta edição é normal. "Sempre houve, para alguns, a necessidade de pular uma edição ou outra. As razões são variadas e particulares de cada um. Os próprios Reinaldo, Ronaldo e Iódice já pularam edições anteriores, por outros motivos."