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Crédito

- Publicada em 28 de Fevereiro de 2017 às 23:02

Crédito às famílias supera o concedido às empresas

Em janeiro, 50,93% da carteira de crédito referia-se à pessoa física

Em janeiro, 50,93% da carteira de crédito referia-se à pessoa física


MARCO QUINTANA/JC
Pela primeira vez na história, a participação das empresas na carteira de crédito do País ficou menor que o das famílias. A mudança no mix de empréstimos e financiamentos no sistema bancário foi provocada por dois fatores. De um lado, estão as empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito. Do outro, estão as companhias inadimplentes, que precisam se financiar - ou rolar dívidas - e não conseguem aprovação dos bancos.
Pela primeira vez na história, a participação das empresas na carteira de crédito do País ficou menor que o das famílias. A mudança no mix de empréstimos e financiamentos no sistema bancário foi provocada por dois fatores. De um lado, estão as empresas com elevada capacidade ociosa que pararam de buscar crédito. Do outro, estão as companhias inadimplentes, que precisam se financiar - ou rolar dívidas - e não conseguem aprovação dos bancos.
Levantamento do pesquisador do Ibre/FGV e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público, José Roberto Afonso, com dados do Banco Central (BC), mostra que a inversão das posições ocorreu pela primeira vez em dezembro. Em janeiro, 50,93% da carteira de crédito referia-se a empréstimos e financiamentos para pessoa física e 49,07%, para empresas. Em janeiro de 2016, esses percentuais eram de 47,38% e 52,62%, respectivamente. "Esse é um resultado muito estranho, fere a história e a lógica, já que o estoque de financiamentos para empresas nunca tinha sido superado pelo de pessoa física", diz Afonso, atribuindo a mudança à recessão.
Em janeiro, o estoque total de crédito havia recuado para o menor nível desde abril de 2015. Mas para pessoa jurídica foi ainda pior: caiu para patamares de julho de 2014. Enquanto isso, o estoque de crédito para as famílias só aumentou - o que também não pode ser interpretado como uma boa notícia. O economista Roberto Luis Troster explica que parte dessa alta é efeito da taxa de juros mais alta para o consumidor e também de uma estratégia usada por donos de empresas em dificuldades, que buscam crédito como pessoa física para usar nos negócios.
A avaliação é de que, enquanto o governo não resolver o crédito, a economia não vai se recuperar. O economista da Serasa Experian Luiz Rabi destaca que 2016 bateu recorde de empresas inadimplentes: 4,8 milhões, ou 50% do total do País. Para os economistas, o recuo do crédito revela a intensidade da crise, e explica até mesmo a baixa arrecadação tributária.

Setor que mais sofre com falta de recursos financeiros é o industrial

A dificuldade das empresas em conseguir crédito no mercado também é retratada em uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De um total de 430 indústrias de pequeno a grande porte, quase metade tentou contratar ou renovar alguma linha de crédito. Dessas, 11,7% tiveram o pedido recusado e 25,4% conseguiram menos de 60% do valor solicitado.
A situação foi pior entre aquelas empresas que buscaram crédito para pagar dívidas. Nesse grupo, 19,1% não tiveram o empréstimo aprovado. Para quem buscou linha de crédito para capital de giro, 11,6% não tiveram o crédito aprovado. Os motivos para a recusa dos bancos variaram de garantias insuficientes ao elevado endividamento.
Mesmo para quem teve o empréstimo aprovado, as situações foram muito piores do que as do ano anterior. Algumas não aceitaram o crédito por causa do elevado custo e prazo curto.
Entre as empresas que tiveram o crédito recusado, o resultado foi o atraso ou renegociação com pagamento de fornecedores, cancelamento (ou redução) de investimentos e redução de funcionários.