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Cinema

- Publicada em 02 de Março de 2017 às 23:56

O muro

O nome do diretor Zhang Ymou era garantia de uma narrativa bem estruturada e de imagens dotadas de transparência e plasticidade. Era perfeitamente razoável esperar do cineasta um espetáculo suntuoso, narrado pela competência de um realizador que merecidamente havia conseguido prestígio e reconhecimento. A grande muralha também despertava curiosidade por ser uma coprodução de chineses e norte-americanos, o encontro cinematográfico, portanto, das duas grandes potências mundiais. Porém, a decepção é grande, não apenas por ser o filme dominado por clichês, submisso às leis dos efeitos especiais, no caso utilizados de forma grosseira, e marcado em todo o desenrolar pela irritante utilização de exageros na faixa sonora, algo sempre utilizado pelos medíocres para esconder suas limitações. Entre seguir os exemplos de Anthony Mann, em El Cid, e Stanley Kubrick, em Spartacus, para citar apenas estes, Ymou preferiu trilhar caminhos de subdiretores empenhados apenas em impressionar os que ainda se deixam levar por imposições de um sistema de produção voltado para superficialidades e reducionismos. Não entrou em conflito criativo com as diretrizes do sistema de produção, algo indispensável para criar obras dignas de serem levadas a sério, o que aconteceu várias vezes no passado. O desfile de lugares comuns, o emprego de um humor simplório e a falta de imaginação terminam tornando o filme uma peça previsível e monótona.
O nome do diretor Zhang Ymou era garantia de uma narrativa bem estruturada e de imagens dotadas de transparência e plasticidade. Era perfeitamente razoável esperar do cineasta um espetáculo suntuoso, narrado pela competência de um realizador que merecidamente havia conseguido prestígio e reconhecimento. A grande muralha também despertava curiosidade por ser uma coprodução de chineses e norte-americanos, o encontro cinematográfico, portanto, das duas grandes potências mundiais. Porém, a decepção é grande, não apenas por ser o filme dominado por clichês, submisso às leis dos efeitos especiais, no caso utilizados de forma grosseira, e marcado em todo o desenrolar pela irritante utilização de exageros na faixa sonora, algo sempre utilizado pelos medíocres para esconder suas limitações. Entre seguir os exemplos de Anthony Mann, em El Cid, e Stanley Kubrick, em Spartacus, para citar apenas estes, Ymou preferiu trilhar caminhos de subdiretores empenhados apenas em impressionar os que ainda se deixam levar por imposições de um sistema de produção voltado para superficialidades e reducionismos. Não entrou em conflito criativo com as diretrizes do sistema de produção, algo indispensável para criar obras dignas de serem levadas a sério, o que aconteceu várias vezes no passado. O desfile de lugares comuns, o emprego de um humor simplório e a falta de imaginação terminam tornando o filme uma peça previsível e monótona.
A China, como se sabe, passada a época da chamada revolução cultural, na verdade um exercício de autoritarismo destinado a domesticar pela força corações e mentes, passou por grandes transformações, nas quais a abertura de espaço para as artes terminou, como era esperado, por beneficiar o cinema. Mesmo que alguns filmes circulem de forma limitada, cineastas chineses têm obtido repercussão, principalmente no exterior, entre eles, Jia Zhang-ke, cujo impressionante - principalmente no primeiro episódio - Um gosto de pecado foi aqui exibido. Este cineasta chegou a ser o protagonista do documentário realizado em 2015 pelo brasileiro Walter Salles, no qual tinha a oportunidade de falar sobre as dificuldades de exibir seus filmes na China, depois de a produção ser autorizada e mesmo permitida à exportação, o que tem trazido prestígio para a cinematografia chinesa. Zhang Ymou, por sua vez, foi um dos beneficiados pela relativa abertura. Foi com O sorgo vermelho, em 1987, que ele começou a chamar a atenção, realizando um filme distante das coreografias ingênuas destinadas a exaltar o trabalho no campo e das odes ao partido dirigente. Seu filme seguinte, Lanternas vermelhas, de grande beleza visual, seguiu a mesma linha e se constituiu, até certo ponto, numa surpreendente manifestação crítica, ao mostrar que a população de uma aldeia, símbolo evidente de todo o país, era mais sábia que seus dirigentes. Embora seus filmes seguintes não tenham obtido o mesmo impacto, ele não perdeu o prestígio e até foi designado a dirigir a cerimônia de abertura da Olimpíada de Pequim, em 2008.
Com este seu filme agora em exibição, no qual conta com a participação de Matt Damon no elenco, Ymou deixa escapar a oportunidade de realizar uma obra sobre a ameaça de forças reprimidas, diante das quais a construção de um muro parece ser a solução mais simples. Esses monstros que os personagens humanos têm de enfrentar bem que poderiam representar, como no King Kong, de Schoedsack, a revolta de instintos aprisionados, mas surgem como inimigos de um reino ameaçado. E numa época em que empresas chinesas batem recordes na Bolsa de Nova Iorque, não é de estranhar que um herói que se expressa em língua inglesa seja uma figura essencial na vitória contra os inimigos. Quem esperava ver algo próximo de O homem que queria ser rei, que John Huston realizou a partir de uma narrativa de Rudyard Kipling, sairá decepcionado. O filme não foi feito para tal gênero de plateia. Seu objetivo é outro, muito distante de qualquer tentativa voltada para a colocação na tela de peças essenciais. O que o filme procura é focalizar figuras e objetos para criar uma encenação deformadora e superficial.
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