Ricardo Gruner

Se o Rio Grande do Sul é um território a ser conquistado pela The Baggios, a exploração inicial está marcada para amanhã. Após três discos e um DVD em 13 anos, finalmente os sergipanos se apresentam em Porto Alegre - no primeiro de quatro shows pelo Estado. Com a pompa de ter Brutown em diversas listas de melhores discos do ano passado, o duo formado por Julio Andrade (voz e guitarra) e Gabriel Carvalho (bateria) é atração na Casa Frasca (Independência, 426). O show está marcado para as 22h de quinta-feira, com ingressos a partir de R$ 20,00 - disponíveis pelo site do Mais Shows.

O mais recente lançamento do grupo marca uma virada de trajetória. Até então, os músicos se limitavam ao formato de dupla - com o qual desenvolveram um blues rock que lhes rendeu projeção nacional e passagens por eventos como o festival Lollapalooza. Em Brutown, a essência continua a mesma, mas o recheio é outro: houve o acréscimo de outros instrumentos e novas abordagens sonoras. "Estou muito mais realizado. E é instigante ver essa notoriedade depois de tanto tempo", comemora o cantor, fã de Jimi Hendrix e Raul Seixas. "Estava me sentindo encurralado. Queria desenvolver meu lado de guitarrista, criar arranjos, solos, pensar em uma música menos crua, com mais possibilidades", explica. Segundo ele, este é o momento certo para os gaúchos conhecerem o trabalho da The Baggios - que vem passeando pela cena do rock e da música popular brasileira atual.

Criada em São Cristóvão, cidade histórica da Grande Aracaju, a banda tem a realidade local como inspiração para parte das letras. Como um tiro de bacamarte, por exemplo, gira em torno de um romance complicado que se passa durante manifestações culturais de Sergipe. "Muitos desses festejos e personagens que cito nas letras eu acompanho desde a infância", conta o compositor. "Há uma sensação legal em escrever sobre o passado. E acabo trazendo esses elementos para um ambiente mais 2016, 2017, para dialogar com o mundo doido em que nós vivemos", relata. De acordo com o compositor, o universo interiorano possui mais destaque em Sina (2013) do que em Brutown - mais político e universal.

A relação do grupo com São Cristóvão, contudo, é curiosa. "Dá para contar nos dedos as vezes em que tocamos lá. Desenvolvemos nosso público em Aracaju mesmo", conta Andrade - explicando que há pouquíssimo espaço para o rock em sua cidade natal. Nos últimos tempos, a dupla também tem ido quatro ou cinco vezes por ano a São Paulo para shows. Foi uma dessas visitas ao estado paulista que barrou uma possível vinda ao Rio Grande do Sul anteriormente: quando houve o convite para trazer o duo para cá, as datas coincidiram com um circuito de shows no Sudeste.

Conforme Julio Andrade, a banda estreia por aqui em um momento de mais segurança e diversidade sonora. Ele e Gabriel Carvalho trazem até um reforço para interpretar as faixas do novo disco. À dupla se junta Rafael Rocha, que participou também das gravações. O agregado se encarrega dos teclados, em um modelo à la The Doors: o baixo é feito no sintetizador, enquanto outro teclado faz piano elétrico e órgão.

No registro do compacto, no entanto, Rocha não foi o único participante especial. Entre os processos de pré-produção e mixagem do álbum, os músicos decidiram chamar alguns convidados - imaginando que um ou outro toparia. "Todo mundo aceitou", diverte-se o vocalista, acrescentando: "O disco ficou lotado de artistas que nós admiramos para caramba". A lista inclui nomes como Jorde Du Peixe (Nação Zumbi), Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e a dupla Gabriel Thomaz e Erika Martins (dos Autoramas), entre outros.

Dedicada a um setlist que privilegia o novo álbum mas não esquece dos primeiros, a The Baggios continua mostrando seu som aos gaúchos no fim de semana. Na sexta-feira, a turnê tem passagem por Santa Maria; no sábado, Sapiranga recebe o espetáculo. O fechamento acontece domingo, com show em Esteio. A agenda completa pode ser acessada pelo site do duo: www.thebaggios.com.br.