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Cinema

- Publicada em 17 de Janeiro de 2017 às 15:05

As estações

O ato de cantar integra o comportamento humano, faz parte de seu cotidiano, de suas alegrias e dores, de suas esperanças e frustrações. É uma forma de exaltação e também uma maneira de expressar desalento. O canto pode transformar o ser humano num guerreiro, assim como expressar a incapacidade de reação diante de adversidades. Pode ser uma expressão de amor como uma manifestação de ódio.
O ato de cantar integra o comportamento humano, faz parte de seu cotidiano, de suas alegrias e dores, de suas esperanças e frustrações. É uma forma de exaltação e também uma maneira de expressar desalento. O canto pode transformar o ser humano num guerreiro, assim como expressar a incapacidade de reação diante de adversidades. Pode ser uma expressão de amor como uma manifestação de ódio.
Cantar é forma de aproximação com a música, esse elemento que acolhe todas as emoções, transformando-as em sons e assim alcançando a essência não visível delas. O chamado filme musical não é apenas um gênero cinematográfico, pois também é uma forma de arte na qual a realidade é ultrapassada, mas não deformada, pois coloca o espectador diante de sonhos não concretizados e só alcançados através da fantasia. O ato de dançar, por sua vez, igualmente, é um prolongamento natural do comportamento humano, na medida em que, construído no espaço a partir do movimento, expressa igualmente sentimentos por vezes ocultos pelas palavras.
A dança de povos ditos primitivos pedindo chuva ou preparando indivíduos para o combate, os gestos de agradecimento a divindades e as formas de exaltação representam formas nas quais indivíduos de todas as épocas expressam no movimento seus desejos. O cinema, sendo a reunião de todas as artes, não poderia distanciar-se da música e da dança. O nascimento do filme musical, depois que o cinema se tornou sonoro, é uma prova de que a nossa arte também é um produto da tecnologia e assim aquela que abrange praticamente todos os ramos do conhecimento humano.
O diretor Damien Chazelle, o realizador de La la land, que tem 32 anos, não vivia quando o gênero musical estava no seu auge, mas conhece bem os clássicos do gênero, algo que os integrantes da velha guarda poderão facilmente perceber ao verem seu filme agora em cartaz. Ele parece ser principalmente um grande admirador de Vincente Minnelli, a se julgar pela extensão e a meticulosidade da cena em que homenageia aquele mestre. A citação, a mais prolongada do filme, é a da cena noturna no parque de A roda da fortuna, que, no documentário Santiago, João Moreira Salles utilizava quase integralmente recorrendo ao filme original.
E com a referência a Minnelli, que não foi grande apenas nos musicais, pois realizou outras obras-primas fora do gênero, como Assim estava escrito e Sede de viver, o filme expressa seu tema principal, que é o da busca de um sonho. Numa entrevista aos Cahiers du Cinéma, o cineasta homenageado lembrava o processo de análise que começa com a procura do significado dos sonhos. Eles, como se sabe, concretizam desejos. No final de outro grande momento do gênero, Sinfonia de Paris, Minnelli parece filmar um final feliz, mas a reunião, do casal só se realiza na imaginação, já que os protagonistas vestem as fantasias do baile, como se o sonho ultrapassasse a imaginação e invadisse a realidade. No epílogo de La la land, o realizador, também o autor do roteiro, de certa forma percorre o caminho inverso para chegar à mesma conclusão.
O cineasta também não esquece de homenagear, além de outros mestres do gênero, um musical francês, o melhor realizado distante de Hollywood - Os guarda-chuvas do amor, de Jacques Demy, que, ao contrário dos norte-americanos, não tinha diálogos falados, uma verdadeira ópera popular, portanto. A sequência final, uma das melhores do filme, ao lado da cena do planetário e da já citada desenrolada no parque, é uma clara referência ao filme de Demy, que, em outro trabalho, Duas garotas românticas, prestou sua homenagem ao musical norte-americano.
O filme de Chazelle é realmente um momento significativo, porque, ao se aproximar dos clássicos, não os imita e procura algo novo a partir da solidez das grandes obras do passado. E também porque sabe sintetizar de forma admirável o tema do conflito entre sonho e realidade. O pianista de jazz é obrigado a se submeter a modernidades que violentam sua integridade, algo explicitado na cena em que ele é comandado por um fotógrafo. E quando se afirma como artista contempla seu sonho desfeito. E a agora atriz famosa percorre trajetória igual. Os sonhos permanecem distantes da realidade.
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