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Rodovias

- Publicada em 10 de Janeiro de 2017 às 15:45

Pior estrada do Brasil liga a Bahia ao estado do Tocantins

Uma gota de suor escorre pelo rosto do borracheiro João Marciano, o Gauchinho, enquanto ele dá mais uma batida com um martelo para tirar a roda de um caminhão parado em sua loja em Placas, último povoado do oeste da Bahia. A roda sai do eixo após uma última puxada. O pneu está destruído. "Esse já era. Vai pra pilha", diz Gauchinho ao caminhoneiro Rafael Balan, que observa conformado.
Uma gota de suor escorre pelo rosto do borracheiro João Marciano, o Gauchinho, enquanto ele dá mais uma batida com um martelo para tirar a roda de um caminhão parado em sua loja em Placas, último povoado do oeste da Bahia. A roda sai do eixo após uma última puxada. O pneu está destruído. "Esse já era. Vai pra pilha", diz Gauchinho ao caminhoneiro Rafael Balan, que observa conformado.
O pneu de R$ 1.400,00 vai para uma área na lateral da loja que, segundo o borracheiro, estava limpa havia um mês e agora tem outros 30 pneus amontoados à beira da BA-460, uma das vias que ligam a região ao Tocantins.
O trecho faz parte de uma rota de 262 quilômetros que é considerada a pior estrada do País entre os 109 principais corredores de tráfego pesquisados todos os anos pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A reportagem percorreu a rota ida e volta.
Velha, perigosa, sem sinalização, com curvas fechadas, pontes estreitas, buracos e ondulações, a ligação viária entre as cidades de Luís Eduardo Magalhães (BA) e Natividade (TO) fez o caminhoneiro perder tudo o que ganharia no frete. É um pedaço da conta que colabora para o País a desperdiçar, todo ano, R$ 2,3 bilhões com a má qualidade das estradas, segundo a CNT.
São perdas financeiras - na estimativa da CNT, cada caminhão que passa por esse trecho gasta 48% mais do que gastaria numa estrada boa - e também de vidas. Em 2014, foram 110 acidentes com 12 mortes, colaborando com a estimativa de 44 mil mortes por ano no Brasil.
"Morre mais gente em estradas aqui do que em países em guerra", diz Bruno Batista, diretor da CNT, que estima um custo de R$ 187 milhões para recuperar o trecho.
De acordo com dados da consultoria Bain & Company, o Brasil tem apenas 14 mil quilômetros de estradas de qualidade, com vias de mão dupla, acostamento e sinalização, chamadas de autoestradas. Isso significa menos de um décimo do total de vias americanas e chinesas nessa condição, outros dois países com grandes territórios.
Para dirigir na pior estrada do Brasil, os caminhoneiros contam que precisam andar em baixa velocidade por vários quilômetros. Estão sujeitos a freadas bruscas, fazendo com que o consumo chegue a 1,4 km por litro - numa estrada de boa qualidade, seria possível fazer até 2,2 km/l.
Placas são outra raridade na rodovia. Num trecho da TO-040, próximo à cidade de Bom Jardim (TO), uma descida termina num trevo com duas curvas em 90 graus. Sem sinalização, as opções para quem não conhece a estrada são a freada brusca ou a passagem em linha reta já dentro do terreno de um comerciante local.

Raio-X da rodovia BA-460

Rota: liga Natividade (TO) a Luís Eduardo Magalhães (BA)
  • Extensão: 262 quilômetros
  • Acidentes em 2015: 110*
  • Mortos em 2015: 12*
  • Custos: um caminhão gasta 48% mais do que gastaria em uma estrada boa
* Considera apenas os trechos estaduais

Corredor é usado para escoar adubo e grãos

A rodovia BA-460 é usada principalmente por caminhões que vão com adubo da Bahia e voltam com calcário e grãos do Tocantins. Dirceu Delatorre, que tem duas fazendas no Tocantins, diz que os custos de seus sete caminhões aumentam 20% ao transitar na região.
Um dos motoristas é Noé Rodrigues, 65, dirigindo caminhão desde 1978. Orgulhoso, mostra a nova Volvo 540 I-Shift com câmbio automático de 12 marchas. Mas, na hora de partir, o sentimento é a lamuria. "Dá até pena botar um caminhão novo assim numa estrada dessa", diz o caminhoneiro, lembrando o preço de R$ 375 mil da máquina.
A balança no posto de fiscalização entre os dois estados está quebrada desde novembro, sem perspectiva de voltar a funcionar porque o contrato de manutenção foi encerrado. Fiscais contam que caminhões passam ali nitidamente acima do peso, o que piora mais a rodovia.
Carminha Missio, presidente do Sindicato Rural de Luís Eduardo, conta que a chegada das estradas asfaltadas ajudou no crescimento da região, hoje uma das mais ricas do Nordeste.
Mas a rodovia parou no tempo: é a mesma desde 2006, quando havia 5 mil carros na cidade - hoje, são 40 mil. Isso levou ao seu esgotamento e, consequentemente, aos acidentes rotineiros. Uma das vítimas foi Amélio Gatto, o pai de Carminha, que chegara em 1979 de Espumoso (RS) e se tornou um dos desbravadores da região, os chamados "Baiuchos".