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redes sociais

- Publicada em 17 de Janeiro de 2017 às 19:02

Facebook se torna território de caça a caloteiros

'Delações espontâneas' têm ajudado na investigação de crimes fiscais

'Delações espontâneas' têm ajudado na investigação de crimes fiscais


AFP/JC
É difícil encontrar quem não tenha visto nos jornais ou na televisão alguma reprodução das fotos da jornalista Claudia Cruz, mulher do ex-deputado federal Eduardo Cunha, postadas no Facebook e que delatavam as viagens internacionais do casal, regadas a gastos milionários com o cartão de crédito, e que levaram procuradores da Lava Jato a associar as viagens a contas na Suíça. Por mais que pareçam ostentação, as "delações" espontâneas pelas redes sociais parecem ter virado febre, e não se restringem ao mundo da política ou dos famosos. Elas têm sido um dos pontos de partida para investigadores privados correrem atrás do patrimônio oculto de caloteiros, que sumiram com seus bens para evitar pagar empréstimos bancários.
É difícil encontrar quem não tenha visto nos jornais ou na televisão alguma reprodução das fotos da jornalista Claudia Cruz, mulher do ex-deputado federal Eduardo Cunha, postadas no Facebook e que delatavam as viagens internacionais do casal, regadas a gastos milionários com o cartão de crédito, e que levaram procuradores da Lava Jato a associar as viagens a contas na Suíça. Por mais que pareçam ostentação, as "delações" espontâneas pelas redes sociais parecem ter virado febre, e não se restringem ao mundo da política ou dos famosos. Elas têm sido um dos pontos de partida para investigadores privados correrem atrás do patrimônio oculto de caloteiros, que sumiram com seus bens para evitar pagar empréstimos bancários.
Enquanto Claudia Cruz desfilava com suas fotos em Paris, Dubai e Roma; em Campinas, interior de São Paulo, um empresário italiano, dono de um negócio de robôs dançantes, não podia imaginar que a foto de sua família à beira da piscina pudesse comprometer o patrimônio que tinha colocado no nome de terceiros para evitar pagar uma dívida milionária. A foto, publicada por um parente no Facebook, revelava os contornos de uma piscina curvilínea, muito diferente das tradicionais. O aspecto pouco comum do pátio foi suficiente para que uma mansão fosse identificada por meio do Google Earth, que mostra imagens da terra por satélite.
A partir daí, os investigadores da Jive Investments, que administra R$ 800 milhões em fundos que compram créditos inadimplentes de bancos, conseguiram desbaratar o patrimônio do empresário, que estava na mão de terceiros. A Jive tem 8 mil créditos para cobrar e, segundo Guilherme Ferreira, sócio da gestora, nenhum deles fica esquecido. A tática é fazer com que a pessoa esqueça e baixe a guarda. "Depois de tanto tempo rolando um processo, a pessoa nem percebe que está se expondo", diz Ferreira.
A rede social é o ponto de partida para saber que tipo de vida a pessoa leva, por onde circula, se tem dinheiro, que tipo de compras e que viagens faz. Mas as investigações vão além. Saber da paixão pelo time de futebol pode ser bastante útil, por exemplo. Os juízes podem impedir que um cidadão vá assistir ao jogo no estádio, pode bloquear passaporte, carteira de motorista ou mesmo o cartão de crédito, se houver uma dívida que não foi paga.
Tudo isso tem o efeito de trazer o devedor para a negociação. Qualquer quantia que os gestores de fundo recuperem pode fazer os fundos darem saltos de rentabilidade. Mas não é só no setor privado que as investigações são ferramentas para recuperar crédito. No ano passado, a Procuradoria-Geral de São Paulo iniciou uma força-tarefa para provar aos juízes que empresas estão usando inúmeros CNPJs para despistar dívidas com o fisco. A subprocuradora-geral, Maria Lia Corona, diz que a equipe já conseguiu uma vitória ao demonstrar ao juiz que diferentes supermercados que sofreram atuações fiscais pertenciam ao mesmo grupo, o Futurama. Conseguiram assim que o juiz permitisse a penhora de parte do faturamento da empresa.=

Renegociação passa pela compra da dívida

O ex-diretor de crédito do Unibanco Carlos Catraio, que tem mais de 30 anos de experiência em gerenciar créditos, possui hoje uma "distressed", a BrD - especializada em comprar dívidas com deságios relevantes em relação ao valor principal. Começou com R$ 500 milhões, há seis anos, patrimônio que deve chegar a R$ 2 bilhões neste ano, crescendo com o retorno dos créditos recuperados.
A especialidade de Catraio é comprar créditos específicos de empresas e renegociar. "Para os bancos, é interessante vender, porque eles limpam o balanço; e para os devedores, porque conseguem negociar com alguém que vai lhe dar um tremendo desconto." Ele conta o caso de um empresário que devia R$ 5 milhões e fugiu do País para abrir o mesmo negócio em Miami: assim que a BrD o chamou para negociar, o interesse foi instantâneo. "Sua dívida imediatamente já baixou para menos de R$ 2 milhões." Isso acontece, porque os bancos vendem esse tipo de crédito, que parece irrecuperável, com descontos que vão de 50% e podem chegar a 99% da dívida original.

Procuradoria adere à investigação de desvios

Uma das estratégias mais comuns de empresários que querem fugir de dívidas é criar muitos CNPJs, o número de registro dado a uma empresa. Quando fazem isso, dividem seu patrimônio em diferentes empresas e impedem que seus credores consigam encontrar o suficiente para honrar pagamentos. Mas esse tipo de estratégia está menos eficaz a cada dia. E não só investigadores privados estão no rastro dessas empresas, como também órgãos públicos começam a investir em equipes de inteligência para investigar esses grupos.
No ano passado, a Procuradoria-geral do Estado (PGE) de São Paulo criou uma força-tarefa para começar a investigar o patrimônio dos maiores devedores tributários e vasculhar patrimônios ocultos. A estratégia já deu resultados, segundo a subprocuradora-geral, Maria Lia Pinto Corona. No ano passado, a procuradoria conseguiu uma decisão judicial que bloqueava parte do faturamento dos Supermercados Futurama, uma rede localizada na cidade de São Paulo.
Segundo Maria Lia, cada supermercado da rede tinha um CNPJ diferente, com nome diferente. Assim, a possibilidade de bloqueio de faturamento acabava sendo mais limitada, já que normalmente se restringe a um percentual do faturamento da empresa.
Os procuradores visitaram os supermercados autuados e repararam que todos tinham a mesma logomarca, mas nos autos de infração apareciam com nomes diferentes e CNPJs diferentes. Ao conseguir provar ao juiz que todos os supermercados pertenciam à mesma rede, a procuradoria obteve o bloqueio de valores maiores para honrar o pagamento de dívidas. A rede de supermercados foi procurada, mas não respondeu ao pedido de entrevista.
No setor privado, a Jive Investments também está usando de estratégia similar para tentar provar que uma rede de academias pertence ao mesmo grupo econômico. Para isso, matriculou uma pessoa em uma das unidades da Runner em São Paulo, pedindo entretanto que a academia permitisse a entrada do matriculado em todas as unidades espalhadas pelo País.
Por se tratar de um plano corporativo, acabou tendo acesso aos diferentes CNPJs. De acordo com a Jive, com isso, conseguiu colocar todas as empresas no polo passivo da ação e agora tenta provar ao juiz que se trata do mesmo grupo econômico. A Runner, entretanto, informou que o grupo é formado por unidades licenciadas, sendo que cada uma delas tem um proprietário diferente.
"Hoje, nosso grupo é formado por unidades licenciadas, sendo cada unidade de diferentes donos/proprietários e CNPJs distintos e próprios. Não sei sobre qual delas você está escrevendo, muito menos a veracidade dessas informações", disse, por e-mail, a assessoria de marketing da empresa.

Uso de rede social precisa de público-alvo

Ferramenta é poderosa se bem explorada

Ferramenta é poderosa se bem explorada


KIMIHIRO HOSHINO/AFP/JC
Alternativa acessível para pequenas empresas, redes sociais são uma ferramenta poderosa e barata de marketing. Mas geram dividendos apenas quando usadas com uma estratégia, público-alvo definido e conteúdo relevante. A dica é delimitar bem o público-alvo. Vale observar formadores de opinião e concorrentes para identificar interessados pelo produto. "Abrir a página por abrir, sem planejamento, é receita para o fracasso", diz a professora de marketing digital da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista) Winna Zansavio.
O coordenador do núcleo de inovação em mídia digital da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), Eric Messa, sugere a geolocalização para identificar a quem o anúncio realmente interessa, em vez de gastar verba à toa.
"As redes pedem segmentação do público, diferente das mídias de massa, em que o anúncio falava a todos", afirma Messa. "Agora, o alcance não precisa ser tão grande, a questão é ir direto ao ponto. É uma mudança que muitos não entendem."
Planejar o conteúdo também é vital para aumentar o interesse do público. Na Light Chef, que vende refeições saudáveis em São Paulo e faturou R$ 3 milhões em 2016, as reuniões para definir as postagens são semanais. "Planejamos cinco posts por semana: três sobre nossos pratos e dois com dicas de nutrição, esporte e estilo de vida", afirma o sócio Felipe Dubau, 28 anos.
Além do planejamento, é preciso identificar quais redes são apropriadas para seu tipo de negócio. O Facebook é a principal delas, indispensável para empresas de qualquer área, e pode representar uma parcela considerável das vendas.
Quem está no ramo de entretenimento pode investir no YouTube, e quem vende produtos pode usar o Instagram ou o Pinterest para apresentá-los usando imagens. Na loja virtual carioca Zen Animal, o Facebook é responsável por trazer 12% do faturamento anua. A gestão das redes é feita pela fundadora, Karen Neves, 33 anos.
"Fazemos questão de responder a todos, e com rapidez. Vimos que isso aumenta a conversão de visitas em vendas", afirma Neves. Não enrolar o cliente, mas mostrar a eficácia do produto, também é fundamental. "Fazer panfletagem, em vez de contar como o item é útil, não adianta", afirma o professor da ESPM e consultor na área digital Edney Souza. O administrador Sidney Machado, 31, dono da clínica de estética paulistana Bonapele, investe na divulgação de em imagens de "antes e depois" de seus clientes. "Nesse setor, que depende de confiança, mostrar resultados ajuda muito", afirma.