Um clube de futebol, uma cidade do Interior que por ele é representada, uma final da Copa Sul-Americana, tudo tragicamente ceifado por um acidente de aviação. A Associação Chapecoense de Futebol, conhecida popularmente como Chape, estava por participar dos dois jogos mais importantes da sua relativamente breve trajetória, eis que fundada em 1973.
A vida era bela para a cidade de Chapecó (SC), para o clube, para o futebol brasileiro e para as equipes esportivas de rádios, TVs e jornais que transmitiriam o grande momento, eis que, pelo menos, vice-campeã da Copa Sul-Americana a Chape já era.
Porém, a queda da aeronave ceifou 71 vidas, entre elas quase toda equipe de futebol. A comoção invadiu não apenas Chapecó, em Santa Catarina, mas todo o Brasil. Aos poucos as notícias tomaram conta do Brasil, da Colômbia, do mundo.
A solidariedade de outros clubes, de Medellín, da Colômbia, de governos e torcidas se fez presente ao longo da semana, até o velório, em Chapecó, no fim de semana.
O grande exemplo, entretanto, veio justamente da cidade, das autoridades, da torcida e da equipe do Club Atlético Nacional, de Medellín, que seria o adversário da Chapecoense. Com a partida que jamais seria realizada, houve uma mobilização da cidade colombiana para reverenciar os mortos no acidente. A maior delas e mais emocionante, exatamente no dia, no horário e no estádio em que a partida se desdobraria.
Milhares de torcedores, autoridades e atletas do Nacional lotaram o local e o entorno do estádio, com velas, saudações e uma reverência jamais vista em termos de futebol. Tragédias anteriores com equipes foram lembradas, mas a que ficará, para sempre, na memória dos brasileiros, das famílias enlutadas e da história do nosso futebol será esta. E que seja a última.
Mas foi realmente emocionante ver tanta consternação, solidariedade e justas homenagens em torno de uma equipe de futebol e das demais vítimas - muitas jornalistas - em Medellín.
Após a tragédia, vieram diversos exemplos de apoio, amizade e até tolerância entre rivais, tendo em vista que qualquer evento futebolístico se torna menor diante de um acontecimento desses.
Nas homenagens em Chapecó tivemos até a presença de tribo indígena, dos primitivos habitantes da região, cujo líder, Condá, em um exemplo histórico, conseguiu harmonizar os interesses dos colonizadores europeus com os históricos habitantes daquelas terras, a fim de que deixassem uma grande área para aqueles que lá estavam, bem antes. E assim foi feito.
É uma oportunidade para reflexão e a possibilidade de uma mudança de comportamento entre torcedores, demonstrando que a rivalidade não precisa ser antítese de civilidade e bom convívio. Nesse aspecto, pode-se aproveitar esse exemplo de união para outros campos, inclusive o político.
É preciso trabalhar para que os destinos do Rio Grande do Sul e do Brasil sejam colocados acima de divergências político-partidárias. É evidente que o bom debate deve ser mantido, mas o momento é de união. Então que a tragédia de um clube de futebol, da Chapecoense, possa servir como um ponto de inflexão para que avancemos em prol dos superiores interesses do País.