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Gestão

- Publicada em 04 de Dezembro de 2016 às 21:17

"Depois que dá errado é fácil falar", diz Marcelo Lopes

Operações do Badesul foram dentro das regras, afirma Marcelo Lopes

Operações do Badesul foram dentro das regras, afirma Marcelo Lopes


MARCO QUINTANA/JC
Acostumado com atuação na área pública, Marcelo Lopes, de repente, se viu no olho do furacão. A concessão de R$ 90 milhões em crédito para duas empresas que, algum tempo depois, entrariam em recuperação judicial (R$ 40 milhões para a Iesa e R$ 50 milhões para a Wind Power Energia, valores que hoje são maiores em função das correções) colocaram um holofote em sua gestão à frente do Badesul, que foi de 2011 a abril de 2015. Os detalhes estão sendo investigados pelo Banco Central, que pediu explicações aos gestores. Uma das fases desse processo deve se encerrar até a segunda quinzena de dezembro, quando a Comissão de Sindicância da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que também está avaliando as circunstâncias dessa concessão de créditos, entregará o relatório final.
Acostumado com atuação na área pública, Marcelo Lopes, de repente, se viu no olho do furacão. A concessão de R$ 90 milhões em crédito para duas empresas que, algum tempo depois, entrariam em recuperação judicial (R$ 40 milhões para a Iesa e R$ 50 milhões para a Wind Power Energia, valores que hoje são maiores em função das correções) colocaram um holofote em sua gestão à frente do Badesul, que foi de 2011 a abril de 2015. Os detalhes estão sendo investigados pelo Banco Central, que pediu explicações aos gestores. Uma das fases desse processo deve se encerrar até a segunda quinzena de dezembro, quando a Comissão de Sindicância da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que também está avaliando as circunstâncias dessa concessão de créditos, entregará o relatório final.
O Badesul tem contabilizado prejuízos desde 2015 e a análise de quem acompanha o dia a dia do banco é de isso é resultado da realidade financeira do País e do perfil da carteira do banco nos últimos tempos, com a liberação de altos montantes para poucas empresas. Isso aumentou muito os riscos e a exposição. Além da Iesa e da Wind Power, cerca de outras 25 empresas para as quais o Badesul concedeu créditos entraram em recuperação judicial recentemente, como a Guerra e a Intecnial. Nessa entrevista ao Jornal do Comércio, Lopes reafirma o que tem dito a essas instituições: que tudo foi feito dentro das regras. “Tenho a consciência tranquila, mas não dá para negar que essa situação é ruim e abala quem está por perto, como familiares e amigos”, admite. 
Jornal do Comércio – A sua gestão à frente do Badesul foi agressiva demais?
Marcelo Lopes – A missão do Badesul é promover o desenvolvimento, mas sempre preservamos as regras. Quando se analisa o resultado do banco, não dá para abstrair que, em 2011, 2012 e 2013, tivemos um crescimento significativo da oferta crédito no País. Pela primeira vez, o Rio Grande do Sul tinha uma política industrial articulada, e nós procuramos, por meio do sistema financeiro gaúcho, potencializar isso. De 2011 a 2014, a nossa carteira passou de R$ 1,5 bilhão para R$ 3,6 bilhões. Os ativos totais foram de R$ 1,9 bilhão para R$ 4,2 bilhões, aumento de 112%. Ao mesmo tempo, o patrimônio líquido teve sucessivas capitalizações e aumentou de R$ 502 milhões em 2010 para R$ 776 milhões em 2014 – a partir de aportes do governo do Estado ao Badesul ou financiamentos que obteve junto ao Bndes. Os recursos próprios do Badesul aplicados em LFT, que são letras do Tesouro, passou de R$ 431 milhões em 2010 para R$ 650 milhões. É um colchão de liquidez que se mantém com recursos próprios aplicados em títulos. A receita do Badesul cresceu para manter a operação, o que mostra que era uma política articulada, planejada e responsável. Não operamos fora dos padrões.
JC – O spread de 2,7% ao ano não reduziu muito a rentabilidade do banco?
Lopes – No financiamento de longo prazo, a decisão sobre os spreads ou é regulada pelo Bndes ou definida através da competição no mercado. Este cenário é completamente diferente daquele dos bancos comerciais, em que somente as taxas pagam a despesa (taxa de manutenção da conta corrente, taxa por extrato etc.). Além disso, os bancos comerciais têm receita com cartões de crédito e chegam a cobrar 2,5% ao mês (não ao ano) nos financiamentos de capital de giro. As instituições de fomento, como o Badesul, trabalham com longo prazo e deveriam ser avaliadas diferentemente de um banco comercial. Claro que isso não significa ter prejuízo, mas também não dá para ter grandes lucros.
JC – Houve alguma imprudência na concessão de crédito para as Iesa e a Wind Power, que depois acabaram entrando em recuperação judicial?
Lopes – Não. Tudo passou por uma análise de equipe técnica e pelos comitês de crédito e do Conselho de Administração. Inclusive, o Badesul não foi descredenciado do Bndes, como chegou a se falar. Depois que dá errado, é fácil falar, mas existia um contexto que não pode ser desconsiderado e que nos levou a conceder esses recursos. No caso da Iesa, o polo naval de Rio Grande estava consolidado, e exista um trabalho forte da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) para estimular a criação de um segundo polo naval. De três a quatro empresas tinham manifestado interesse em se instalar no Polo do Jacuí, com a perspectiva de geração de aproximadamente 5 mil empregos. A Iesa havia firmado contrato com Petrobras de US$ 700 milhões. Não era apenas conversa, eram contratos. Já a Wind Power (fabricante de aerogeradores) vivenciava o processo da entrada na Eletrosul. Se materializou ali a possibilidade de criação de um cluster eólico no Rio Grande do Sul. A Impsa, controladora, tinha uma planta em Pernambuco financiada pelo Bndes e projetos para o Estado com boas perspectivas. Vale destacar que a Impsa não é uma aventureira, é a maior empresa metalmecânica da Argentina, com mais de 100 anos, e o segundo maior investimento argentino no Brasil. Esse contexto está sendo abstraído, mas a verdade é que não concedemos crédito para uma empresa qualquer.
JC – Então qual a razão dos questionamentos do Banco Central?
Lopes – A discussão é sobre as garantias. O Banco Central abriu uma auditoria em 2014, pediu explicações e está apurando. Foram duas operações em um total de 4 mil que fizemos no período; R$ 90 milhões sendo questionados em um total de R$ 4,4 bilhões concedidos. Claro que são valores significativos e que qualquer instituição financeira tem problemas. Quando uma empresa entra em recuperação judicial, cessa a possibilidade de o banco cobrar, é preciso provisionar a operação, mas não é uma perda ainda para a instituição, pois a companhia ainda pode ser recuperada ou vendida.
JC – Como o Badesul procurou se prevenir no momento do acordo com essas empresas e quais as perspectivas de retorno desses R$ 90 milhões?
Lopes – Primeiro que, naquela época, o cenário de concessão do crédito era de crescimento, e não das empresas entrando em recuperação judicial. No caso Inepar, controladora da Iesa, foi publicado no site um documento, de 1 de maio de 2015, que trata da recuperação judicial das empresas do grupo. Consta ali que o saldo devedor deverá ser quitado com parte dos recursos da alienação da unidade de Charqueadas (avaliada em R$ 88,5 milhões). É uma garantia já aprovada pelo juiz. No caso da Wind Power, a gente tinha como garantia principal os recebíveis de Eletrosul, mas, como a empresa não performou o contrato dos parques eólicos, isso perdeu efetividade. Tivemos todos os cuidados no momento da assinatura do contrato, tanto que o documento previa que, se o recebível perdesse eficácia, eles deveriam oferecer novos. Começamos a pressionar e, como isso não aconteceu, entramos com um pedido de falência da Impsa no dia 21 de agosto de 2014. Com isso, fizemos eles virem para a mesa de negociação e conseguimos pegar o terreno onde eles iam se instalar em Guaíba, que já foi leiloado por R$ 4,1 milhões. Isso é parte do pagamento que voltou. A Impsa ainda não teve aprovação de plano, eles estão negociando com os credores e, em algum momento, isso virá.
JC – O quão estratégico é o Badesul para o Estado?
Lopes – O Badesul tem um papel crucial. Estruturas como a do banco são fundamentais para dar suporte ao desenvolvimento do Estado. E foi isso que buscamos fazer. O problema é que, como normalmente acontece no Brasil, não se faz um filtro das coisas positivas. Destinamos R$ 1,6 bilhão para a modernização do agronegócio. Conseguimos agregar inovação na operação do Badesul. Criamos uma Diretoria de Participações e Inovação, que estimulou a criação do CRP Empreendedor, que, por exemplo, entrou no capital da Cliever, fabricante de impressoras 3D e outras startups. Trouxemos o Criatec para o Estado. Aí se pega duas operações de crédito pelas quais o BC pediu explicações (e cujo julgamento não está concluído), e resume todo nosso trabalho a isso.

Badesul aguarda para dezembro decisão do Bndes

A diretoria do Badesul aguarda para dezembro uma decisão do Bndes sobre o projeto de reestruturação do banco, apresentado no dia 18 de novembro. A medida foi necessária depois que o Badesul depois que teve o seu rating rebaixado a zero, o que significa nenhum limite para novas operações junto ao Bndes. "Pleiteamos uma medida excepcional para esse último semestre do ano. O Bndes concordou em voltar ao rating de 2,2 desde que o banco apresentasse um plano de reestruturação", conta a presidente da instituição, Susana Kakuta.
Entre as medidas que foram apresentadas está a mudança no perfil da carteira, que deverá passar a diversificar a oferta de crédito, concedendo montantes maiores e para um maior número de operações.
Todo mês de setembro o Bndes reavalia o rating das suas instituições credenciadas. Em 2015, reduziu de 6,3 para 2,2 a nota do Badesul. Nesse ano, depois de constatar que nos últimos cinco semestre, em três o banco teve prejuízo, o rating foi rebaixado para zero.