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Entrevista

- Publicada em 18 de Novembro de 2016 às 16:16

Flávio Zílio, amor pelo universo do vinho

Desafios são direcionar esforços na elaboração e comercialização de produtos ícones com acréscimo de qualidade, diz Zílio

Desafios são direcionar esforços na elaboração e comercialização de produtos ícones com acréscimo de qualidade, diz Zílio


FERNANDO ZANCHETTI/DIVULGAÇÃO/JC
Escolhido o Enólogo do Ano 2016, Flávio Zílio comenta sobre os desafios e os prazeres de ter o trabalho relacionado a sua bebida favorita.
Escolhido o Enólogo do Ano 2016, Flávio Zílio comenta sobre os desafios e os prazeres de ter o trabalho relacionado a sua bebida favorita.
Passar o dia provando diferentes vinhos é a rotina de Flávio Zílio há 27 anos. Ele é enólogo-chefe da Cooperativa Vinícola Aurora, à qual chegou em 1993 e teve papel fundamental na evolução de vinhos que conquistaram medalhas mundo afora. Nascido em Muçum, no Vale do Taquari, Zílio se formou tecnólogo em Viticultura e Enologia, e se aperfeiçoou em cursos no Brasil e no Exterior, onde conheceu todo o processo de fabricação de vinhos em países da Europa e da América do Sul.
A profissão na qual deu os primeiros passos pensando que se trataria de uma fonte de renda não tardou a surpreendê-lo com um universo fantástico de bebidas que acabaram se incorporando a toda sua vida. Hoje, suas melhores lembranças estão relacionadas ao vinho, e não dispensa uma taça - ou até duas - a cada refeição. Aos 52 anos, Zílio foi o 13º profissional a ser reconhecido como Enólogo do Ano, no final de outubro, em votação entre os associados da Associação Brasileira de Enologia (ABE).
Como premiação, recebeu uma viagem para visitar uma feira do setor para atualizar seus conhecimentos em viticultura, além do novo troféu, completamente reestilizado.
Como foi a sua trajetória até conquistar o reconhecimento de Enólogo do Ano?
Em 1985, entrei na Escola Agrotécnica Federal para cursar o técnico em Enologia, em Bento Gonçalves. Me formei em 1988 e comecei a fazer estágio na Santa Colina (atualmente, Nova Aliança), em Santana do Livramento). De 1989 a 1992, trabalhei com viticultura na cidade de Marialva, no Norte do Paraná. Depois, voltei ao Rio Grande do Sul para trabalhar na Cooperativa Tamandaré. Em 1993, vim para a Vinícola Aurora, onde entrei como técnico em enologia e estou até hoje. Em 2000, me formei no curso de tecnólogo em Enologia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Além disso, visitei Itália, França, Espanha, Portugal, Argentina e Chile para conhecer todo o processo de produção do vinho, desde a plantação da uva até o envase. É um conhecimento importante para o nosso trabalho, pois, às vezes, no dia a dia , podemos não enxergar coisas importantes, e visitar lugares como esses melhora a nossa forma de ver as coisas. Além disso, regiões como a do Douro, em Portugal, e do Trento, na Itália, me marcaram pelo vinho, pela beleza e pelo trabalho humano.
Passar o dia provando vinhos é o sonho de consumo de muitos amantes desta bebida. Quais são os desafios e como se destacar na profissão de enólogo?
Os desafios são fazer sempre melhor a cada dia. É difícil, pois, quando se fala de qualidade de vinho, vários fatores interferem, como o clima, o solo e o homem. Para alcançar o destaque, é necessário conhecimento e uma pitada de intuição. Mas o vinho é o protagonista, e me sinto privilegiado por viver o mundo dessa bebida forte e prazerosa que esteve presente ao longo da história humana.
De todas as fases da elaboração do vinho, qual é, para você, a mais fascinante?
A elaboração do vinho não se dá em uma única fase, portanto todas elas têm sua importância, é claro, que o momento mágico é quando se degusta o vinho antes do envase e se verifica que o produto apresenta excelente qualidade. Todas as etapas têm de chegar no seu auge para ter um resultado positivo no final.
Como tu percebes a evolução da cultura do vinho no Rio Grande do Sul? Há mudanças nos hábitos de consumo nos últimos anos?
Vejo a evolução da vitivinicultura de forma muito crescente, tanto no consumo como no conhecimento amplo de muitos tipos de vinhos (tranquilos, espumantes etc). Os hábitos de consumo têm se mostrado diferentes, principalmente o aumento no consumo de espumantes, que prova a excelente qualidade dos espumantes elaborados na Serra Gaúcha.
O ano de 2016 ficou abaixo das expectativas do setor devido à safra ter sido prejudicada pelo tempo no Estado. Como está sendo planejada a retomada em 2017?
Se espera que a vindima de 2017 seja de boa qualidade e quantidade normal, pois uma safra de pouca quantidade quase sempre é sucedida por uma de média a alta quantidade.
Quais são os desafios da vitivinicultura gaúcha?
Nossos desafios são direcionar esforços na elaboração e comercialização de produtos-ícones (espumantes vinhos e sucos) sempre com acréscimo de qualidade, pois o consumidor está cada vez mais exigente.
Como o Brasil está posicionado em relação à qualidade do vinho produzido no País? Como vês a qualidade, a diversidade e as principais estratégias do setor para concorrer com os importados?
O aumento da qualidade de todos os produtos produzidos no País é claramente percebido pelo consumidor e evidenciado em concursos nacionais e internacionais. Os produtos respeitam o terroir de cada região, como por exemplo Serra Gaúcha, Campanha, Vale do São Francisco, Campos de Cima da Serra etc. Sem dúvida devemos continuar com esforços em marketing e propaganda, sempre amparados pela qualidade crescente de nossos produtos.
Qual é o teu ideal de um bom vinho?
O vinho ideal é bastante subjetivo. Em primeiro lugar, o vinho não deve apresentar defeitos. Em seguida, levo em conta a companhia, a gastronomia, o clima e o local onde será consumido o produto. Com certeza, tenho lembranças muito positivas de diferentes estilos de vinhos. Esta diferença é que faz o mundo do vinho tão fascinante.
E quais são os seus vinhos favoritos?
Provei muitos vinhos na minha vida e tenho boas lembranças associadas a eles. O vinho de cada local mostra a força que essa bebida tem, e não só pela qualidade e origem, mas por tudo que ele representa, tornando-o uma bebida diferente das demais. Quando chego em uma região vitivinícola, gosto de provar seus vinhos. Escolher um vinho é difícil, mas minha preferência é por espumante, a melhor bebida que o homem criou ou descobriu. Ele tem a magia de alegrar a vida das pessoas: duas taças de espumante não resolvem um problema, mas o amenizam. E a bebida que tem esse poder tem de ser muito respeitada. E depois, gosto do vinho branco, seguido dos demais. O vinho para mim não é só profissão, é amor, está presente em minha vida como um todo. Não abro mão do prazer de uma taça durante as refeições - ou, de vez em quando, até duas.
Há alguma tendência em vitivinicultura que deve se consolidar nos próximos anos?
Acredito que haverá um crescimento no consumo de espumantes brasileiro, que consequentemente levará ao aumento no cultivo de castas brancas, como por exemplo a variedade Chardonnay. Outra tendência é o crescimento no consumo de suco de uva, demandando mais uvas americanas e híbridas com características de cor e brix elevados.

Enólogos do ano

  • 2004 – Antônio Czarnobay
  • 2005 – Gilberto Pedrucci
  • 2006 – Firmino Splendor
  • 2007 – Adriano Miolo
  • 2008 – Ismar Pasini
  • 2009 – Nauro José Morbini
  • 2010 – Lucindo Copat
  • 2011 – Daniel Dalla Valle
  • 2012 – Dirceu Scottá
  • 2013 – Juliano Perin
  • 2014 – Delto Garibaldi
  • 2015 – Christian Bernardi
  • 2016 – Flávio Zílio